Economia

Startups brasileiras estão entre as mais inovadoras do mundo

Duas startups brasileiras são escolhidas pelo Fórum Econômico Mundial para participar de um dos mais importantes programas globais de incentivo à tecnologia

Lino Rodrigues
postado em 18/07/2018 06:00
Mariana Vasconcelos, CEO da Agrosmart:
São Paulo ; A partir de setembro, duas startups brasileiras, a Agrosmart, que desenvolve tecnologias para o agronegócio, e a PlataformaVerde, voltada para o gerenciamento de resíduos sólidos, passam a fazer parte de um seleto grupo de empresas. As agritechs nacionais foram escolhidas pelo Fórum Econômico Mundial para integrar o Centro de Inovação e Empreendedorismo da entidade por um período de dois anos. Não se trata de um prêmio qualquer. Já passaram pelo programa empresas como Google, Airbnb, Mozilla, Spotify, Twitter e Wikimedia, gigantes que se tornaram referência no mundo da tecnologia.

Os chamados ;Pioneiros Tecnológicos; de 2018, que serão apresentados no ;Summer Davos;, evento programado para 18 a 20 de setembro, em Tianjin, na China, são mais diversificados que nas outras edições, tanto geograficamente quanto em termos de gênero. Neste ano, 23% das startups selecionadas são lideradas por mulheres e a maioria vem de regiões fora dos Estados Unidos e do Vale do Silício. Isso demonstra que existe uma preocupação do Fórum em mostrar a evolução que também está acontecendo fora dos locais mais conhecidos como produtores de tecnologia de ponta.

[SAIBAMAIS]Também houve uma diversificação maior em termos de aplicação das tecnologias, com ênfase especial na indústria 4.0, além de inteligência artificial, Big Data, Internet das Coisas (IoT), agricultura vertical e digital, robótica, segurança cibernética e veículos autônomos, entre outras inovações que estão ganhando espaço na sociedade.

No caso da Agrosmart, liderada por uma jovem mineira de 27 anos, Mariana Vasconcelos, o diferencial está na criação e desenvolvimento de uma plataforma digital que está trazendo para a agricultura o conceito de cultivo inteligente e fazendas conectadas. Por meio dessa tecnologia, é possível monitorar em tempo real, e utilizando qualquer dispositivo móvel, mais de 14 variações ambientais, o que acaba ajudando o agricultor a tomar a melhor decisão e ser mais resiliente às mudanças climáticas. ;Desenvolvemos um modelo agronômico customizado que é uma combinação de genética, clima e solo;, diz a CEO da empresa. ;Baseados nesses fatores, ajudamos o produtor a tomar decisões.;

Para criar a empresa em 2013, Mariana, que é formada em administração de empresas e tem MBA em agronegócios na Esalq, a faculdade de agronomia da USP, se inspirou nas dificuldades que os pais enfrentavam para gerenciar uma pequena propriedade rural em Itajubá, no interior de Minas Gerais. Junto com o sócio Raphael Rizzi, começou a desenvolver a plataforma e o aplicativo para monitorar, por meio de vários sensores espalhados pelo terreno, as variações ambientais da região. Com essas informações, é possível montar um histórico on-line das situações climáticas (chuva, temperatura, umidade, vento) da fazenda para que o produtor possa tomar as decisões mais acertadas na hora de plantar e de colher.

Chicko Sousa, CEO e fundador da PlataformaVerde: Em 2015, um ano depois da fundação da empresa, a plataforma da Agrosmart estava completa e produzindo relatórios com as principais informações da propriedade. Por meio dos sensores e das imagens de satélite, foi possível interpretar, em tempo real, as necessidades da planta cultivada em relação à quantidade ideal de irrigação, além de indicações sobre a propensão de pragas e doenças que ameaçam a lavoura.

Entre 2014 e 2017, a startup captou R$ 10 milhões em investimentos. Boa parte dessa quantia veio de aportes da SP Venture e grupos de investidores, o que acelerou o crescimento de suas receitas. Em 2017, o faturamento da empresa aumentou 1.043% em relação a 2016, e o número de colaboradores saiu de 12 para 50.

Resíduos


A PlataformaVerde vive momento semelhante. A empresa levou quatro anos para aprimorar seu sistema, que utiliza conceitos de tecnologia disruptiva para a gestão de resíduos sólidos em empresas comerciais e industriais, com estruturas baseadas em internet das coisas, inteligência artificial, computação em nuvem e blockchain.

Em janeiro do ano passado, a empresa iniciou as operações. Em menos de um ano de atividades, contava com mais de 1,3 mil empresas ativas em seu portfólio. Todos os módulos da plataforma digital não necessitam de instalação. Com apenas um acesso à internet é possível executar os serviços e fazer a gestão dos resíduos gerados. Tudo a um clique de distância, de qualquer lugar e dispositivo com conexão à rede de computadores.

;É muito gratificante ser reconhecido e colocar o Brasil entre os selecionados pelo Fórum Econômico Mundial;, diz o engenheiro Chicko Sousa, CEO e fundador da PlataformaVerde. ;O sucesso da plataforma fez com que países como Estados Unidos, China e Índia nos procurassem para aplicar o conceito. Isso prova que criamos uma tecnologia que pode realmente resolver um grave problema mundial: a forma como as empresas e cidades fazem a gestão de seus resíduos.;

A tecnologia da Agrosmart também está espalhada pelo Brasil e países da América Latina. Hoje, com um total de170 mil hectares monitorados, a plataforma é utilizada em projetos especiais de grandes corporações para o acompanhamento de cadeias de produção. Apesar de já atuar em algumas fazendas fora do Brasil, e com uma filial nos Estados Unidos, a empresa está focada agora na maior internacionalização de seus produtos. Para isso, prepara-se para uma nova rodada com investidores nacionais e internacionais. ;Queremos ganhar escala no Brasil e partir para outros mercados fora do país;, diz Mariana, que embarcou no último domingo para os Estados Unidos para iniciar as conversas com potenciais investidores.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação