Economia

Competição entre operadoras de telecomunicações reduz tarifas

A despeito da alta carga tributária cobrada no Brasil, batalha entre operadoras de celular faz com que custo de minutos e dados só perca para China, Rússia e Índia

Jaqueline Mendes
postado em 26/09/2018 06:00
Gasto menor reflete evolução tecnológica e comportamento do consumidor, que usa mais dados que voz
Você já deve ter recebido ligações no celular de um atendente de operadora concorrente oferecendo alguma proposta sedutora, como minutos ilimitados, maior franquia de internet e a promessa de cobertura em qualquer lugar do Brasil. A batalha das empresas do setor por novos clientes tem feito com que o custo da telefonia no Brasil deixe o time dos mais caros do mundo para os mais baratos no ranking global ; tanto em serviços de voz quanto em pacote de dados.

Considerando-se o valor em dólar, o Brasil apresentou, na média geral por usuário, o resultado de US$ 3,9, atrás de China (US$ 1,8), Rússia (US$ 2,7), Índia (US$ 3,1) e Portugal (US$ 3,6). Chamada de cesta base, a pesquisa, que foi realizada pela consultoria Teleco, considera o total de 100 minutos de chamadas, sendo 70% voltados para ligações para celulares da mesma prestadora, 15% para chamadas para outras prestadoras móveis no Brasil e 15% em ligações para telefones fixos (da própria prestadora ou de outras) também nacionais.

;A competição permitiu o desenvolvimento de novos serviços e redução dos custos para os usuários;, diz o presidente da consultoria Teleco, Eduardo Tude, lembrando que o processo de privatização, realizado há duas décadas, ajudou a modernizar o mercado brasileiro de telefonia.

A despeito da alta carga tributária cobrada no Brasil, batalha entre operadoras de celular faz com que custo de minutos e dados só perca para China, Rússia e Índia O estudo ;O Desempenho Comparado das Telecomunicações do Brasil;, realizado pela entidade, comparou os preços de utilização dos serviços de telefonia móvel pessoal pré-pago (celular pré-pago), banda larga móvel pré-paga e pós-paga (por meio de smartphones), telefonia fixa e banda larga fixa no Brasil com o de outros países. Um novo estudo está sendo elaborado e deve, diante da valorização do dólar frente ao real, indicar melhora ainda maior da posição do Brasil.

Além de os gastos com a internet serem uma das mais baratos, os minutos para ligações em linhas pré-pagas também são mais baixos no país. O mesmo levantamento indica que o Brasil ocupa o 4; lugar entre os mercados com os serviços mais baratos de minutos oferecidos para as linhas pré-pagas. De acordo com a Teleco, o preço do minuto com impostos despencou de US$ 0,066, em 2016, para R$ 0,039 atualmente. A China, a Rússia e a Índia são as nações que ocupam as primeiras colocações dessa lista.

O levantamento, no entanto, releva que o Brasil impõe a maior carga tributária entre todos os mercados pesquisados. Os impostos cobrados no país representam 43% da receita líquida das empresas, quase o dobro do segundo colocado, a Argentina (26%) e 14 vezes mais que os da China (3%). A estratégia brasileira para reduzir custos se ancorou, principalmente, na oferta de serviços conjugados. ;Nossa estratégia foi aumentar a rentabilidade da companhia e fidelizar o cliente, propondo redução de cerca de 30% de seus gastos com serviços de telecomunicação;, disse Bernardo Winik, diretor de varejo da operadora Oi, ao destacar o plano Oi Total, uma espécie de combo de celular, com minutos e dados, além de TV e internet fixa.

Para Tude, da Teleco, os custos mais baixos estão em linha com a evolução tecnológica e a mudança de comportamento do consumidor no que se refere a serviços de telecomunicações. Nos últimos anos, o uso de dados está substituindo o de voz e o móvel tornou o fixo um acessório decadente.


Rentabilidade


;O nível de competição no mercado brasileiro de telecomunicações está em patamar semelhante ao de países como Estados Unidos e Reino Unido, pelo indicador que mede concentração de mercado, o HHI;, afirmou o executivo. Mas há um lado negativo nisso, segundo ele. ;Ao mesmo tempo, o retorno sobre capital empregado se deteriorou nos últimos cinco anos na indústria de telecomunicações.;

Os preços baixos para o consumidor, que reduziram na mesma proporção a rentabilidade das operadoras, fazem com que esse setor seja cada vez mais desafiante. A Oi precisou fazer um plano de recuperação judicial em junho do ano passado, diante de uma dívida de R$ 65 bilhões.

A Nextel também está em apuros. A acionista Ice Group desistiu, em fevereiro deste ano, de injetar US$ 150 milhões adicionais para assumir o controle da Nextel Brasil, aumentando sua participação na empresa para 60%. A empresa havia adquirido 30% da Nextel Brasil por US$ 50 milhões no ano passado. A NII, controladora da Nextel Brasil, contratou escritório especializado em fusões e aquisições para vender a sua participação. Em junho deste ano, a empresa tinha dívida de US$ 588 milhões.

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