Economia

Pessoas de 30 a 49 anos representam metade de devedores do SPC

Levantamento do SPC e do CNDL mostra que mulheres com idade entre 30 e 49 anos, moradoras da região Sudeste, são maioria dos inadimplentes no país. Juros elevados e discriminação delas no mercado de trabalho explicam os números

Marília Sena*, Bruno Santa Rita*
postado em 28/08/2018 06:00
Desempregada desde 2012, Jaqueline ajuda a sustentar a família com a venda de guloseimas na rodoviária do PlanoMulher, com idade entre 30 e 49 anos e moradora da região Sudeste. Este é o perfil típico das pessoas que se encontram inadimplentes no país em consequência da crise econômica, apontam dados da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). Segundo os números das duas entidades, as mulheres representam 50,5% do total de brasileiros com dívidas em atraso. As pessoas na faixa etária de 30 a 49 anos também são as que mais devem: 32,1 milhões, no total, representando 51% do total de pessoas no cadastro negativo do SPC.

A região Sudeste, de acordo com o levantamento, têm o maior número de endividados, 26,96 milhões, o correspondente a 42% da população adulta. Em seguida, vem o Nordeste, com 17,58 milhões (43% da população adulta local) e o Sul, com 8,16 milhões (36%). Segundo Carlos Alberto Ramos, professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), o principal fator que cria situações como essa são os juros altos dobrados nos cartões de crédito, modalidade de financiamento mais popular entre os brasileiros.

Segundo Ramos, é necessário que as pessoas sejam criteriosas em relação aos tipos de dívida que fazem. ;Se eu me endividar para comprar uma casa ou para pagar a escola de um filho, tudo bem. O que não pode é se endividar para jantar fora, para viajar. Nesse caso, fica complicado;, observou.

De acordo com o professor, fatores socioculturais explicam o fato de as mulheres serem maioria entre os inadimplentes. Um deles é a desigualdade no mercado de trabalho. ;A taxa de desemprego é maior entre elas, que também recebem salários menores. Elas sofrem uma série de preconceitos no mercado de trabalho que influenciam nisso;, analisou.

Para o terapeuta financeiro Jônatas Bueno, o mais alarmante é o fato de os devedores estarem justamente na faixa etária em que há mais pessoas no mercado de trabalho. Para Bueno, conter as dívidas exige sacrifícios que, muitas vezes, significam reduzir a qualidade de vida. ;É preciso conferir se a renda disponível permite os gastos que estão sendo feitos, principalmente, quando se têm dívidas;, disse.


Aperto


Sônia Luce, de 48 anos, trabalha com serviços gerais no Aeroporto Internacional de Brasília e é beneficiária do programa Minha Casa Minha Vida. Ela mora com três dos cinco filhos e um neto. Segundo ela, as dívidas são frequentes, pois as despesas com a família são grandes e, mesmo com a ajuda do marido, a situação financeira é sempre apertada. Ela conta que, devido ao peso da fatura do cartão de crédito, o pagamento da conta de água sempre é feito com atraso. ;Quem é mãe sempre tem dívidas, pois sustentar os filhos é caro;, afirmou.

Jaqueline de Souza, 45 anos, moradora de Samambaia, está desempregada desde 2012. Mãe de dois filhos e casada com um deficiente físico, trabalha de domingo a domingo com a venda de guloseimas na rodoviária do Plano Piloto. A vendedora passou a conviver com o nome no SPC desde 2012, quando abriu uma lanchonete e tomou empréstimo no Banco do Brasil. Porém, o negócio não deu certo e Jaqueline não conseguiu arcar com os compromissos. ;Eu tenho trauma de ir ao banco, acho que, se eu passar em frente, fico presa;, brincou.

Na família de Jaqueline, a prioridade é a comida e o aluguel. Porém, as dívidas com o banco, e as contas de água e luz também pesam no orçamento. ;Eu já fiquei sem água em casa por não conseguir pagar o boleto, e a conta de luz é sempre paga com atraso;, contou.

* Estagiários sob supervisão de Odail Figueiredo



  • Como se livrar das dívidas


    • 1 - Faça um diagnóstico da sua situação financeira: entenda qual a sua renda, quanto dela está comprometida com gastos necessários equanto pode ser direcionadapara pagar as dívidas.

    • 2 - Organize as dívidas: separe-as de acordo com o valor dos juros, tamanho da dívida, urgência de pagamento.

    • 3 - Eleja prioridades: comece a pagar as dívidas menores. Com o tempo, isso vai garantir a possibilidade de se pôr um fim às maiores e mais caras.

    • 4 - Negocie com os credores: alternativas como fazer um rodízio de dívida podem garantir o pagamento dos débitos, respeitando a quantia da renda separada para esse objetivo, sem prejudicar os gastos diários.

    • 5 - Reduza seu padrão de vida: é recomendável viver gastando menos do que a renda permite. Em momentos de crise, essa recomendação dobra.

    • 6 - Tome cuidado com os juros: procure sempre as menores taxas na hora de assumir um compromisso financeiro.



  • Lucro do FGTS foi depositado


  • A Caixa Econômica Federal antecipou o crédito nas contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) do valor referente à distribuição do lucro obtido no ano passado. O depósito estava previsto para 31 de agosto, mas, desde ontem, os trabalhadores podem visualizar o montante. Foram distribuídos R$ 6,32 bilhões, correspondentes a 50% do resultado obtido pelo fundo no ano passado, nas contas de 90,7 milhões de cotistas. Os depósitos são proporcionais ao saldo que cada um tinha em 31 de dezembro do ano passado. O FGTS, no entanto, só pode ser sacado em ocasiões específicas, como demissão sem justa causa, doença grave ou compra da casa própria.

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