Economia

Estrangeiros reduzem participação na dívida pública em R$ 20,6 bilhões

Volume de papeis da dívida interna nas mãos de investidor não-residente passou de 12,57% para 11,92% entre julho e agosto, a menor desde março deste ano. Contudo, estoque total da dívida federal continua crescendo e chega a R$ 3,785 trilhões no mês passado

Rosana Hessel
postado em 24/09/2018 10:22
Homens empurram cifrão, um em sentido contrário ao outro.
Enquanto o cenário político para o segundo turno as eleições presidenciais de 7 de outubro está cada vez mais consolidado entre os candidatos Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) em uma clara polarização entre esquerda e direita, segundo as últimas pesquisas de intenção de voto, o investidor estrangeiro está se desfazendo dos títulos da dívida brasileira emitidos no mercado doméstico em ritmo mais acelerado. Conforme dados divulgados nesta segunda-feira (24/09) pelo Tesouro Nacional, a participação de não-residentes passou de 12,57%, em julho, para 11,92%, em agosto, o menor patamar desde março deste ano, de 11,84%. Portanto, estão nas mãos dos estrangeiros R$ 432,74 bilhões, ou seja, R$ 20,60 bilhões a menos do que os R$ 453,36 bilhões computados em julho.

;Incertezas no mercado doméstico basicamente estão relacionadas às eleições;, resumiu o coordenador-geral de operações da dívida pública do Tesouro, Luis Felipe Vital, ao explicar a queda no interesse de estrangeiros por títulos soberanos. Ele admitiu que o interesse de forma geral vem caindo e o órgão vem ;adequando a oferta à demanda;, reduzindo o volume de emissões, mas não quantificou o percentual. Ele ainda reforçou a indicação dada ao mercado quando anunciou a mudança no Programa Anual de Financiamento (PAF) em agosto de que, neste ano, devido à forte volatilidade no mercado, o governo deverá rolar menos dívida, abaixo de 100% dos papeis que vencem neste ano. No ano passado, o Tesouro rolou 120% da dívida pública, mesmo percentual de 2015. Em 2016, essa taxa ficou em 100%.

Conforme os dados do Tesouro, o estoque total da Dívida Pública Federal (DPF) cresceu 0,98%, entre julho e agosto, passando de R$ 3,749 trilhões para R$ 3,785 trilhões, ou seja, um aumento de R$ 36 bilhões. Esse valor rompeu o piso de R$ 3,780 trilhões previsto no PAF, que tem um teto de R$ 3,980 trilhões.

A Dívida Pública Mobiliária Federal interna (DPMFi) cresceu 0,65% na mesma base de comparação, para R$ 3,609 bilhões. Desse montante, os fundos de Previdência e os fundos de investimento são os maiores detentores, com praticamente metade do total. Enquanto o primeiro aumentou sua fatia de 24,58% para 25,11%, entre julho e agosto, o segundo reduziu seu naco de 26,30% para 26,28%.

A dívida externa (DPFe) cresceu 9,53%, para R$ 154,7 bilhões, e, de acordo com o técnico, o governo continuará procurando não se financiar com emissões no mercado externo. ;Nossa estratégia é fazer emissões qualitativas, para criar uma curva de referência para a precificação dos títulos corporativos. Mas não temos intenção de fazer novas emissões desse tipo de papel no momento;, avisou Vital.

Custo maior


Assim como o estoque, o prazo médio da dívida total aumentou, passando de 4,17 anos para 4,20 anos, de julho para agosto. O custo médio da DPF também cresceu, se fortalecendo acima de dois dígitos. Passou de 10,49% ao ano para 10,76% anuais, na mesma base de comparação. Mas Vital minimizou esses dados e afirmou que eles estão dentro das metas do PAF e que o aumento do custo total é puxado, principalmente, pela desvalorização do real frente ao dólar.

;O custo da DPFe subiu 35,7% e esse aumento do comportamento do câmbio, mas como esse estoque é reduzido, o impacto na dívida total é marginal;, explicou. O técnico destacou que, apesar de a média dos juros em 12 meses da dívida interna ter crescido de 9,97% para 9,88% entre julho e agosto, o custo das emissões vem caindo. ;Em agosto a taxa média das emissões ficou em 8%, o menor valor desde a nossa série histórica, iniciada em 2010;, afirmou ele, acrescentando que a queda está relacionada à estratégia do Tesouro destacada na alteração do PAF em agosto que é aumentar as emissões de LFTs, títulos indexados à Selic (taxa básica da economia), que também está no menor patamar da história.

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