Economia

Analistas admitem que desempenho do país deve ficar abaixo de 1%

Adiamento da reforma da Previdência, greve dos caminhoneiros e incerteza eleitoral atrapalham investimentos

Hamilton Ferrari
postado em 24/09/2018 06:00
O cenário econômico do país não é animador. Além de consecutivas frustrações do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), o país está em ;compasso de espera; até o fim das eleições. As expectativas dos empresários e dos consumidores estão baixíssimas, refletindo em fraco consumo das famílias e investimentos escassos dos empresários na economia. As projeções dos analistas mostram que o PIB do terceiro trimestre deste ano continua morno, sem perspectiva de grandes impulsos. Projeções apontam que a atividade econômica pode ficar estável ou ter ganhos de até 0,9% no período, na comparação com o segundo trimestre do ano. Segundo especialistas, a depender do resultado do pleito, em 27 de outubro, o desempenho pode ficar até abaixo de 1% no acumulado de 2018.

Se o cenário pessimista se desenhar, o ano, que prometia uma expansão de 3% ; segundo projeções iniciais de economistas ; apresentará desaceleração em relação a 2017. De acordo com o economista-chefe e sócio do Modalmais, Álvaro Bandeira, em véspera das eleições, o país todo está ;parado;. ;Para investimento, para produção, para vendas; Todo mundo está em compasso de espera para saber o que vai acontecer;, diz. O especialista fez uma retrospectiva econômica do ano e constata que a atividade pode não ter força suficiente para superar o 1% de crescimento do PIB em 2017.

;No primeiro trimestre, tivemos frustração das expectativas e o crescimento foi fraco. No segundo, a greve dos caminhoneiros atrapalhou a retomada. Agora, temos um período pré-eleitoral, que deixa todo mundo parado. A depender do resultado das eleições, podemos ter um ano pior ainda;, alerta Bandeira. O pessimismo em relação à economia tem explicação. Os índices setoriais não apresentam números bons. Em julho, mês mais recente de análise do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), houve recuo da produção industrial (0,2%), das vendas do comércio (0,5%) e dos serviços (2,2%).

Sem recuperação


A avaliação geral dos analistas é a de que o terceiro trimestre do ano só terá um desempenho positivo por conta da base de comparação fraca. O segundo trimestre foi fortemente impactado pela greve dos caminhoneiros, em maio, que resultou num PIB de apenas 0,2% no período. ;Com a comparação do trimestre, podemos melhorar um pouquinho, mas a expectativa para o ano continua muito fraca. A OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) revisou para baixo o crescimento econômico do Brasil para esse ano, indo para 1,2%, o mesmo que nós prevemos. É um resultado muito ruim, porque tivemos dois anos de recessão forte;, explica Bandeira.

Os dados setoriais mostram, inclusive, que há setores que não saíram da recessão. O economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fábio Bentes, ressalta que o volume de serviços fechará o ano em queda entre 0,5% e 1%. O setor é dependente da demanda pelo consumo, que não ocorre. Segundo o analista, o restante da economia terá um desempenho melhor, mas ainda aquém do esperado. Agricultura, construção civil e varejo devem demonstrar resultados tímidos, sem empolgar. ;O único setor que pode surpreender é a indústria, com a maior rentabilidade das exportações, influenciada pela alta do dólar;, conta.


Desconfiança


O baixo nível de confiança e perspectivas é o que está ditando a recuperação da economia. Com 12,9 milhões de desempregados e 4,8 milhões de desalentados ; aquelas pessoas que desistiram de procurar emprego, porque acham que não conseguiriam espaço ;, o consumo das famílias é baixo. A taxa de investimento está em 16% do PIB, uma das mais baixas do mundo, e as intenções de aposta na economia estão diminuindo. Os empresários esperam os resultados das eleições e a posse do próximo presidente da República. Os analistas ressaltam que a política econômica dos próximos anos será fundamental para o setor produtivo avaliar se o país terá, ou não, credibilidade para reorganizar a economia.

O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Ernesto Lozardo, afirma que, por enquanto, os debates presidenciais e as discussões econômicas não indicam para qual cenário o país conviverá a partir de 1; de janeiro do próximo ano. ;Não é claro. Não se sabe quais são as reformas que serão adotadas. Isso é altamente prejudicial para a economia;, diz. A indefinição sobre o futuro faz com que os empresários adiem os investimentos e os consumidores fiquem descrentes com a economia.

Para o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Ernesto Lozardo, enquanto não houver uma reforma da Previdência Social para reequilibrar as contas públicas, não será possível retomar a credibilidade do país para angariar investimentos. ;Não existe nenhum fundamento que se sustente sem a reforma da Previdência. Há certos problemas na economia que precisam ser enfrentados e ainda não há clareza de como isso será feito pelo próximo governo;, enfatiza .

Segundo os analistas, há clara deterioração das condições econômicas, que podem ser agravadas no 4; trimestre do ano. Se o próximo presidente eleito demonstrar indisposição com o ajuste fiscal, a tendência é que o PIB do ano seja ainda mais fraco. ;Estamos prevendo crescimento do PIB de 1,3% no ano;, afirma Bentes, economista-chefe da CNC. ;Essa projeção está com viés de baixa. E pode piorar se o resultado das eleições for preocupante para a economia;, completa.


Estímulos insuficientes


Mesmo com estímulos, a economia não engatou da forma esperada. A taxa Selic está no menor patamar da história, em 6,5% ao ano. O movimento permitiu a queda geral dos juros dos empréstimos, aumentando o acesso ao crédito. Mesmo com a forte alta do dólar, os preços estão controlados, permitindo que o poder de compra dos trabalhadores não se deteriore. A inflação oficial no acumulado de 12 meses está abaixo do centro da meta. As projeções de analistas apontam que não deve superar 4,20% em 2018, segundo o Relatório Focus, do Banco Central (BC).

Ainda assim, o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano deve frustrar os brasileiros. A equipe econômica do governo não esconde a expectativa ruim. O secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, admitiu a possibilidade de diminuição da projeção oficial. ;Já estamos caminhando para o fim do ano. Podemos fazer uma revisão na projeção do PIB ainda, mas a nossa estimativa é próxima do mercado;, afirma. A perspectiva do mercado é de que o crescimento seja de 1,36%.

Cenário


O economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fábio Bentes, destaca que o cenário está consolidado até as eleições. ;Sabemos que a economia vai crescer, mas pouco. Não vemos alguma variável que mude essa tendência de expansão fraca;, diz. O especialista também comenta o último balanço do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que revelou a criação de 110 mil empregos formais em agosto.

;Não é esse resultado que animou. É bom lembrar que tivemos uma série de frustrações nos últimos dados mensais e, para melhorar o desempenho do PIB, será necessário que o emprego ganhe mais força. As chances de isso acontecer não é muito grande, porque o Caged não inverteu a tendência. Os investimentos estão fracos. O Brasil está barato para investir, mas a taxa de retorno para o empresário não está clara, isso prorroga as aplicações;, explicou Bentes.

O economista-chefe da Modalmais, Álvaro Bandeira, diz que a taxa de investimento deveria estar em pelo menos 20% para dar mais otimismo. ;Só que isso não vai ocorrer. Vai continuar baixa e tem outro detalhe: também ficará nesses níveis entrando em 2019;, conta. ;Até sabermos o que será proposto e o que será viável de implementar, a dúvida vai sobressair e a credibilidade é fundamental para o crescimento mais forte. Por enquanto, os índices de confiança não apontam para um cenário estável;, completa.

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