Gabriel Ponte*
postado em 18/09/2018 06:00
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) se reunirá hoje e amanhã para discutir a manutenção da taxa básica de juros da economia (Selic). Para economistas e analistas do mercado financeiro, não haverá alteração na taxa, que desde março está em 6,5% ao ano, o menor nível desde que o Copom foi criado, em 1996. Nem mesmo a expectativa de leve alta na inflação (0,4 ponto percentual), segundo o Boletim Focus, divulgado semanalmente pela autoridade monetária, deve influir na decisão do conselho.O pesquisador sênior do Instituto de Economia Brasileira da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), Marcel Balassiano, defende que a elevação da inflação não é problema, pois ;está ancorada nas metas estabelecidas. ;Estamos acompanhando uma recuperação lenta e gradual da economia. A expectativa de crescimento, que no começo do ano era 3%, caiu, com a greve dos caminhoneiros, para 1,36%, segundo Boletim Focus divulgado ontem. Em resumo, a atividade econômica está bem desacelerada, permitindo aos juros permanecerem nesse nível mais baixo;, explicou.
Para César Bergo, professor do curso de especialização em mercado financeiro e investimentos da Universidade de Brasília (UnB), o Copom deve manter os juros. Na opinião dele, a grande preocupação da autoridade monetária é com a inflação, que está muito baixa, dentro da meta de 4,5%. ;Diante de toda a incerteza eleitoral e do câmbio volátil, o BC mostra firmeza em não se deixar levar pelas questões do momento. Estamos com um nível de emprego baixíssimo e desenvolvimento lento e gradual da economia. Em suma, não tem nada, a curto prazo, que leve a uma previsão de aumento;, afirmou. Para 2019, a previsão dele é de Selic a 7%.
Ele defende que o que difere a economia brasileira da de países como Argentina e Turquia, que tiveram um expressivo aumento de juros nas últimas semanas, são as contas externas. ;A diferença está na dívida externa. O Brasil possui uma grande reserva de dólares, ou seja, os ataques especulativos que sofre não surtem efeitos expressivos. É preciso entender que os países aumentam os juros por causa do risco país, já que investidores exigem um retorno maior para aplicar em determinada nação. Nesse aspecto, os riscos de alguns emergentes são bem superiores aos do Brasil. Nosso país é, hoje, credor internacional;, explicou.
No mercado financeiro, a expectativa é de conservação dos juros. Para Pablo Spyer, diretor de operações da corretora Mirae Asset, o mercado trabalha com a manutenção dos juros. ;As apostas, na curva de juros, mostram que a maioria dos analistas no mercado acredita que a Selic se manterá no mesmo nível, faltando pouco tempo para as eleições;, revelou.
Já na visão de Ivo Chermont, economista-chefe da Quantitas, uma alteração na Selic dependerá da conjuntura política após a corrida presidencial. ;Caso haja uma deterioração de fundamentos e o BC se sinta ameaçado com a eleição de um candidato não reformista, o dólar pode subir muito. Consequentemente, pode haver alta de preços ao consumidor e, nesse cenário, será possível observar aumento da inflação e necessidade de a autoridade monetária subir os juros. Mas, apenas em dezembro, após uma sucessão de eventos determinantes. É algo impossível de se prever agora;, afirmou.
* Estagiário sob supervisão de Rozane Oliveira