Economia

Após desclassificação da Seleção masculina, Marta brilha em anúncios

Atacante foi a única representante do futebol a aparecer em anúncios no último dia do Mundial da Rússia

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 19/07/2018 06:00

Avon avança nos gramados - A Avon é mais conhecida no patrocínio de eventos de corrida de rua, mas, no ano passado,  também partiu para o futebol ao apoiar a equipe feminina do Audax, campeão do Brasileirão Feminino 2016. Agora, além da escolha de Marta para sua nova campanha (foto), anunciou o patrocínio do time feminino do Clube de Regatas do Flamengo, no Rio de Janeiro, por meio do Instituto Avon, braço de investimento social da marca.São Paulo ; No domingo, dia do encerramento da Copa do Mundo da Rússia, não tinha Seleção Brasileira em campo ou na TV. Anúncios com Neymar, Tite, Paulinho e Gabriel Jesus desapareceram desde a desclassificação do país no jogo contra a Bélgica. Foi justamente nesse dia que estreou um outro destaque dentro das quatro linhas, atropelou a equipe do Brasil na reta final e protagonizou o comercial da multinacional Avon.

A atacante Marta Vieira da Silva, que atualmente joga no Orlando Pride e disputa a NWSL (liga nacional de futebol feminino americana), está no ar com a campanha da multinacional americana para o lançamento de uma máscara para cílios. Também estão no vídeo, mas com menor destaque, a atriz Paolla Oliveira, garota-propaganda da marca, e Rosa Luz, ativista trans.

Marta é a atleta com maior reconhecimento internacional no futebol feminino e foi eleita cinco vezes como a melhor jogadora do mundo. Em 2010, foi a primeira esportista brasileira a ser embaixadora da Organização das Nações Unidas (ONU) para trabalhar no combate à pobreza. No último dia 12, a atacante foi anunciada pelo organismo multilateral como a embaixadora da Boa Vontade para mulheres e meninas no esporte. Em 2019, na Copa do Mundo de futebol feminino, Marta poderá ser a maior artilheira de todos os tempos, entre homens e mulheres, o que confirma o potencial da sua imagem.

Como lembra Pedro Trengrouse, coordenador acadêmico da FGV e consultor da ONU para a Copa do Mundo Fifa 2014, a atacante tem mais afinidade com os produtos da Avon do que os atletas, já que seu público-alvo são as mulheres. ;A mobilização do Brasil em torno do futebol durante a Copa pode ter contribuído para que a marca procurasse alguém ligado a esse esporte. Mas vale lembrar que se o Brasil tivesse chegado à final, talvez a atenção dos consumidores estivesse voltada para o título e essa campanha perderia espaço;, avalia.

Mas, ao lançar a campanha com Marta, a Avon não pegou carona apenas no evento esportivo, mas também em um dos temas mais discutidos, principalmente em redes sociais, nos últimos anos: a igualdade de gênero. Na época da estreia, Juliana Barros, diretora executiva de marketing da Avon no Brasil, disse que o lançamento do produto vai além das questões tecnológicas e propõe a valorização feminina nas diferentes áreas de atuação. ;Ao falar sobre o olhar, a Avon convida o público a participar do movimento #ImpossívelNãoTeNotar: um convite para todos nós darmos mais atenção e focar nosso olhar no poder da mulher e na visibilidade que ela merece ter, em todas as áreas em que atua.;

Nos últimos meses, Tite disputou com Neymar o título de quem mais vendeu produtos e serviços. A super-exposição começou meses antes do Mundial da Rússia. O técnico foi garoto-propaganda de quatro marcas: Itaú, Samsung, Uninassau e Cimed. O jogador do PSG anunciou de tudo um pouco: aparelho de barbear, cerveja, café, companhia aérea e fast-food. Com a desclassificação do Brasil, não se viu mais nenhum dos dois protagonizando campanhas.

Bagaço

Para Amir Somoggi, sócio da Sports Value Marketing, faltou aos patrocinadores de Tite e Neymar a avaliação de que as marcas devem apoiar os atletas também nas derrotas. ;No esporte, o que fica é a paixão, seja na derrota ou na vitória. Para quem acredita no marketing esportivo, essa deveria ser uma regra. Esse tipo de comportamento que vimos agora passa a impressão de que os patrocinadores só querem saber da laranja. Depois, jogam fora o bagaço;, critica o especialista.

Trengrouse, da FGV, também avalia que faltou senso de oportunidade aos anunciantes após a desclassificação do Brasil. ;Neymar, por exemplo, que virou comentário no mundo todo por conta dos seus tombos, poderia ter sido contratado para fazer anúncio da Gelol, que tem o slogan ;caiu, passa Gelol;;, diz.

