Economia

Wirecard, que é dona da brasileira Moip, já vale mais que o Deutsche Bank

Pesquisa mostra que 95% das fintechs esperam aumentar a receita em 2018

Paula Pacheco/Estado de Minas
postado em 21/08/2018 06:00
Sede da Wirecard: ação da empresa valia 68,32 euros há um ano. Ontem, fechou cotada a 184 euros. Em 12 meses, alta chegou a 170%São Paulo ; Ascheim, uma cidadezinha nas proximidades de Munique que não chega a 10 mil habitantes, é a sede de uma fintech que vem rivalizando com o maior banco alemão, o Deutsche Bank. Recentemente, a Wirecard, especializada em serviços de pagamento on-line, softwares e prevenção de fraudes, ultrapassou a tradicional instituição financeira em valor de mercado ao chegar à cifra de cerca de 21,1 bilhões de euros. Agora, a expectativa é de que faça parte do índice DAX, versão alemã do Ibovespa (da bolsa brasileira), já a partir de setembro, no lugar do Commerzbank.

A ação da startup valia 68,32 euros há um ano. Ontem, fechou cotada a 184 euros. Em 12 meses, a alta dos papéis ultrapassou os 170%, de acordo com dados da Bloomberg. Só neste ano, os papéis valorizaram acima de 84%. O mercado financeiro avalia que o caso da Wirecard, que no Brasil é dona da Moip desde 2016, é mais um exemplo relevante de como as fintechs avançam rapidamente em relação aos bancos e serviços financeiros com origem off-line.

No Brasil, segundo informações disponíveis em seu site, a Wirecard tem negócios com o Bradesco nas operações de transferência e de débito, além de parceria com o Mercado Pago. A expectativa da fintech alemã é chegar a uma receita de 2,5 bilhões de euros até o final de 2018, ante a faturamento de 1,5 bilhão de euros em 2017. Seus negócios estão espalhados pelos cinco continentes. Com o desempenho inverso, o Deutsche Bank viu sua receita cair cerca de 10% nos últimos três anos, o que levou o banco a anunciar uma série de cortes em 2018.


Atratividade

Para os investidores, a grande atratividade de fintechs como a startup alemã está no fato de elas serem capazes de lucrar no rastro do crescimento global do e-commerce e do uso dos dispositivos móveis para serviços financeiros, a custos menores do que os cobrados pelos bancos tradicionais.

Pesquisa recente feita pela PwC e a Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs) mostra que esse otimismo também é registrado por aqui. De acordo com o levantamento, 95% das fintechs do Brasil esperam aumentar suas receitas neste ano.

Esse otimismo, apesar da baixa atividade econômica, está ligado ao fato de a atividade das fintechs contar com nova regulamentação do Banco Central desde maio, o que deu a essas startups novas atribuições na área de crédito, além da atuação como correspondentes bancários, explica Luís Ruivo, sócio da PwC Brasil.

Além disso, explica o executivo, essas startups têm a seu favor o fato de a sub-bancarização ainda ser grande no Brasil e esse tipo de prestadora de serviços financeiros na maioria das vezes oferecer serviços com tarifas bem mais baixas que os bancos tradicionais, que atuam em uma atividade ainda muito concentrada nas mãos de poucos grupos financeiros.

Outro fator importante é o crescimento ainda consistente dos usuários de smatphones no país ; o dispositivo é a porta de entrada para acessar os serviços das fintechs.

A pesquisa FinTech Deep Dive ouviu 224 fundadores de empresas brasileiras de tecnologia financeira ao longo do primeiro semestre de 2018. Das fintechs que esperam ter um aumento de receita neste ano, 67% delas têm a expectativa de ver seus resultados crescerem em mais de 30% em comparação a 2017. Para 28%, o crescimento deve ser de até 30% neste ano. Ainda segundo os dados levantados, metade dessas startups espera alcançar o ponto de equilíbrio entre receitas e despesas ainda este ano ; 36% calculam que chegarão a esse estágio do negócio até 2020.

Para crescer, cerca de dois terços das empresas esperam fazer captações neste ano e 90% das fintechs avaliam que deverão receber mais de R$ 1 milhão de aporte. Ainda segundo a pesquisa, 40% dessas startups captaram da sua fundação até agora valores inferiores a R$ 1 milhão, enquanto 29% ficaram em um patamar entre R$ 1 milhão e R$ 5 milhões.

;Mas há muitos desafios. Um deles é a dificuldade na atração de talentos, conforme mostra a pesquisa. Além disso, essas fintechs apontam que sentem dificuldade em conseguir visibilidade junto aos investidores, o que resulta em restrição de acesso a capital. Hoje, as fintechs estão sim conquistando participação de mercado, mas ainda muito mais por estar na moda do que por estar de fato presentes na vida das pessoas;, explica o executivo da PwC.

Dados da StartSe mostram que o Brasil tem 400 fintechs e respondem por 8,82% das startups brasileiras, atrás dos segmentos de serviços profissionais e TI/telecom. ;Por enquanto, vemos mais otimismo do que impacto real das fintechs brasileiras na sua área de atuação. Por outro lado, elas têm muita oportunidade em áreas ainda não atendidas;, explica Luís Ruivo.

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