Agência Estado
postado em 03/08/2018 08:17
A Apple venceu mais uma corrida: tornou-se a primeira empresa americana a valer mais de US$ 1 trilhão. É quase quatorze vezes o valor de mercado da Petrobrás, ou doze vezes o tamanho da Ambev, a maior empresa brasileira de capital aberto. Deixou também para trás as gigantes da tecnologia Amazon, Alphabet (Google) e Microsoft - e com uma vantagem confortável.
Nessa quinta-feira (2/8), a ação da fabricante do iPhone encerrou o dia cotada a US$ 207,39, alta de 2,9%. A valorização fez a empresa ser avaliada em US$ 1,002 trilhão - ou US$ 150 bilhões a mais que o valor total de todas as empresas listadas na B3. O dado fica mais impressionante ao se considerar que, há dez anos, a empresa criada por Steve Jobs em uma garagem californiana nos anos 1970 valia cerca de um décimo da bolsa de valores brasileira, aponta a Economática. E não estava nem entre as 10 empresas mais valiosas dos EUA, em um cenário ainda dominado por empresas da economia "real", como Exxon e GE.
Hoje, sozinha, ela é responsável por 4% do índice S 500, que mede o desempenho das maiores empresas americanas. Ao lado de Microsoft, Amazon, Google e Facebook, domina 15%. "A valorização da Apple é um sinal de como a economia dos EUA está mais digital - mesmo quando vende um produto físico", avalia Silvio Laban, diretor de marketing do Insper.
Em perspectiva histórica, a Apple não é, porém, a primeira companhia a atingir a marca de US$ 1 trilhão. A britânica Companhia das Índias Orientais e a Standard Oil, da família Rockfeller, já estiveram no mesmo clube, com atualização dos valores pela inflação. A chinesa PetroChina superou esse valor durante 15 dias em 2007, durante forte movimento especulativo na bolsa de Xangai.
No bolso
A explicação para o valor da Apple tem nome: iPhone. Lançado em 2007, o aparelho criou um mercado de massa para os smartphones, dando novos contornos a um conceito que Jobs havia esboçado no iPod, em 2001. Ao unir telefone, câmera fotográfica, computador de bolso, acesso à internet e GPS em um só aparelho, a Apple se reinventou depois do "auge e declínio" dos computadores pessoais De quebra, deu o passo inicial em uma revolução na economia - com a criação dos aplicativos, permitiu o surgimento de gigantes globais como Uber e Instagram.
Além disso, a empresa virou sinônimo de inovação e luxo na tecnologia. "A Apple faz mágica: vende máquinas e também desejo", diz Fernando Meirelles, professor de Administração da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP). "E faz isso em um negócio de hardware, conhecido por baixas margens de lucro."
Nessa semana, ao divulgar seu balanço para o segundo trimestre - que alimentou o ânimo dos investidores -, a empresa se assumiu como um símbolo de status: apesar de as vendas de iPhone terem ficado estáveis, a Apple faturou 20% a mais com o aparelho, graças à criação do iPhone X, vendido a US$ 1 mil.
Serviços
Jobs, que morreu em 2011, não viu parte da revolução que imaginou. Mas seu sucessor, o discreto Tim Cook, é considerado tão responsável quanto ele pela posição atual da empresa. Mais do que só dar continuidade ao legado da Apple, Cook ampliou a aposta na oferta de serviços para os donos do iPhone. É nessa área, que gerou US$ 9,5 bilhões em receitas no segundo trimestre e inclui a loja de aplicativos AppStore e o serviço de streaming Apple Music, que está o futuro da empresa.
"Os serviços podem fazer da Apple uma empresa menos dependente do iPhone", avalia Joel Kulina, analista da consultoria Wedbush Securities. De abril a junho de 2018, 56% das receitas da empresa vieram das vendas de iPhone. Há dois anos, essa fatia era de 68%. Reduzir ainda mais essa dependência é estratégico: "Hoje, eles ainda têm o dispositivo dos sonhos, mas é difícil saber se isso vai se manter no médio prazo", avalia Meirelles, da FGV-SP.
A ascensão da Apple é impressionante - já que, há dez anos, ela sequer estava no "top 10" de Wall Street. "O valor de mercado reflete a visão dos investidores para o futuro. É otimista", diz Laban, do Insper. A aposta é que a companhia achará meios para continuar a se reinventar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.