Jornal Correio Braziliense

Economia

Competição entre operadoras de telecomunicações reduz tarifas

A despeito da alta carga tributária cobrada no Brasil, batalha entre operadoras de celular faz com que custo de minutos e dados só perca para China, Rússia e Índia


Você já deve ter recebido ligações no celular de um atendente de operadora concorrente oferecendo alguma proposta sedutora, como minutos ilimitados, maior franquia de internet e a promessa de cobertura em qualquer lugar do Brasil. A batalha das empresas do setor por novos clientes tem feito com que o custo da telefonia no Brasil deixe o time dos mais caros do mundo para os mais baratos no ranking global ; tanto em serviços de voz quanto em pacote de dados.

Considerando-se o valor em dólar, o Brasil apresentou, na média geral por usuário, o resultado de US$ 3,9, atrás de China (US$ 1,8), Rússia (US$ 2,7), Índia (US$ 3,1) e Portugal (US$ 3,6). Chamada de cesta base, a pesquisa, que foi realizada pela consultoria Teleco, considera o total de 100 minutos de chamadas, sendo 70% voltados para ligações para celulares da mesma prestadora, 15% para chamadas para outras prestadoras móveis no Brasil e 15% em ligações para telefones fixos (da própria prestadora ou de outras) também nacionais.

;A competição permitiu o desenvolvimento de novos serviços e redução dos custos para os usuários;, diz o presidente da consultoria Teleco, Eduardo Tude, lembrando que o processo de privatização, realizado há duas décadas, ajudou a modernizar o mercado brasileiro de telefonia.

O estudo ;O Desempenho Comparado das Telecomunicações do Brasil;, realizado pela entidade, comparou os preços de utilização dos serviços de telefonia móvel pessoal pré-pago (celular pré-pago), banda larga móvel pré-paga e pós-paga (por meio de smartphones), telefonia fixa e banda larga fixa no Brasil com o de outros países. Um novo estudo está sendo elaborado e deve, diante da valorização do dólar frente ao real, indicar melhora ainda maior da posição do Brasil.

Além de os gastos com a internet serem uma das mais baratos, os minutos para ligações em linhas pré-pagas também são mais baixos no país. O mesmo levantamento indica que o Brasil ocupa o 4; lugar entre os mercados com os serviços mais baratos de minutos oferecidos para as linhas pré-pagas. De acordo com a Teleco, o preço do minuto com impostos despencou de US$ 0,066, em 2016, para R$ 0,039 atualmente. A China, a Rússia e a Índia são as nações que ocupam as primeiras colocações dessa lista.

O levantamento, no entanto, releva que o Brasil impõe a maior carga tributária entre todos os mercados pesquisados. Os impostos cobrados no país representam 43% da receita líquida das empresas, quase o dobro do segundo colocado, a Argentina (26%) e 14 vezes mais que os da China (3%). A estratégia brasileira para reduzir custos se ancorou, principalmente, na oferta de serviços conjugados. ;Nossa estratégia foi aumentar a rentabilidade da companhia e fidelizar o cliente, propondo redução de cerca de 30% de seus gastos com serviços de telecomunicação;, disse Bernardo Winik, diretor de varejo da operadora Oi, ao destacar o plano Oi Total, uma espécie de combo de celular, com minutos e dados, além de TV e internet fixa.

Para Tude, da Teleco, os custos mais baixos estão em linha com a evolução tecnológica e a mudança de comportamento do consumidor no que se refere a serviços de telecomunicações. Nos últimos anos, o uso de dados está substituindo o de voz e o móvel tornou o fixo um acessório decadente.


Rentabilidade


;O nível de competição no mercado brasileiro de telecomunicações está em patamar semelhante ao de países como Estados Unidos e Reino Unido, pelo indicador que mede concentração de mercado, o HHI;, afirmou o executivo. Mas há um lado negativo nisso, segundo ele. ;Ao mesmo tempo, o retorno sobre capital empregado se deteriorou nos últimos cinco anos na indústria de telecomunicações.;

Os preços baixos para o consumidor, que reduziram na mesma proporção a rentabilidade das operadoras, fazem com que esse setor seja cada vez mais desafiante. A Oi precisou fazer um plano de recuperação judicial em junho do ano passado, diante de uma dívida de R$ 65 bilhões.

A Nextel também está em apuros. A acionista Ice Group desistiu, em fevereiro deste ano, de injetar US$ 150 milhões adicionais para assumir o controle da Nextel Brasil, aumentando sua participação na empresa para 60%. A empresa havia adquirido 30% da Nextel Brasil por US$ 50 milhões no ano passado. A NII, controladora da Nextel Brasil, contratou escritório especializado em fusões e aquisições para vender a sua participação. Em junho deste ano, a empresa tinha dívida de US$ 588 milhões.