Economia

Estagnada, produtividade contém volta do crescimento econômico

Pelo sétimo ano consecutivo, ritmo de produção de bens e serviços não avançará em 2018. Queda da eficiência nas empresas comprime margens de lucro e trava aumento de salários

postado em 26/09/2018 06:00
A eficiência do trabalhador brasileiro é impactada pela alta carga tributária e o baixo investimento em educação
São Paulo ;
A produtividade brasileira só deve voltar a crescer no ano que vem, segundo projeções da empresa de consultoria e análises econômicas Tendências. No começo do ano, a consultoria projetava avanço de 0,5%. Agora, prevê recuo de 0,4%. A retomada ficou mesmo para 2019 e o tamanho do crescimento dependerá do futuro presidente ; e de sua capacidade para aprovar as reformas que o país precisa, na avaliação dos economistas da Tendências.

Se confirmado o novo cenário, significa que a produtividade, fundamental para o crescimento sustentável de qualquer país, cairá por sete anos. De a 2012 a 2017, o indicador registrou recuo acumulado de 6,45%. Num conceito simplificado, a produtividade mede o nível de eficiência do setor produtivo, que usa pessoas e máquinas para fabricar bens e oferecer serviços. Quanto mais produtivo, mais rico é um país porque consegue fazer com que cada pessoa gere mais riquezas. A queda na produtividade reduz as margens de lucro das empresas, tira competitividade da produção nacional e dificulta aumentos reais dos salários ; ou seja, afeta toda a economia.

Um trabalhador americano produz, em média, o mesmo que quatro brasileiros. Segundo estudo da Conference Board divulgado no fim do ano passado, cada brasileiro produziu, em média, US$ 30.265 em 2016. Já um americano, US$ 121.260.

No começo do ano, havia a expectativa de que o indicador subisse, impulsionado pela recuperação econômica, pela queda dos juros a mínimas históricas e pela aprovação de reformas, como a trabalhista, e a Lei de Responsabilidade das Estatais. Segundo Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências, três fatores justificaram a revisão da projeção para 2018. Todos eles estão ligados à redução da projeção do PIB (Produto Interno Bruto, a soma da produção de bens e serviços no país), que deve crescer 1,2% nas contas da consultoria, ante 2,8% na projeção inicial.

O primeiro fator é o cenário eleitoral bastante incerto. A indefinição a respeito do possível ganhador ; e qual será a política econômica do futuro presidente ;, adia os investimentos das empresas e, consequentemente, afeta o PIB e a produtividade.

O segundo fator é o cenário externo ruim para os negócios. A despeito da alta do dólar, a crise em países que importam produtos brasileiros, como a Argentina, impacta negativamente no PIB e na produtividade. Por fim, a greve dos caminhoneiros também provocou efeitos perversos. Além do impacto no nível de produção durante a greve, as medidas adotadas para debelar as manifestações, como o tabelamento de preço do frete, criaram um ambiente de incertezas para economia, inibindo ainda mais os investimentos.

Pelo sétimo ano consecutivo, ritmo de produção de bens e serviços não avançará em 2018. Queda da eficiência nas empresas comprime margens de lucro e trava aumento de saláriosPara 2019, as projeções da Tendências variam conforme a agenda a ser adotada pelo próximo presidente. Se o eleito adotar a agenda de reformas para equilibrar as contas públicas, como a previdenciária, e mantiver a lei do teto de gastos, a produtividade pode avançar 0,5%. Mas, se a intensidade das reformas for menos ambiciosa, o índice pode avançar 0,1% ou 0,2%. ;Acreditamos que, independentemente de quem for eleito, o pragmatismo vai imperar e, bem ou mal, alguma reforma será feita;, diz Alessandra.

Ajustar as contas públicas é o passo fundamental para a retomada da produtividade. ;O governo precisa cuidar da agenda macroeconômica para estabelecer as bases para a retomada da economia, pois diminui a percepção de risco por parte dos investidores;, diz a sócia da Tendências.

Por si só o ajuste não tem potencial para recuperar os níveis da produtividade. Em 2012, por exemplo, as contas públicas fecharam o ano com superávit de R$ 91 bilhões, ou 2,39% do PIB. E a produtividade caiu 0,7%. Naquele momento, especialistas já diziam que, para crescer de forma robusta, o país precisaria impulsionar a eficiência da economia, que mostrava sinais de esgotamento da oferta. ;Já se vislumbrava que, para continuar crescendo, o país precisaria melhorar a produtividade;, diz Maurício Molon, economista-chefe do banco Santander. ;Infelizmente, deixamos essa discussão de lado e o país regrediu.;

Impostos

O crescimento da produtividade depende do que os economistas chamam de ;agenda microeconômica;, que tem o potencial de destravar gargalos do ambiente de negócios. Fazem parte dessa agenda avanços institucionais que aumentem a segurança jurídica, a reforma tributária, além de investimentos em educação e infraestrutura.

;O ambiente de negócios no Brasil é hostil às empresas e prejudica a produtividade;, diz Marco Stefanini, presidente da empresa de serviços de tecnologia Stefanini, que atua em 40 países. O que isso significa na prática? ;Aqui perdemos muito tempo lidando com questões como ações trabalhistas, burocracia e mudanças de leis;, diz.

Alguns exemplos: no Brasil, a Stefanini precisa de seis vezes mais funcionários do que nos Estados Unidos para elaborar a folha de pagamentos ; e quatro vezes mais pessoas dedicadas a lidar com a burocracia tributária. ;São recursos que poderiam ser direcionados para gerar valor à empresa se o ambiente de negócios fosse melhor;, diz Stefanini.

Segundo o Santander, o crescimento potencial do país, isto é, quanto o PIB cresce sem que a inflação aumente, está em 2%. Para subir 4% de forma consistente, a produtividade precisa crescer a uma taxa média de 2,3% ao ano, e os investimentos saírem de cerca de 16% para 21% do PIB. Como se vê, não é uma tarefa simples ; mas é fundamental para que o país supere o ritmo de ;voo de galinha; com que costuma crescer: baixo e com curta duração.

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