Lino Rodrigues
postado em 20/07/2018 06:00
São Paulo ; Desde que entrou em vigor, em agosto de 2010, a nova Política Nacional de Resíduos Sólidos, criada pela Lei n; 12.305, obriga as empresas de bens de consumo a destinar 22% das embalagens de seus produtos a agentes especializados. A legislação, porém, trouxe poucos resultados para a redução do volume de lixo nas cidades brasileiras.
Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), em 2016, o Brasil gerou 78,3 milhões de toneladas de resíduos sólidos, o chamado RSU, e coletou 91%. Do total coletado, apenas 3% foram reciclados. Pior: boa parte desse lixo, mais de 70%, foi parar em aterros sanitários sem controle, os lixões clandestinos. Em alguns países europeus, a taxa de reciclagem chega a 65%, como na Alemanha. Nos Estados Unidos, o índice é de 35%.
Pela lei brasileira, as empresas têm responsabilidade pelos produtos que podem se tornar resíduos sólidos e deveriam apresentar uma solução certificada no processo de licenciamento ambiental. Por enquanto, são poucas as que cumprem a legislação. Em São Paulo, uma iniciativa da Fiesp, entidade de classe que reúne as indústrias paulistas, em parceria com a Cetesb, a agência ambiental do estado, pode frear o avanço da geração de resíduos, que cresceu 28% entre 2010 e 2016.
Desde o início de junho, as indústrias que não se enquadrarem nos termos da Política Nacional de Resíduos Sólidos poderão ter suas renovações ou novas licenças ambientais negadas pelo órgão. A iniciativa da Fiesp e os esforços dos órgãos públicos em fazer valer a lei para reduzir o lixo estão servindo de incentivo para a criação de empresas de serviços que facilitam o processo de reciclagem de acordo com a nova regulamentação.
É o caso da New Hope Ecotech, startup que criou, em 2014, uma plataforma virtual para conectar as cooperativas de reciclagem com as companhias de bens de consumo que precisam cumprir a obrigação legal de destinar suas embalagens a agentes especializados. Nesse processo, também foi criado um aplicativo para melhorar a comunicação entre os catadores e as cooperativas cadastradas.
Atualmente, o sistema da New Hope Ecotech contempla 363 empresas que compram créditos de 25 cooperativas de catadores, a maior parte delas em São Paulo. Cerca de 75% da arrecadação é destinado às cooperativas e seus colaboradores. O selo está presente em empresas de 10 estados brasileiros, mas a meta é atingir todo o país, chegando a 2,2 milhões de toneladas recicladas por ano.
Em 2016, a empresa criou o selo Eureciclo, que pode ser impresso nas embalagens, dar visibilidade às empresas e ao sistema de reciclagem de resíduos. Hoje em dia, a tecnologia rastreia todos os dados da cadeia de reciclagem, comprovando por meio de notas fiscais que os materiais foram coletados. ;É uma forma de a empresa cumprir a legislação vigente;, diz Fabio Sato, diretor de novos negócios do selo Eureciclo.
Entre 2016 e 2017, a Eureciclo rastreou 170 mil toneladas de resíduos plásticos. De acordo com Sato, empresas como Ambev, Unilever, AlgarAgro, Natural One e Lola Cosmetics, entre outras, são clientes da startup.
Pesquisas internacionais, apontam que, até 2050, mais de 13 bilhões de toneladas de materiais plásticos estarão vagando pelo mundo. Levando em consideração que, hoje, a população mundial está próxima de 8 bilhões de pessoas, é possível que, até lá, cada ser humano tenha produzido e seja responsável por mais de 1,5 toneladas, desses detritos. Daí a importância de iniciativas capazes de aliviar os dados causados pelo excesso de lixo.
- Prêmios
A New Hope Ecotech foi fundada em 2014 por estudantes de MBA da Kellogg School of Management, nos Estados Unidos, que já tinham experiências profissionais no Google, BCG e Accenture. A empresa recebeu um primeiro aporte de R$ 500 mil do Positive Ventures e foi uma das 15 selecionadas pelo Google para participar da primeira turma de residentes do Câmpus São Paulo. Acumula prêmios internacionais como ;The Circular;, do Fórum Econômico Mundial, e o ;Index Design to Improve Lives;, maior premiação do mundo para negócios que melhoram a vida no planeta. Em outubro de 2016, criou o selo Eureciclo.