Jaqueline Mendes
postado em 25/07/2018 06:00
São Paulo ; Há 10 anos, os estudantes de publicidade Carlos Ribeiro, na época com 22 anos, e Leonardo Stecanella, com 27, passaram meses pensando em montar um negócio próprio. Em tempos de popularização da internet e lançamento de novas tecnologias, os dois amigos sabiam que havia grandes oportunidades, mas não queriam entrar na moda do TI ou dos códigos HTML. ;Nossa ideia era criar algo inédito e que atendesse a alguma necessidade básica dos consumidores, de forma simples e rápida;, relembra Ribeiro.
Foi aí que nasceu, em 2009, a Snack Frutas, uma empresa especializada em delivery de frutas para grandes empresas, atendendo a uma demanda que era enorme, segundo ele, diante da necessidade de adotar hábitos mais saudáveis de alimentação no ambiente corporativo. ;Historicamente, as pessoas se alimentam muito mal durante o trabalho, comem qualquer coisa quando a fome bate e tomam café o dia todo;, diz Ribeiro. É por isso que, diariamente, antes mesmo de o sol nascer, 90 empresas na capital paulista e outras 15 em Belo Horizonte ; clientes fixos da Snack Frutas ; recebem os carros da frota da empresa cheios de frutas higienizadas e embaladas.
Em São Paulo, gigantes como Walmart, Arcos Dorados (dona da marca McDonald;s), Castrol e Avianca mantêm contratos permanentes com a Snack, e oferecem opções mais saudáveis a seus empregados. Em Belo Horizonte, os maiores clientes são a Zurich Seguros, Axel e BHS Axter TI. No ano passado, a empresa praticamente dobrou de tamanho, resultado que motivou os agora sócios Carlos e Leonardo a cultivarem planos de expansão. ;Nosso próximo passo será o Rio de Janeiro;, afirma Ribeiro.
São histórias como a da Snack Frutas que explicam o forte crescimento do mercado delivery no país. Os serviços de entrega, que já vinham crescendo nos últimos anos, foram turbinados pela crise e pela necessidade de o varejo tradicional se diversificar. Em busca de comodidade, as pessoas aprenderam a utilizar com frequência esse tipo de entrega. No Brasil, os serviços conhecidos como delivery foram um dos que mais cresceram nos últimos anos, segundo dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).
Um recente levantamento da entidade mostra que o setor fechou 2017 com faturamento acima dos R$ 10 bilhões. Os números foram vitaminados pela multiplicação dos canais de pedidos. O que antes era feito apenas por telefone, hoje é possível também por sites e aplicativos. ;O delivery se tornou uma ferramenta fundamental na estratégia de negócios das empresas, importante tanto para as grandes quanto para as micro e pequenas;, afirma a economista Anna Scholler, especialista em varejo na FGV-SP.
De fato, muitos estabelecimentos têm investido no serviço delivery para atrair clientes e aumentar as vendas. Um estudo elaborado pelo Sebrae endossa a preferência dos consumidores por locais que ofereçam entrega em casa ou no escritório. O levantamento concluiu que metade dos restaurantes e lanchonetes atendidos pela instituição em todo o Brasil oferece o serviço, com equipe própria, para oferecer comodidade ao cliente. Ainda segundo a pesquisa, 12% não têm loja física, trabalhando exclusivamente por meio de entregas, sem portas abertas para a rua.
Clube
O tamanho do mercado delivery é ainda maior do que mostram os números da Abrasel e do Sebrae, já que não levam em conta a existência de empresas como a Adeus Rotina, especializada em entrega de produtos eróticos. A ideia partiu do casal Maicon Ribeiro Esteves e Daiane Malgarin. Além do serviço de entrega, o Adeus Rotina criou um modelo de negócio baseado em clube de assinatura. Todos os meses, os clientes recebem em casa uma caixa com itens inesperados ; e a novidade acabou ganhando enorme aceitação no mercado.Criado em 2014, o Adeus Rotina atende a mais de 15 mil casais. ;Sabemos que falar abertamente sobre a vida sexual ainda é um tabu entre os casais, mas a aceitação do Adeus Rotina tem nos surpreendido;, diz Daiane. ;O número de assinantes tem crescido tanto que decidimos lançar as caixas temáticas, pensando também em atender a todos os tipos de casais; acrescenta o marido e sócio, Maicon Esteves.
Criatividade é o segredo do negócio. É assim que tem se popularizado a Nerd ao Cubo, um clube de assinaturas para o público nerd e gamer. Por um valor mensal de R$ 79,90, os assinantes recebem todos os meses, na porta de casa, uma caixa misteriosa contendo de cinco a sete produtos cuidadosamente selecionados. Além de garantir um kit com itens que valem, segundo a empresa, mais do que o valor investido, os assinantes ainda curtem a expectativa, e se divertem ao receber um presente misterioso todos os meses.
A empresa nasceu em março de 2015, a partir da ideia de três sócios: Diogo Santos, Raul Calhelha e Thierre Penteado, nerds assumidos. A startup chegou a firmar parceria com a rede Telecine, de olho nos fãs de cinema e cultura geek. ;A ideia é levar ao público o melhor do que há em filmes, indo desde o nostálgico De volta para o futuro até filmes mais novos da Marvel;, afirma Santos.
Bichos
Um dos setores que passaram ilesos pela crise, o mercado pet também oferece oportunidades de negócios. Criada pelas sócias Priscila Calazans e Gisele Bilotte, a Marmipets produz e entrega marmitas de alimentação saudável para cães. O cardápio, composto por alimentos cozidos, é adequado à necessidade e ao peso do cachorro. Cada marmita de 250 gramas custa até R$ 8, além da taxa de entrega. Em breve, haverá serviço voltado também aos gatos.Com a expansão dos smartphones e dos aplicativos, todos os ramos de atividades passaram a ser atendidos pelo sistema delivery. Criada há quatro anos e atualmente a maior empresa no Brasil voltada às entregas para grávidas e bebês, a PetiteBox envia todos os meses para os clientes uma caixa cheia de produtos com novidades do mundo da maternidade.
Felipe Wasserman, CEO da Petitebox, explica que, em apenas quatro anos, a empresa não só conseguiu a liderança do segmento como superou todas as metas definidas no início do negócio. ;Quando começamos, esperávamos um sucesso rápido, mas hoje estamos ainda melhor do que projetamos;, diz. ;Já distribuímos mais de 100 mil caixas em todo o país.; Segundo ele, as mães são colaborativas, ajudando a escolher o design das caixas e até dando dicas sobre projetos e planos de crescimento. ;O delivery é um setor que oferece inúmeras oportunidades. Se a empresa trabalhar bem, a chance de sucesso é enorme.;