Antonio Temóteo
postado em 14/08/2018 06:00
Em meio às tensões na Turquia, o dólar fechou em alta pelo terceiro pregão consecutivo no Brasil. No pregão de ontem, a divisa estrangeira subiu 0,83%, vendida a R$ 3,897. Somente em agosto, a moeda norte americana se valorizou 3,92% em relação ao real. O temor de prejuízo com aplicações no país euro-asiático levou os investidores a adotarem uma postura cautelosa em relação às economias emergentes. Diante da fuga de recursos, o banco central da Argentina subiu os juros em cinco pontos percentuais, para 45% ao ano.Apesar da volatilidade, os analistas avaliam que o Brasil possui balanço de pagamentos equilibrado e US$ 380 bilhões em reservas internacionais para passar por qualquer choque. Além disso, destacam que o encarecimento da divisa norte-americana é acompanhado de um volume robusto de negócios, sem movimentos especulativos. Para conter a fuga de recursos na Turquia, a autoridade monetária do país anunciou um pacote de medidas para fomentar a economia.
Entre elas está a redução dos depósitos compulsórios. O BC turco calcula que as mudanças proporcionarão a entrada de 10 bilhões de liras turcas, US$ 6 bilhões e o equivalente a mais US$ 3 bilhões em liquidez em ouro no sistema financeiro local. As ações tomadas, no entanto, não foram suficientes para conter as perdas ante o dólar. Ontem, a lira renovou mínimas históricas. A moeda se desvalorizou 7,5% em relação à moeda dos Estados Unidos. No país, o presidente Recep Tayyip Erdogan atribuiu a queda da lira turca a um complô e afirmou que os Estados Unidos querem esfaquear a Turquia pelas costas.
No Brasil, diante das incertezas, o dólar chegou a superar os R$ 3,92, com alta de 1,35% ao longo do dia, mas perdeu força no fim do pregão. Na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), a manhã foi tensa, com baixas expressivas, mas, devido às perdas acumuladas nas últimas semanas, os investidores aproveitaram os preços baixos para comprar papéis de brasileiras. Isso levou a B3 a registrar alta de 1,28%, aos 77.496 pontos.
Na opinião do diretor de operações da corretora Mirae Asset, Pablo Spyer, investidores temem que a crise cambial na Turquia contamine bancos de outros países. Segundo ele, não se sabe quanto cada credor emprestou ao governo turco e a empresas do país. Para piorar, Spyer ressaltou que a retaliação comercial dos Estados Unidos a produtos turcos aumenta a dúvida sobre a capacidade de pagamento do país. ;O investidor sempre vai avaliar o risco de o devedor não conseguir honrar os compromissos;, disse.
Funcionalidade
Spyer acredita, no entanto, que a volatilidade na Turquia não deve trazer problemas para a economia brasileira, já que a alta do dólar é acompanhada de um movimento cambial intenso, com liquidez no mercado. ;Não acredito que o Banco Central vá intervir no câmbio agora. Trata-se de um movimento global, não é uma ação isolada e sem volume. A autoridade monetária não tem como função segurar o dólar em um patamar, porque o câmbio é flutuante. E sim dar funcionalidade aos mercados;, afirmou.
Na avaliação do economista Rafael Cardoso, da Daycoval Investimentos, a tendência é de que a equipe de Ilan Goldfajn continue a acompanhar os efeitos da crise cambial turca no país, mas ressaltou que o movimento é acompanhado de forte liquidez. Ontem, foram negociados, na B3, 452.755 contratos de dólar futuro, equivalentes a US$ 22,6 bilhões. Em pregões normais, são transacionados até US$ 14 bilhões.
Para Cardoso, o câmbio teria efeito para a política monetária se tivesse impacto nas expectativas de inflação, que continuam ancoradas. Na opinião dele, um eventual choque teria efeitos restritos à inflação de 2018. A fragilidade turca em relação ao balanço de pagamentos e o nível de endividamento em dólar levaram os investidores a uma postura cautelosa, afirma o economista-chefe do grupo Confidence, Robério Costa. Ele explica que, diante das perdas na Turquia, as aplicações em outros países emergentes são zeradas para compensar as perdas acumuladas. ;Há preocupação também em relação à exposição de bancos da Alemanha na Turquia e a uma crise econômica na Itália. Todos temem que isso se torne uma crise mais grave do que parece agora;, relatou.