Economia

Empresas entram na campanha eleitoral com pauta LGBT

Grandes companhias pedem a presidenciáveis que se comprometam a garantir a diversidade e a inclusão no ambiente de trabalho. Entre as 32 que aderiram, a maioria é de multinacionais

Paula Pacheco/Estado de Minas
postado em 06/09/2018 06:00
Prédio da Oracle em São Paulo ganhou as cores do movimento gay em defesa da não discriminação de gênero para as contratações

São Paulo ; As empresas costumam manter distância dos processos eleitorais e evita apresentar demandas, a não ser por meio de suas entidades de classe. Também são poucas aquelas que se engajam com o tema da inclusão, nas suas diferentes formas, no ambiente corporativo, garantindo oportunidades iguais a todos, seja qual for a raça, sexo ou orientação sexual. Mas um movimento que começou a ser costurado há cerca de três meses mostra que começa a ganhar espaço um novo comportamento no mundo do trabalho.

Foi lançada ontem a ;Carta de Apoio à Diversidade, ao Respeito e à Inclusão de Pessoas LGBT%2b nos Locais de Trabalho no Brasil;. Os 32 signatários ; entre empresas e ONGs ; pedem aos candidatos presidenciáveis das eleições deste ano que reconheçam a importância da diversidade e inclusão no local de trabalho. O documento foi publicado nas redes sociais e nos sites e redes sociais das empresas, da Aliança Nacional LGBTI , do Grupo Dignidade, além da organização Out & Equal Workplace Advocates.

Importância na economia

As primeiras conversas sobre o projeto começaram há cerca de três meses. Segundo Toni Reis, presidente da Aliança Nacional LGBTI, a adesão só não foi maior por conta do tempo. ;Aprendemos com essa experiência que esses processos costumam ser demorados nas grandes empresas, mas a adesão que conseguimos já é muito representativa. Juntas, essas corporações, que têm um papel muito importante na economia do Brasil, empregam por volta de 100 mil pessoas;, diz o ativista.

Entre a empresas que aderiram ; a maioria de multinacionais ; há representantes do setor financeiro, transporte aéreo, tecnologia, escritórios de advocacia e mobilidade, como Oracle, Sodexo, Uber e Gol. No texto, os signatários explicam o propósito: ;O documento defende a adesão dos presidenciáveis a essa pauta porque é a coisa certa a se fazer, é bom para os negócios e é bom para o Brasil;.

Preocupação com eleições

O texto alerta para o fato de o país, às vésperas das eleições presidenciais, ser foco de atenção de outras nações. ;Tendo em vista as eleições de 2018, os valores que defendemos poderão estar em jogo, estando o mundo inteiro atento ao Brasil, inclusive empresas que pretendem investir ou fazer negócios aqui. Nesse sentido, entendemos necessário que os candidatos presidenciáveis considerem a importância para nossa sociedade dos valores da diversidade, do respeito e da inclusão para nossas empresas, nossos funcionários e nosso país;, alerta a carta.

Ainda segundo o texto, o respeito à diversidade é uma forma de atração e de retenção de talentos nas empresas, além de refletir na produtividade. Esse tipo de benefício é visto em experiências como as relatadas por Aline Tieppo, gerente de comunicação interna e diversidade e inclusão da Sodexo Benefícios e Incentivo.

A multinacional trata da diversidade por meio de cinco pilares: identidade de gênero, equidade de gênero, questão geracional, cultura e origem e pessoas com deficiência. Vice-presidentes globais respondem por cada um desses pilares. No Brasil, o tema da identidade sexual tem a participação de 150 colaboradores ; 70% deles são heterossexuais. ;Esse número mostra que temos um exército de aliados à causa, com pessoas que acreditam e querem mudanças, seja em casa ou para o colega ao lado;, afirma a executiva.

Em um desses encontros, Aline conta que ouviu de um dos participantes que pela primeira vez em dez anos de carreira ele não se sentia mais obrigado a dizer aos colegas na segunda-feira uma história que não tinha acontecido no fim de semana porque foi orientado pela empresa a não expor sua orientação sexual. ;Ele disse que a partir daquela discussão não se sentia mais invisível;, relembra.

