Economia

Especialistas avaliam que o BC não precisa intervir para segurar o dólar

Incerteza eleitoral continua ditando ritmo da taxa de câmbio, que pode ter impacto na inflação. Analistas, porém, não veem necessidade, neste momento, de o Banco Central intervir no mercado. Bolsa sobe com perspectiva favorável para juros nos EUA

Hamilton Ferrari, Gabriel Ponte*
postado em 23/08/2018 06:00
No sexto dia consecutivo de alta, o dólar fechou cotado a R$ 4,054, com elevação de 0,45%. De acordo com a corretora Mirae, entre 17 moedas, o real foi a que mais se desvalorizou nesta semana, com recuo de 2,22% em relação à divisa norte-americana. Na visão de analistas, o quadro continua refletindo a insegurança dos investidores diante da corrida eleitoral, já que as pesquisas não mostram melhora decisiva para o candidato reformista Geraldo Alckmin (PSDB), que reúne as preferências do mercado, nem afastam a possibilidade de vitória de um concorrente de esquerda. Apesar do avanço do câmbio, o Banco Central (BC), até agora, não anunciou medidas para conter a volatilidade, como leilões de swaps cambiais ; operações equivalentes à venda futura de dólares.

Boa parte dos analistas não vê necessidade de interferência, mas afirma que é preciso mais transparência do BC. O economista e diretor da NGO Corretora, Sidnei Nehme, disse que o país tem reservas cambiais robustas de US$ 380 bilhões e, portanto, não há motivos para ;pânico ou algo assemelhado;. ;Mas, com a tensão em torno das perspectivas eleitorais, a emoção se sobrepõe à razão e enseja movimento de apreciação da moeda norte-americana;, disse. ;O BC precisa sair do silêncio e informar que o país não tem risco de crise cambial;, acrescentou.

Na visão de Álvaro Bandeira, economista-chefe do Modal Mais, ainda não é o momento de o BC intervir no mercado. ;Acho que dá para esperar. Da mesma forma que a moeda subiu em resposta às pesquisas, pode cair um pouco nos próximos dias. Vamos ver para onde vai sinalizar;, disse.

;Não dá para evitar a volatilidade ou a alta da taxa de câmbio quando há maior percepção de risco. E, no cenário atual, o dólar está em trajetória de alta;, observou. De acordo com Bandeira, a valorização do dólar, principalmente em mercados emergentes, é fruto da economia dos EUA. ;A economia dos Estados Unidos cresce, e a autoridade monetária está elevando juros;, afirmou Bandeira. A elevação das taxas nos EUA atrai recursos aplicados em países em desenvolvimento, como o Brasil, provocando desvalorização das moedas locais.

Ontem, porém, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) sinalizou que pode ir mais devagar com a alta dos juros. Em comunicado, o órgão afirmou que tensões comerciais envolvendo os EUA podem ter ;forte; impacto na economia do país, o que desaconselha novas elevações das taxas neste momento. Com isso, investidores se encorajaram a fazer aplicações de maior risco. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores São Paulo (B3), subiu 2,29%, a maior alta diária desde fevereiro, alcançando 76.902 pontos.

Expectativas


No Brasil, o temor é que uma alta acentuada do dólar tenha impacto na inflação, ampliando as chances de uma possível elevação de juros ainda em 2018. Esse, porém, não é o cenário vislumbrado pelo economista Renan Silva, diretor da Bluemetrix. ;É pouco provável que o Banco Central anuncie alta de juros neste ano, porque a atividade econômica está muito combalida e não há espaço para avanço do consumo;, disse. ;O caminho (para segurar o dolar) é ofertar swaps cambiais.;

;As expectativas estão em linha. Por enquanto, não há indicadores que mostrem avanço maior da inflação, pelo contrário, ela está caindo, após o impacto da greve dos caminhoneiros. Por isso, deve ficar abaixo da meta, de 4,5%;, afirmou o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Pedro Paulo Silveira. A projeção dominante no mercado é de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) termine o ano em 4,15%.

* Estagiário sob supervisão de Odail Figueiredo

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