Economia

Entenda os efeitos da incerteza eleitoral sobre o dólar e a bolsa

Pesquisas mostram pouca força de candidato apoiado pelo mercado, o que leva moeda norte-americana a alcançar a maior cotação diante do real desde fevereiro de 2016. Para analistas, cenário de volatilidade deve continuar. Bolsa recua 1,5%

Hamilton Ferrari
postado em 22/08/2018 06:00
Barco feito com nota de R$ 1 navega em mar de cédulas de dólar sob céu nublado e com trovões.
Em mais um dia de estresse no mercado financeiro, o dólar teve alta de 1,97% e terminou a sessão cotado a R$ 4,04 para venda. Foi o maior patamar desde fevereiro de 2016, às vésperas do impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT). O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), por sua vez, tombou 1,5%, para 75.180 pontos. Os investidores estão cada vez mais preocupados com o cenário eleitoral, que não dá segurança de que o próximo presidente estará comprometido com a agenda de reformas e de ajuste fiscal. Mais do que isso, a iminência de ter um segundo turno com um candidato petista tornou-se mais forte, provocando instabilidade dos ativos.

O mercado vê a força do PT como risco, já que o partido defende a revisão de reformas já aprovadas e critica as que ainda estão na fase de proposta. Preso após uma condenação em segunda instância, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá ser impedido de concorrer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ou pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Mesmo assim, têm 37% das intenções de voto, segundo pesquisas divulgadas nos últimos dias. No cenário sem Lula, o vice na chapa, Fernando Haddad, aparece com 4%.

Segundo sondagem do Ibope, quando os entrevistados são avisados de que Haddad será o ;plano B; do partido, 13% afirmam que votariam nele ;com certeza;. Outros 14% também admitem essa possibilidade. Mas 39% dos eleitores de Lula não votariam no ex-prefeito de São Paulo e a rejeição dele, com o apoio do ex-presidente, vai a 60%.

Além disso, a estagnação de Geraldo Alckmin (PSDB), candidato preferido dos investidores, aumenta o risco eleitoral, na visão de analistas financeiros. Com o cenário incerto, o risco Brasil ; medido pela cotação dos Credit Default Swaps (CDS), uma espécie de seguro contra calotes ; saiu de 238 pontos e se aproximou de 260 pontos. Os juros futuros também subiram, passando de 9,7% ao ano para 9,66% nos contratos com vencimento em janeiro de 2021, e de 10,99% para 11,35%, nos com prazo até janeiro de 2023.

Guilherme Macêdo, sócio da Vokin Investimentos, não prevê subida de Alckmin nas pesquisas. Segundo ele, o discurso do tucano não tem atraido eleitores de Jair Bolsonaro (PSL) e indecisos. Além disso, enquanto a situação de Lula não for definida, as incertezas continuarão. ;Não há definição de quem irá para o segundo turno, e as dúvidas em relação a Lula atrapalham as análises, porque os possíveis votos que ele teria se dissipam entre os demais candidatos;, explicou. ;Só no segundo turno, teremos condições de definir os cenários e avaliar se teremos dólar mais alto ou mais baixo.;

O economista-chefe da Quantitas, Ivo Chermont, avalia que o cenário ainda pode mudar. ;Uma próxima pesquisa pode mostrar melhora de Alckmin. Por enquanto, a única coisa que podemos concluir é que teremos grande volatilidade até o segundo turno. Tanto é que, há duas semanas, o dólar estava em R$ 3,70, e, agora, está em R$ 4;, disse.


Intervenção


Thiago Figueiredo, gestor da GGR Investimentos, considera que o comportamento dos investidores está 100% vinculado à incerteza eleitoral, tanto que, no exterior, outras moedas tiveram desempenho contrário ao do real. ;Os investidores devem testar como o Banco Central (BC) vai reagir. Em situações anteriores, quando o dólar chegou a esses níveis, o BC ofertou swaps cambiais para segurar a queda do real;, explicou. Até agora, o órgão não fez nenhuma intervenção.

O mercado também começa a precificar Bolsonaro no segundo turno. A consultoria Eurasia calculou em 60% a chance de que ele ultrapasse a primeira fase, já que lidera as pesquisas no cenário sem Lula. ;Considero o plano de governo do Bolsonaro para a economia, produzido pelo economista Paulo Guedes, até melhor que o de Alckmin. Mas Bolsonaro tem um jeito explosivo que torna difícil prever suas reações;, disse Macêdo, da Vokin. ;Até agora os debates foram inconclusivos. Bolsonaro tem uma personalidade volátil e não há garantia do que efetivamente defende, ainda mais que os planos de governo não são claros;, contrapôs Figueiredo, da GGR.

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