Rio de Janeiro ; Confirmando o temor de alguns investidores, a TAM Linhas Aéreas decidiu não renovar seu contrato com a Multiplus e vai retirar o programa de fidelidade da bolsa de valores como um primeiro passo para fundir as duas companhias. A TAM disse que fará uma oferta pública para comprar as ações detidas pelos minoritários da Multiplus a R$ 27,22 por ação. A companhia aérea é dona de 72,7% da empresa, e o saldo pertence a fundos de investimento.
O preço da oferta corresponde à média dos últimos 90 pregões e a um prêmio de 11,6% sobre o fechamento da segunda-feira (R$ 24,40). A TAM contratou o Credit Suisse para elaborar o laudo de avaliação independente exigido por lei.
A possibilidade da não renovação do contrato entrou no radar dos investidores em maio do ano passado, quando a Air Canada disse que não renovaria o contrato com seu programa de fidelidade, o Aeroplan. A decisão implodiu a ação da Aimia, a controladora da Aeroplan, que caiu quase 63% em um dia. A partir dali, analistas começaram a produzir relatórios questionando se o exemplo da Air Canada seria seguido pela Latam, que controla a TAM, e investidores começaram a vender a ação da Multiplus a descoberto, apostando numa queda.
Segundo informações publicadas recentemente pela Bloomberg, a Air Canada e os acionistas da Aimia estavam até recentemente discutindo o valor justo do programa de fidelidade. A Air Canada queria pagar US$ 190 milhões, mas o maior acionista da Aimia dizia que ele vale quatro vezes mais. No acordo final, fechado há duas semanas, o consórcio pagou US$ 450 milhões em dinheiro e assumiu um passivo de milhas ainda não resgatadas avaliado em US$ 1,9 bilhão.
A TAM disse que sua oferta pela Multiplus só será realizada se o piso da faixa de preço a ser estimada pelo Credit Suisse for inferior ou igual ao valor proposto por ela. A TAM também se reserva o direito de desistir de fazer a oferta, ;a qualquer momento e independentemente do determinado pelo laudo,; abrindo caminho para cancelar a proposta se, por exemplo, as condições de mercado se deteriorarem.
A decisão da TAM vem pouco mais de dois anos depois que a Livelo ; a coalizão entre Banco do Brasil e Bradesco ; começou a operar, aumentando a pressão competitiva num negócio em que, para alguns investidores, os programas de fidelidade têm pouco poder de barganha.
Desde que Multiplus e Smiles foram listadas, alguns investidores se disseram céticos com relação ao modelo de negócios e à capacidade das empresas de fidelidade existirem separadamente de suas controladoras, as companhias aéreas.
Para esses investidores, os verdadeiros ;donos; do negócio de fidelidade são os bancos (porque são donos dos cartõesem que os usuários acumulam os pontos antes de transferi-los) e as próprias companhias aéreas (que podem ditar o preço das passagens e transferir valor de um lado para o outro).
Na justificativa da oferta, a TAM disse que ;nos últimos tempos o mercado de programas de fidelidade em que a companhia desempenha suas atividades vem enfrentando desafios constantes que, por sua vez, demandam esforços crescentes para manter a competitividade da companhia perante seus concorrentes.;
A TAM diz ainda que ;limitações oriundas não só do relacionamento contratual entre as duas companhias, mas também de suas estruturas operacionais e societárias segregadas, se mostraram como um obstáculo para a capacidade da companhia de reagir rápida e eficientemente às mudanças do mercado, bem como contribuíram para sua perda de market share.;
A companhia aérea também afirmou que, nos aditamentos mais recentes do contrato com a Multiplus, a TAM concordou em reduzir as tarifas internacionais em 2% e as domésticas em 5%, mas que, mesmo assim, a Multiplus continuou a perder participação de mercado. O contrato entre as duas empresas, que existe desde 1; de janeiro de 2010, expira em 1; de janeiro de 2025.
Números da Multiplus
R$ 73,8 milhões
Foi o lucro no segundo trimestre
41,4%
Queda do lucro em relação ao mesmo período de 2017
R$ 123,3 milhões
Foi a receita líquida no segundo trimestre
37,2%
Queda da receita líquida no período