No caso de Neymar, bastará um bom desempenho no PSG para ficar de bem novamente com a torcida e os anunciantes ; vale lembrar que nenhum de seus patrocinadores rompeu o contrato depois da Copa. Já para Tite, essa retomada pode ser mais lenta, acredita Somoggi. ;Ele foi campeão pelo Corinthians, mas não ganhou tantos títulos relevantes. Mas colocaram na cabeça das pessoas que ele era o melhor do mundo, o que não se confirmou. Por isso, deve levar um tempo até que Tite volte a ser requisitado;, acredita o consultor.

Alvo de duras críticas na Copa, Neymar protesta após cair ao lado do goleiro belga Thibaut Courtois na partida que eliminou o Brasil

Filme queimado

Durante a Copa, Neymar teve problemas com sua imagem ao não conseguir administrar o temperamento explosivo e levar para os campos russos um hábito que vem desde os tempos da Vila Belmiro: as quedas, muitas delas consideradas simulação. Acabou virando piada em vários cantos do mundo, principalmente graças ao poder de propagação das redes sociais.

;Neymar é um jogador brilhante, mas virou motivo de chacota nacional e mundial. Isso vai passar, até porque ele está em um grande clube e agora terá a oportunidade de brilhar sozinho, não mais ao lado de Messi. Mas será preciso adaptar esse estilo. O futebol tem esse tipo de volatilidade, então, assim que ele começar a fazer gols, isso será esquecido;, aponta Somoggi.

Para tentar lustrar novamente a imagem do jogador do PSG, Neymar da Silva Santos, seu pai, que também administra sua carreira, estaria em busca de um profissional que teria a missão de recuperar possíveis estragos feitos durante a Copa. ;No caso de um jogador como Neymar, essa decisão deveria ter sido tomada antes;, diz o sócio da Sports Value Marketing.

Um primeiro ensaio dessa tentativa de reconstrução de imagem do jogador mais caro da história do futebol ; o PSG pagou 22 milhões de euros ; ocorre nesta quinta-feira. O Instituto Neymar Jr. fará um grande leilão beneficente, com objetos pessoais do atleta, para arrecadar recursos para instituições de caridade na Baixada Santista. Espera-se que seja a primeira vez que o jogador falará publicamente sobre sua performance na Rússia. Em outra frente, a ONG pretende ajudar pessoas em situação de vulnerabilidade por meio de atividades esportivas, educativas e sociais, com a criação de escolinhas de futebol. Tudo para tentar se levantar.

Os desafios da Copa no Catar

Até 2022, o Catar terá uma série de desafios pela frente. Questões políticas e religiosas estão entre os mais relevantes. O país, que participa da coalizão de nações contra o Estado Islâmico, sob a liderança dos Estados Unidos, é acusado por líderes xiitas do Iraque de dar apoio ao grupo extremista. Fala-se que donos de fortunas do emirado teriam feito doações e que o próprio governo teria dado suporte financeiro e armas a grupos islâmicos radicais da Síria. As relações do próximo país-sede da Copa incluiriam ainda o grupo sírio Frente al-Nusra, próximo à al-Qaeda, e a Irmandade Muçulmana, com ações em países como o Egito.

De maioria muçulmana, o Catar ainda terá de se acertar com a Fifa e os patrocinadores do Mundial sobre quão flexível o país será na questão do consumo do álcool. A Heineken, que esteve na Rússia, aguarda a evolução dessas negociações. Uma alternativa seria que as bebidas alcoólicas sejam liberadas para estrangeiros, mas até agora não há uma decisão final sobre o problema. A Anheuser-Busch Inbev, controladora da Ambev, tem contrato com a Fifa para patrocinar o Mundial da Rússia, onde a Budweiser foi a bebida oficial, e do Catar.

Também é difícil prever como as empresas patrocinadoras e os turistas vão adequar seus calendários à nova data da Copa ; de 21 de novembro a 18 de dezembro, perto do Natal. O ajuste na agenda ocorreu para fugir das altas temperaturas entre junho e julho.

Desembarcar no Catar com um evento esportivo como a Copa do Mundo terá ainda outros percalços. O país é pequeno, conta com uma população de 2,5 milhões de habitantes e uma área de pouco mais de 11 mil quilômetros quadrados. Se o número de turistas em 2022 for parecido com o que foi registrado na Rússia, de cerca de 700 mil pessoas, será um inchaço populacional que não se deve desprezar.

Soma-se a isso o fato de o país não ter atualmente uma rede hoteleira com o tamanho necessário para acomodar esses torcedores. Mas, diferentemente do que previam tanto a Fifa quanto os especialistas da área, a previsão é de que o Catar consiga deixar tudo pronto antes do início do Mundial, ao contrário da previsão para as duas Copas anteriores, da Rússia e do Brasil.

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