Economia

Número de consumidores inadimplentes chega à 63,6 milhões

Na comparação do mês de junho deste ano com o mesmo período do ano passado, o crescimento foi de 4,07%, segundo o SPC. Especialistas creditam a alta ao aumento no número de desempregados no país

Bruno Santa Rita*
postado em 16/07/2018 21:50
Lucineide diz que a maior parte de suas dívidas vem do cartão de crédito
Pagar as contas é uma questão cada vez mais difícil na vida do brasileiro. Segundo dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), 63,6 milhões de consumidores estiveram inadimplentes no primeiro semestre de 2018. Na comparação do mês de junho deste ano com o mesmo período do ano passado, o crescimento foi de 4,07%. É a nona alta consecutiva na série histórica do indicador. Segundo especialistas, o desemprego é o fator que puxa a alta taxa no país.

[SAIBAMAIS] A economista chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, acredita que a situação seja um reflexo da última recessão econômica vivida pelo país. Segundo ela, a crise afetou a atividade comercial e industrial o que, consequentemente, influencia na empregabilidade. "O desemprego estacionou em um patamar muito alto. O orçamento restrito do brasileiro dificulta que ele pague as dívidas;, explicou.

Marcela projeta que a situação deve continuar. Já era esperado pelos economistas uma recuperação lenta, além de fatores como a eleição, que prejudicam ainda mais as especulações dos empresários sobre a economia do país. "Os empresários têm muita incerteza e retiram os investimentos. Pelo menos até outubro, por causa das eleição;, comentou. Ela aponta que o ano de 2019 também pode ser complicado, a depender de quem for eleito para Presidente da República.

Faixa etária


O número de atrasos entre a população de idade mais elevada é a que mais aumenta, enquanto na dos jovens é a que mais diminui. Na faixa etária de 65 até os 84 anos, o aumento foi de 10,76%, enquanto para os jovens de 18 a 24 anos, houve queda de -23,31%. Segundo Marcela, isso acontece devido a dois fatores. O primeiro é a lenta maturação dos jovens. "As pessoas demoram mais para assumir a responsabilidade da vida adulta. Com menos compromissos financeiros, menos inadimplentes elas ficam", informou.

Na outra mão, os idosos sofrem mais devido à má preparação para a aposentadoria. Marcela explica que, muitas vezes, em idades elevadas, os planos são voltados para o consumo. "As pessoas têm mais vontade de consumir no momento que o padrão de vida cai. Além disso, há uma oferta de crédito muito grande para esse público", explicou.

Segundo o professor do departamento de economia da Universidade de Brasília (UnB), José Matias-Pereira, é importante abrir os olhos para o número de inadimplentes nesse semestre. "É um número significativo se comparado com a população economicamente ativa do Brasil", comentou. Ele explica que as famílias entraram em processo de descontrole após a crise econômica. "É como se fosse um redemoinho que se agravou ainda mais", analisou.

Para ele, a solução é a reorganização da economia. "Precisa-se implantar reformas e fazer com que a economia volte a crescer de forma sustentável", informou. Com essas medidas tomadas, o professor espera que o desemprego diminua e, como consequência, as taxas de inadimplência também. "Isso é uma das grandes tarefas para o próximo presidente", apontou.

O garçom Expedito de Sousa Costa, de 48 anos, admite que sente mais dificuldade para pagar as dívidas atualmente. Ele acredita que a moeda brasileira, o real, está desvalorizado. "A inflação não está ajudando. O nosso dinheiro está valendo cada vez menos", reclamou. Hoje, ele deve as contas mais básicas como luz e água. Segundo ele, a situação ainda continuará difícil nos próximos meses. "É difícil de negociar. Moro com dois filhos e minha esposa. Vou continuar devendo mais um pouco", compartilhou.

Lucineide Silva, de 52 anos, é encarregada de serviços gerais em uma empresa particular de Brasília. Ela conta que trabalha com cerca de 70 funcionários e, naturalmente, ouve reclamações de dívidas por parte deles. "Eu vejo muitos reclamando que o salário mal entra na conta e já acaba", contou. Ela também vê a situação das dívidas cada vez mais difícil. "Eu tenho dívidas pequenas, que vou conseguir pagar, mas tá cada vez mais difícil para o povo", disse. Lucineide admite que a maior parte de suas dívidas vem do cartão de crédito.
*Estagiário sob supervisão de Anderson Costolli

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