Economia

Economias emergentes fragilizadas pela queda vertiginosa da lira turca

Queda é prova da vulnerabilidade destas economias, que muito dependem de capitais estrangeiros.

Agência France-Presse
postado em 13/08/2018 11:27
O efeito dominó da crise turco-americana se evidencia principalmente no nível de vulnerabilidade frente ao dólar
Paris, França - Do rand sul-africano ao peso argentino, passando pelo real brasileiro e pelo rublo russo, a maioria das moedas emergentes afundam há uma semana por conta da queda vertiginosa da lira turca, prova da vulnerabilidade destas economias muito dependentes dos capitais estrangeiros.

A crise entre Washington e Ancara, primeiro política - pelo desacordo sobre o destino de um pastor americano julgado na Turquia por terrorismo e espionagem -, se estendeu rapidamente para o terreno econômico. As sanções, como duplicar as tarifas americanas sobre o aço e alumínio turcos, se sucederam às declarações diplomáticas ameaçadoras, deixando os mercados mundiais instáveis.

Apesar da lira turca, que perdeu 19% frente ao dólar na sexta passada, ser protagonista da crise, outras moedas emergentes também foram afetadas. Em uma semana, o rand sul-africano e o rublo russo perderam 8% ante o dólar, alcançando seu nível mais baixo em dois anos, na manhã desta segunda.

A mesma tendência foi seguida pelo real (-4%) e o peso argentino, que cedeu quase 6% desde segunda passada. O índice MSCI que reagrupa cerca de 20 moedas estrangeiras caiu a seu nível mais baixo em um ano.

O efeito dominó desta crise turco-americana se evidencia principalmente no nível de vulnerabilidade frente ao dólar e, de maneira geral, frente aos investidores das economias emergentes.

A rúpia indonésia, por exemplo, está em seu nível mais baixo frente ao dólar desde outubro de 2015, depois que o país anunciou no fim de semana seu maior déficit de contas correntes em quatro anos, um indicador da dependência da Indonésia do financiamento estrangeiro.

"O contexto atual é cada vez mais preocupante para os mercados emergentes. Em particular, para a África do Sul, já que nos tornamos dependentes das entradas de capital estrangeiro", assinala, por sua vez, o economista sul-africano Gavin Keeton no jornal "Business Day".


Círculo vicioso

Desde o início do ano e da aceleração do aumento dos juros nos Estados Unidos, as moedas destes países se ressentem. O fim da política monetária americana complacente pune em primeiro lugar esses países, que se financiam nos mercados internacionais para incentivar seu crescimento e desenvolvimento, mostrando assim sua fragilidade interna.

Os investidores estrangeiros preferem migrar para o mercado americano, mais lucrativo, e abandonar os mercados emergentes. Este mecanismo cria um círculo vicioso: a divisa local perde terreno frente ao dólar, o custo das importações aumenta de maneira automática e, com este, a inflação, animando os investidores estrangeiros a recuperar o que foi investido.

"As ameaças protecionistas de Donald Trump, que vão necessariamente contra a perspectiva de crescimento dos intercâmbios mundiais, de igual maneira são nefastas para o mundo emergente", explica a economista Véronique Riches-Flores. "Se a isso se soma a alta dos juros nos Estados Unidos, nos vemos diante de um conjunto que se torna muito negativo e autodestrutivo", prossegue.

A moeda da Argentina, que obteve recentemente um empréstimo de 50 bilhões de dólares do FMI para enfrentar a desvalorização do peso, e desabou 35% entre abril e junho, é um exemplo.

E o mesmo na Turquia, onde a escalada das tensões com os Estados Unidos não fez mais do que agravar a situação da lira, que já perdeu muito terreno desde janeiro (-40% frente ao dólar). A inflação atingiu, por exemplo, 16% em julho.

Nesta segunda, o Banco Central turco tentou tranquilizar os mercados anunciando que tomará todas as medidas necessárias para garantir a estabilidade financeira.

No entanto, até agora não tomou a decisão de aumentar seus índices para estimular a lira, o que responde ao "controle" do presidente Recep Tayyip Erdogan, hostil a qualquer endurecimento monetário, segundo Nora Neuteboom, do banco holandês ABN AMRO.

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