Economia

Maior cliente da Embraer anuncia substituição de frota por aviões da Airbus

Derrota sublinha a posição frágil da Embraer no negócio dos jatos regionais, que caminha para o duopólio

Geraldo Samor, Mariana Barbosa
postado em 12/07/2018 06:00
A cada 10 jatos regionais em operação, seis saem do Brasil, e o mercado vai demandar 7 mil aeronavesO maior cliente da Embraer anunciou que vai substituir toda sua frota de E190s pelos A220-300 da Airbus, empresa francesa líder no mercado da aviação comercial ;derrota que sublinha a posição frágil da companhia brasileira no negócio dos jatos regionais, que caminha para o duopólio. A ordem, que foi anunciada pela JetBlue depois do fechamento do mercado, totaliza 60 jatos avaliados em US$ 5,4 bilhões, e mostra que a Airbus está atacando clientes da concorrente tupiniquim em momento de indefinições na Embraer.

Os primeiros cinco aviões do modelo A220-300 serão entregues até 2020, quando a frota E190 da empresa começará a ser gradualmente aposentada, em um processo que deve durar até 2025. A JetBlue terá opções para outras 55 unidades. A programação é de entrega de 24 aeronaves do modelo E190s em 2020 (10), 2021 (7) e 2022 (7). Com o anúncio desta semana, analistas do Bradesco estimam que a JetBlue provavelmente cancelará este pedido, reduzindo os pedidos confirmados da Embraer em 6%.

A Embraer também havia recebido encomendas da AirCosta para 50 aeronaves da família E2, mas a empresa indiana faliu. Somando-se a perda da JetBlue e da AirCosta, o Bradesco estima que os pedidos confirmados da Embraer cairão em até 23%. ;O evento desta quarta-feira mostra que o poder de barganha nas negociações para criar a joint-venture na aviação comercial está se inclinando em direção à Boeing e não à Embraer, diminuindo a possibilidade de renegociação material dos termos do acordo,; escreveu o analista do Bradesco Victor Mizusaki em nota a clientes. Ele manteve seu preço-alvo para as ações da Embraer em US$ 31, e uma recomendação neutra.

Airbus e Bombardier

Paralelamente à decisão da JetBlue de trocar a Embraer pela Airbus, a companhia francesa está anunciando um ;rebranding; dos jatos regionais CSeries da Bombardier: agora eles se chamam A220, adotando a nomenclatura característica da fabricante europeia.

Até o fim do ano, a Airbus planeja assegurar 100 novas encomendas dos jatos regionais. O anúncio da empresa francesa ; feito na terça-feira em Toulouse ; mostra que enquanto Boeing e Embraer estão apenas começando a discutir os detalhes de sua joint-venture, a concorrência se apressa para ganhar participação de mercado.

Desde o lançamento do programa, em 2009, os dois jatos da família A220 contam com 402 pedidos. Para efeito de comparação, desde que lançou o programa E2 e começou a aceitar pedidos, em 2013, a Embraer vendeu 180 unidades dos modelos E190-E2 e E195-E2, além de firmar contratos de opção de compra de mais 187 unidades. Esses são os modelos que brigam de frente com o A220-100 e A220-300 na categoria até 150 assentos. A Embraer tem ainda mais 200 pedidos ; entre firmes e opções ; para o jato E175-E2.

A Airbus, que pagou preço simbólico (US$ 1) para adquirir o programa CSeries, tampouco precisará investir em fábricas para ampliar a produção, hoje centrada em Quebec, no Canadá. Parte dos jatos sairão da fábrica da Airbus no Alabama, nos Estados Unidos.

Para os próximos 20 anos, a Airbus quer abocanhar metade do mercado de jatos regionais, hoje dominado pela Embraer: de cada 10 jatos regionais em operação, seis são fabricados no Brasil. Pelas contas da Airbus, 7 mil jatos de até 150 lugares devem ser vendidos nos próximos 20 anos.

A Airbus adquiriu 50,01% da família CSeries da Bombardier em outubro do ano passado, livre de dívidas. A Embraer, por sua vez, ainda não informou ao mercado qual parte de sua dívida será transferida à joint-venture com a Boeing, dificultando a tentativa dos investidores de avaliar a empresa.

A operação da Airbus com a Bombardier evitou o fracasso do projeto CSeries, que custou mais de US$ 5 bilhões, US$ 2 bilhões a mais que o previsto. Na época da associação com a Airbus, a Bombardier devia quase US$ 9 bilhões, dependendo de subsídios do governo canadense para sobreviver.

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