Economia

Dólar nas alturas pressiona preços de alimentos e combustíveis

A forte valorização do dólar nesta semana assustou o mercado financeiro, investidores e também a população

Gabriel Ponte*
postado em 25/08/2018 07:00
Marineide de Sá Vieira, pedagoga:

Após sete dias de alta, o dólar comercial fechou ontem cotado a R$ 4,105, com queda de 0,46% em relação ao dia anterior, fortemente influenciado pela declaração de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano). Em encontro com autoridades monetárias mundiais, ele defendeu uma alta gradual dos juros nos Estados Unidos. Apesar do recuo, a moeda teve a maior alta semanal desde novembro de 2016: 4,83%.

No último pregão da semana, marcado por volatilidades, a divisa norte-americana chegou a ser cotada, na mínima do dia, a R$ 4,0768, enquanto que a máxima foi de R$ 4,1242. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), fechou em alta de 0,83%, aos 76.262 pontos.

A forte valorização do dólar nesta semana assustou o mercado financeiro, investidores e também a população. A divisa norte-americana impacta, diretamente, na precificação final de itens importados, produtos alimentícios, gasolina, eletroeletrônicos, remédios, além do turismo internacional, que são regidos pela moeda norte-americana.

De acordo com Renan Silva, economista da BlueMetrix Ativos, os repasses já são percebidos. ;Os aumentos começaram nos últimos dias. A moeda vem subindo e não é de hoje. Olhando para o lado do empresário, como as vendas estão fracas, ele procura represar esse preço, mas, com margens estreitas de lucro, chega uma hora que tem de repassar ao cliente;, explicou.

Na visão de Silva, o repasse do aumento da moeda no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve ser pequeno. ;Tem pressão sobre o IPCA, mas é moderada. Não é coisa que possa levar a um descontrole inflacionário. É uma volatilidade de curto prazo que deve ser assentada rapidamente. Na segunda-feira, no Boletim Focus (divulgado pelo BC) já deve estar refletida;, completou.

Para a pedagoga Marineide de Sá Vieira, 50 anos, acompanhar as variações do câmbio internacional é essencial para planejamento prévio dos gastos. ;Já dá para notar que os alimentos aumentaram bastante, principalmente o pão francês. A farinha de trigo, que antes estava na casa dos R$ 3, hoje é vendida a R$ 5. Lá em casa, tento não consumir o que subiu muito;, afirmou.

O Correio esteve em um supermercado da capital e constatou alguns itens derivados do trigo em falta, esperando receber novo estoque. A expectativa é de que esses produtos cheguem com valores mais elevados diante da alta do dólar.

Segundo César Bergo, professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), o aumento pesará em itens da rotina do brasileiro. ;No dia a dia, produtos importados, principalmente os de gênero alimentício, vão aumentar. Agora, por outro lado, haverá concorrência com o produto nacional, já que o órgão mais sensível do consumidor é o bolso;, ressaltou.

Quem viaja para o exterior está apreensivo. O estudante Assis Valente, 20, irá, em janeiro, para a Europa. ;Pelo dólar ditar o comportamento de outras moedas, compro, mensalmente, um valor fixo de euros. Fico preocupado, já que vou viver 30 dias com essa moeda,;, disse.

* Estagiário sob supervisão de Rozane Oliveira

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