Economia

Brasileiros guardam R$ 1,4 bilhão em moedas em cofrinhos

Hábito de reter dinheiro metálico em cofrinhos cresce e é seguido por 25% da população, segundo pesquisa do BC. Uso de cartões para fazer compras aumenta, mas a maioria das pessoas ainda utiliza dinheiro em espécie

Antonio Temóteo, Gabriel Ponte*
postado em 20/07/2018 06:00
Adinete adquiriu uma máquina de pagamentos para não perder vendas a clientes que usam cartão

Um em cada quatro brasileiros tem o hábito de guardar as moedas em casa ou no trabalho, conforme a pesquisa O brasileiro e sua relação com o dinheiro, publicada ontem pelo Banco Central (BC). E as opções para armazenar as economias são variadas. Vão dos tradicionais cofrinhos, potes, latas abertas ou com tampas até gavetas, em casa ou no escritório. Estimativas do Departamento do Meio Circulante do BC apontam que há 8 bilhões de moedas entesouradas, com valor de R$ 1,4 bilhão.

O estudo mostrou que cresceu o número de pessoas que usam cofrinhos para economizar. A última pesquisa, publicada em 2013, apontou que um em cada cinco brasileiros guardavam moedas. Além disso, dos entrevistados em 2018, 20% mantém as moedas guardadas por mais de seis meses.

O chefe adjunto do Meio Circulante, Fábio Bollmann, disse ser positivo que a população use moedas como forma de poupança, mas orientou que sejam trocadas por cédulas, periodicamente. Em média, o BC gasta R$ 500 milhões por ano com a fabricação de moedas e dinheiro de papel. Estão em circulação no país 25,7 bilhões de moedas, que equivalem a R$ 6,6 bilhões. Mas o investimento na reposição das unidades metálicas não tem atendido à demanda do comércio.

Supermercados e padarias têm recorrido a ofertas e presentes para clientes que trocam moedas nos estabelecimentos. Gerente de um mercado no Distrito Federal, Matheus Rodrigues, 19 anos, reclamou da dificuldade para ter troco na loja. ;Quase todos os dias vamos aos bancos solicitar moedas, mas nem sempre nos atendem. É muito complicada a questão de troco, principalmente com moedas. Eu tenho um conhecido que, duas vezes por semana, traz moedas para o comércio;, afirma.

Os brasileiros também têm mudado a forma como pagam as compras ou boletos. A pesquisa do BC apontou que 96% dos entrevistados usam dinheiro em espécie. Em 2013, 100% dos participantes da pesquisa diziam que usavam cédulas ou moedas nas transações.

Segurança

Entretanto, o uso do papel-moeda como forma mais frequente de pagamento caiu de 78%, em 2013, para 60% das pessoas em 2018. Isso ocorreu porque cresceu o uso de cartões. A utilização de cartões de débito, que era preferida por 9%, em 2013, alcançou 22% dos pesquisados em 2018. Os cartões de crédito tinham a preferência de 12% no levantamento anterior, e de 15%, na última sondagem.

Parte dessa evolução está ligada à mudança na forma como são pagos os salários. Em 2010, 55% dos brasileiros recebiam a remuneração em dinheiro vivo. O percentual caiu para 51% em 2013 e para 28,6% em 2018. Por outro lado, mais pessoas passaram a receber por meio de depósitos em conta-corrente de instituições financeiras. Em 2010, 39% dos entrevistados usavam os bancos. Em 2013, eram 37% e em 2018, 48%.

Para a estudante Raiana Teixeira, 22 anos, a segurança é a principal justificativa para utilizar mais o cartão na hora das compras. ;Carregar dinheiro é muito perigoso. Além disso, é mais fácil o uso do cartão nas duas modalidades, débito e crédito;, explicou.

Os dados do BC mostram que 75,8% dos estabelecimentos comerciais aceitam pagamentos por meio dos cartões de débito, e 74,1% realizam vendas no crédito. Diante do crescimento das transações eletrônicas, Adinete Pereira, 45, vendedora de uma banca, adquiriu uma máquina de pagamentos para incrementar as vendas. ;Tive que encomendar minha maquininha, porque os consumidores utilizam muito o cartão. Antigamente, eu ficava no prejuízo. As pessoas queriam comprar, mas não podiam, e eu perdia a venda. Esse foi o principal fator para eu encomendar a máquina;, contou.

Com receio de se endividar por causa dos juros dos cartões, Laís prefere pagar tudo em dinheiro vivo

Cuidados

No entanto, há quem vá na contramão e ainda prefira usar dinheiro vivo na hora das compras, como Laís Mendes, 25, saladeira. ;Cartão envolve fatura, pagamento de tarifas e juros. Eu não tenho cartão. Quando é necessário, uso o do meu marido;, disse. E ela não pensa em ter um cartão próprio. ;Não tenho vontade. Essa questão do endividamento, para mim, é o pior. Quando você vê, já estourou a fatura. Para mim, tudo é no dinheiro mesmo.;

Comerciantes, entretanto, ainda sofrem com prejuízos porque, muitas vezes, recebem o pagamento em cédulas falsas. Dos entrevistados pelo BC, 47% declararam que já receberam notas falsificadas. Os dados da autoridade monetária mostram que o hábito de verificar a autenticidade do dinheiro está relacionado ao seu valor. Apenas 8,5% declararam verificar sempre as cédulas de R$ 2. Já para as notas de R$ 100, o percentual passa para 43,4%. Mesmo para papel-moeda de maior valor, o percentual dos entrevistados que nunca procuram saber a veracidade das cédulas chega a 39,2% para as de R$ 50 e a 37,7% para as de R$100.

Segundo o BC, entre a população, a marca-d;água é o item de segurança mais conhecido, seguida do fio de segurança e da textura da nota. No comércio, a textura ou espessura do papel foi o item mais utilizado para reconhecimento de notas verdadeiraS, com 48%, seguido pela marca d;água e o fio de segurança.

A pesquisa mostra que 23% dos entrevistados declararam já ter recebido uma cédula falsa, o que representa uma redução de 5 pontos percentuais em relação a 2013. Daqueles que receberam notas falsas, apenas 28,3% as entregaram para análise do BC.

* Estagiário sob supervisão de Odail Figueiredo

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