Economia

Golfajn reforça mensagem sobre alta dos juros se riscos aumentarem

Presidente do BC destacou a necessidade de continuidade de reformas no próximo governo, mas evitou manifestar opiniões sobre propostas dos candidatos ao Planalto

Rosana Hessel
postado em 27/09/2018 12:22
O presidente do BC alegou preferir manter a neutralidade sobre a questão política
O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, reforçou a mensagem da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada na semana passada, sinalizando a possibilidade de uma alta gradual nos juros em caso de piora nos cenários interno e externo. Ao explicar a manutenção da Selic (taxa básica da economia) em 6,5% ao ano pela quarta vez consecutiva, ele destacou que o comitê entendeu que a política monetária deveria continuar sendo ;estimulativa;, com taxa de juros abaixo da taxa estrutural da economia, que para alguns especialistas gira em torno de 8% a 8,5%.

;Mas esse estímulo será removido gradualmente caso o cenário prospectivo para a inflação no horizonte relevante para a política montaria ou seu balanço de riscos apresentarem piora;, afirmou, acrescentando que os riscos aumentaram. ;Caracterizamos o balanço de riscos como assimétrico (na ata) e continuamos a caracterizá-lo assimétrico. Há riscos para os dois lados. A capacidade ociosa pode surpreender com uma inflação mais baixa, mas tem dois riscos crescendo e um deles é o risco de frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes e o outro é o cenário internacional mais incerto, especialmente, para as economias emergentes;, explicou Goldfajn, nesta quinta-feira (27/09) durante a Relatório Trimestral de Inflação (RTI).

Ao ser questionado mais de uma vez se aceitaria um convite para participar de um eventual governo de Jair Bolsonaro (PSL) ou de Fernando Haddad (PT), que lideram as pesquisas recentes de intenção de voto, o presidente do BC, evitou comentar o assunto e alegou preferir manter a neutralidade sobre a questão política. Mas ele disse que não houve convite de nenhuma das partes. ;Faz parte do meu papel não entrar nessas provocações. Isso não ajuda. O país precisa de atores neutros e que vão fazer o que for para frente;, afirmou. Ele, inclusive, evitou comentar sobre as propostas dos candidatos à Presidência.

PIB menor


O Banco Central reduziu de 1,6% para 1,4% a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, conforme o RTI divulgado hoje. No documento, o BC projeta pela primeira vez o crescimento de 2,4% para a economia em 2019, abaixo da mediana das expectativas do mercado computadas pelo Boletim Focus, de 2,5%. Segundo Goldfajn e o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Viana de Carvalho, essas projeções ainda dependem de uma série de variáveis. Ambos sinalizaram que há diferenças entre as projeções do BC e do mercado, mas conforme as incertezas, o desempenho da economia pode ser melhor ou pior do que estão prevendo no momento.

;O cenário contempla a continuidade da recuperação econômica em ritmo mais gradual e o cenário externo continua desafiador devido aos riscos associados à normalização de taxas de juros de algumas economias avançadas e incertezas referentes ao comércio global;, resumiu Viana. Segundo ele, o apetite dos investidores em relação aos países emergentes diminuiu e o desafio para a economia brasileira será ancorar as expectativas do mercado. ;É importante ressaltar que essas estimativas pressupõem a continuidade de reformas;, frisou o diretor do BC, reforçando o conteúdo da última ata do Copom, publicada na terça-feira (25/09). Ele também alertou que, se a conjuntura após as eleições de outubro sinalizar que essa agenda reformista será abandonada pelo próximo presidente do Brasil, volta do ciclo de "normalização" da Selic será retomado.

De acordo com Viana, a redução na previsão do PIB deste ano levou em consideração o fato de o consumo ter sido mais baixo no segundo trimestre, influenciado pela paralisação dos caminhoneiros. Ele lembrou que o setor de serviços mostra uma recuperação mais lenta e gradual. Entre os componentes do PIB para 2018, o BC reduziu de 1,9% para 1,5% a projeção de alta para a produção agropecuária. No caso da indústria, a estimativa de crescimento passou de 1,6% para 1,3% e, para o setor de serviços, foi mantida a previsão de expansão de 1,3% no ano. Pela ótica da demanda, o BC reduziu a previsão de expansão do consumo das famílias, de 2,1% para 1,8%. E a taxa de queda do consumo do governo subiu de 0,2% para 0,3%. O documento ainda elevou a projeção de investimento na economia em 2018, medida pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que passou 4,0% para 5,5%.

Impacto da greve


Viana ainda destacou uma análise do BC sobre o impacto da grave dos caminhoneiros na inflação, que usou as projeções da pesquisa Focus. ;O impacto foi significativo, mas temporário. As projeções para a inflação de curto prazo se elevaram após o evento, mas posteriormente, para os meses seguintes, recuaram;, resumiu.

No documento, o BC elevou de 4,2% para 4,4% a perspectiva de inflação para este ano, abaixo o centro da meta, de 4,5%. Para o ano que vem, a taxa prevista para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), passou de 4,1% para 4,5%, acima da meta de 2019, de 4,15%. O intervalo de tolerância está em 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Esses dados consideram as projeções de Selic e de câmbio constantes. O dólar passou de R$3,70, no relatório de junho, para R$4,15, agora em setembro.

Os diretores do BC reforçaram que a evolução do cenário básico e do balanço de riscos prescreve a manutenção da taxa Selic no nível vigente, mas ressaltaram que, ;os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos das projeções das expectativas de inflação;. Goldfajn reforçou a necessidade de reformas no próximo governo. ;Para o BC é importante ver essas reformas acontecendo para ficarmos mais confortáveis em relação ao futuro;, afirmou.

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