Economia

Dólar cai e bolsa sobe: a reação do mercado após o ataque a Bolsonaro

Investidores acreditam que ataque a Jair Bolsonaro diminui as chances de um representante da esquerda chegar ao Palácio do Planalto, seja pelo reforço da candidatura do próprio deputado do PSL ou de outros postulantes do centro e da direita

Hamilton Ferrari, Andressa Paulino*
postado em 07/09/2018 07:00

O ataque ao candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, teve um efeito inusitado no mercado financeiro. Tão logo as notícias sobre o atentado apareceram nas telas dos computadores de corretoras e casas de investimento, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) entrou em forte trajetória de alta, e o dólar recuou. Na interpretação de analistas, o movimento não foi uma reação ;positiva; ao crime em si, mas à possibilidade de que o incidente diminua as chances de vitória de um candidato esquerdista no pleito.

Depois do ocorrido em Juiz de Fora (MG), o Ibovespa, principal índice da bolsa paulista mudou de curso e subiu, em uma hora, mais de 1.000 pontos, saindo de 75.363 para 76.533 pontos. No fim do pregão, o indicador marcava 76.416 pontos, com valorização de 1,76%. E o movimento não parou por aí. Depois do fechamento, o Ibovespa futuro chegou a disparar 4%.

Segundo economistas, o mercado está apreensivo com os recentes avanços de Ciro Gomes (PDT) e Fernando Haddad (PT) nas pesquisas de intenção de voto. Os investidores entendem que o país corre um risco econômico com a possível vitória desses candidatos na corrida eleitoral, pois a aplicação dos programas que defendem acarretaria alta da inflação e dos juros.

Os agentes econômicos entendem que o próximo presidente precisa ter compromisso com o controle dos gastos públicos e com a agenda de reformas. Bolsonaro não é uma unanimidade entre os investidores, mas é mais bem-visto do que os concorrentes da esquerda por defender posições liberais na economia, sob orientação de seu principal assessor para essa área, o economista Paulo Guedes.

Infográfico sobre a reação do dólar e da bolsa ao ataque a Bolsonaro

Recuperação

O raciocínio do mercado, baseado na convicção de que Bolsonaro vá se recuperar para continuar a campanha, é que o atentado poderá gerar comoção dos eleitores que ainda estão indecisos, dando maior força ao candidato direitista. O economista-chefe da Spinelli Investimentos, André Perfeito, disse que, se o objetivo do ataque foi prejudicar a imagem do candidato, ;o tiro saiu pela culatra;. ;O incidente pode reforçar a própria retórica dele. O mercado não é unânime em relação a Bolsonaro, mas, no geral, o pensamento é: ;se não tem ninguém (que agrada), vai você mesmo;;, avaliou.

Para o professor de economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Guilherme Macedo, o efeito do ataque pode ir além do aumento da popularidade do candidato do PSL. ;Agora, as chances crescem para os candidatos de centro e de direita, em especial Bolsonaro, que está na frente e foi vítima do incidente;, afirmou. ;O mercado parece esperar apenas candidatos de direita no segundo turno, o que, para os investidores, é um cenário favorável do ponto de vista da economia;, completou Macedo.

De acordo com o estrategista-financeiro da BlueMetrixs Investimentos, Renan Silva, o que antes era uma área favorável a Geraldo Alckmin, candidato pelo PSDB, pode ser ocupada por Bolsonaro. ;O mercado começa cada vez mais a perceber a relevância dele, que era deixado de lado pela inexperiência de gestão;, analisou. ;O incidente dá visibilidade no mercado de ações a ele, que adotou um discurso mais liberal até que o do próprio Alckmin;, ressaltou o estrategista.

O episódio, no entanto não deve trazer um momento de alta consecutiva nas ações, que continuarão sofrendo fortes variações no período eleitoral. ;As projeções são de que a B3 suba e caia com grande frequência. O mercado estará à mercê desse período de campanha;, destacou Macedo.

Desdobramentos

O economista-chefe de um banco, que preferiu não se identificar, disse que cresceu a expectativa de que Bolsonaro seja adotado como o ;candidato do mercado;, já que Alckmin demonstra pouca força nas pesquisas. ;A primeira reação dos investidores a notícias impactantes é baseada muito no instinto. Agora, eles vão sentar e discutir a situação, enquanto acompanham os desdobramentos. A Bolsa só reabre na segunda-feira (já que hoje é feriado no país). Tudo será levado em consideração: se ele estará fora da disputa, qual a gravidade e quem poderá substitui-lo;, afirmou o economista.

Ontem, no ambiente incerto das primeiras notícias sobre o indicente de Juiz de Fora, o dólar caiu 0,95%, cotado a R$ 4,10 na ponta de venda. A moeda norte-americana sofreu influência do atentado, mas também foi impactada pelo cenário externo mais tranquilo. O risco Brasil medido pelos Credit Default Swaps (CDS), uma espécie de seguro contra calotes, caiu 5,2%, fechando aos 15.430 pontos. Os juros futuros nos contratos com vencimento em janeiro de 2021 registraram queda de 10,10% para 9,92%, enquanto as negociações para 2023 saíram de 11,77% para 11,58%.

Estrangeiros saem

Os investidores estrangeiros retiraram R$ 342,776 milhões da bolsa no último dia 4. Naquela terça-feira, o Ibovespa fechou em queda de 1,94%, aos 74.711,80 pontos, movimentando R$ 8,3 bilhões. Em setembro, em dois dias de pregão, o volume de retiradas soma R$ 378,836 milhões, resultado de compras totais de R$ 3,775 bilhões e vendas de R$ 4,154 bilhões. Em 2018, o saldo segue negativo em R$ 3,367 bilhões.

* Estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo

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