Economia

Ampliação dos saques do PIS/Pasep dá novo fôlego à economia em julho

A sustentabilidade do crescimento, no entanto, é questionada pelos economistas por causa das incertezas do cenário eleitoral

Agência Estado
postado em 23/08/2018 11:00
A liberação dos saques do PIS/Pasep deu um fôlego à economia em julho: a produção industrial aumentou com a expectativa da volta do consumo das famílias. Indicadores econômicos, divulgados quarta-feira (22/8), apontam para uma retomada da economia depois do choque provocado pela greve dos caminhoneiros. A sustentabilidade do crescimento, no entanto, é questionada pelos economistas por causa das incertezas do cenário eleitoral.

Entre as divulgações que foram feitas na quarta, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) informou que o setor teve o melhor julho em quatro anos. O Ministério do Trabalho anunciou a criação de 47 mil empregos com carteira assinada no mês passado no País, no melhor desempenho para julho em seis anos. Também houve tímida melhora nos indicadores de vendas no varejo e os consumidores já se mostram mais propensos às compras neste mês, segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC).

O governo começou a ampliar os saques do fundo do PIS/Pasep no ano passado, com a intenção de injetar recursos na economia. Até 2017, o resgate só era permitido em casos de aposentadoria, de algumas doenças ou a partir dos 70 anos. A primeira medida permitiu o saque a mulheres com mais de 62 anos e homens com mais de 65. Depois, o limite caiu para 60 anos. Agora, o governo abriu uma janela, que vai até 28 de setembro, estendendo o benefício a cotistas de todas as idades, que trabalharam entre 1971 e 1988.

Somando quem tem mais de 60 anos, a estimativa do Ministério do Planejamento é que a medida tem potencial para injetar R$ 39 bilhões na economia. Para o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, o PIS/Pasep ajudará também nos resultados do terceiro trimestre. Ele vê uma tendência de recuperação "importante" na economia. "A greve dos caminhoneiros afetou o crescimento deste ano, mas não o matou completamente."

O economista da CNI Marcelo Azevedo ressalta que o início do semestre costuma ser mais forte para a indústria, mas o resultado do mês passado chamou a atenção. "Foi mais forte do que em 2017 e melhor do que os de 2014, 2015 e 2016, quando a produção caiu por causa da crise."

Para o professor de Economia da FGV, Mauro Rochlin, a indústria pode estar se preparando para absorver a demanda que surgirá com a liberação dos saques do PIS/Pasep para pessoas de todas as idades. De acordo com o governo, desde o fim do ano passado, quase 5 milhões de cotistas já sacaram R$ 6,6 bilhões do PIS/Pasep. "Esses saques terão impacto significativo, a exemplo dos saques de contas inativas do FGTS no ano passado. O setor está se preparando para esse soluço no consumo, mas ainda não dá para soltar fogos e afirmar que já há uma recuperação em marcha."

Segundo o consultor Cláudio Frischtak, da consultoria Inter.B, o aquecimento da atividade industrial se explica por três fatores. O primeiro é que, após a queda provocada pela greve, as indústrias recuperaram seus índices de produção em junho e isso "transbordou" para julho. O segundo é um efeito sazonal: as encomendas para as festas de fim de ano, que já começam a ser feitas. O terceiro é a taxa de câmbio competitiva para exportadores brasileiros. "A economia mundial vai bem e há demanda para os nossos produtos. Mas estamos reféns da política."

Azevedo, da CNI, lembra que o ritmo de recuperação da indústria tem sido limitado pelas incertezas sobre a economia, com o indefinido cenário eleitoral. "Apenas religar máquinas não permite o salto no emprego que se daria com o retorno dos investimentos em novas fábricas."

O economista da CNC, Antonio Everton, reforça que a melhora no varejo depende da reação do mercado de trabalho. "O nível de emprego está melhor que no ano passado, mas as perspectivas para a economia não são tão boas como poderiam ser." A confederação prevê que as vendas no varejo ampliado, que inclui veículos e material de construção, cresçam 4,5% em 2018. A intenção de consumo das famílias, apurada pela CNC, cresceu 0,6% em agosto ante julho. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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