Direitos civis

Assim como na Sodexo, na multinacional Oracle debate com seus funcionários o respeito à diversidade. Segundo Daniele Botaro, líder de diversidade e inclusão para a América Latina, a decisão de ser um dos signatários da carta endereçada aos presidenciáveis surgiu da preocupação em manter os direitos civis preservados.

;Nosso comitê da diversidade procura não apenas trazer os temas relacionados aos nossos colaboradores, incluindo diretores e o presidente, como também levá-los aos nossos clientes;, conta Daniele. A ação inclui até mesmo a aceleradora de startups da multinacional, a OSCA. ;O trabalho tem de ser de inclusão e influenciar toda a sociedade.;

No banco americano J.P. Morgan, a preocupação em ir além do público interno também está presente. O CEO no Brasil, José Berenguer, explica que o documento é uma forma de alertar a sociedade sobre a importância de um ambiente mais inclusivo e que respeite a diversidade. ;Esse é um tema muito importante e faz parte da cultura dessas empresas que assinaram o manifesto;, informou por meio de nota.

O J.P.Morgan mantém há cincos anos um grupo, batizado de Pride, que debate formas de aumentar a diversidade no ambiente de trabalho, ;seja ela de qualquer esfera;. Esse tipo de debate também é feito além do ambiente interno de negócios. ;Tentamos mostrar para outras empresas do mercado financeiro como é importante discutir o tema com os funcionários.;, declarou Berenguer.

Capilaridade

A Uber, outra signatária, que nasceu em São Francisco (no estado da Califórnia), centro mundial de movimentos afirmativos, investe tanto em iniciativas para seu público interno quanto em atividades como o patrocínio de paradas LGBT pelo mundo ; só no Brasil está presente em 17.

Ana Pellegrini, diretora jurídica e líder de diversidade da Uber na América Latina, explica que a empresa prioriza o recrutamento e a retenção de pessoas LGBTQ e, segundo a executiva, a estratégia vem dando certo. ;De acordo com uma pesquisa feita com funcionários no mundo todo, em 2017, 15% dos empregados espontaneamente se declararam LGBTQ . A Uber também foi eleita pela Human Rights Campaign Foundation como uma das 100 melhores empresas para trabalhar para pessoas da comunidade LGBTQ ;, afirma. No Brasil, segundo a executiva, 21% do quadro de empregados se engaja voluntariamente em iniciativas para tornar a empresa mais inclusiva.

Para a executiva, a alta capilaridade da empresa é um ponto favorável para aumentar a conscientização sobre a importância do respeito à diversidade. ;Nós entendemos o impacto que a Uber tem na vida das pessoas e das cidades. Só no Brasil, são mais de 500 mil motoristas parceiros e 20 milhões de usuários que usam a Uber para se movimentar. Esses números representam milhares de conexões que estabelecemos todos os dias;, explica.

;Se a gente minimamente conseguir impactar essas conexões e essas relações, usando a força e a tecnologia da nossa plataforma para trazer mais consciência e mais respeito à comunidade LGBTQ , teremos conseguido trazer uma contribuição bastante relevante a esse movimento;, afirma Ana.

Inclusão

Quem aderiu ao movimento pela diversidade:

  • Setor Privado
  • Accenture
  • Braskem
  • Cigna
  • Citi
  • The Dow Chemical Company
  • GE
  • GOL
  • Google
  • IBM
  • International Flavors & Fragrances Inc.
  • J.P. Morgan
  • J Walter Thompson
  • Kimberly-Clark
  • LinkedIn
  • Machado Meyer
  • Mattos Filho
  • Microsoft
  • Natura
  • Nike
  • Oracle
  • Pinheiro Neto Advogados
  • Salesforce
  • Sodexo
  • TozziniFreire Advogados
  • Uber

Organizações Não Governamentais

  • Aliança Nacional LGBTI
  • Grupo Dignidade
  • Human Rights Watch
  • Open for Business
  • Out & Equal Workplace Advocates
  • OUTstanding
  • The Council for Global Equality

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