Economia

Otimismo eleitoral do mercado derruba o dólar e eleva bolsa a 80 mil pontos

Acordo da Petrobras nos EUA e ajuste na B3, depois de um primeiro semestre de queda influenciada pela possível candidatura de Lula, e greve dos caminhoneiros, levam a divisa norte-americana a R$ 3,995

Gabriel Ponte*
postado em 28/09/2018 06:00
Infográfico sobre a Ibovespa e o dólar
Em dia de forte volatilidade no mercado financeiro, o dólar fechou abaixo de R$ 4, pela primeira vez desde 20 de agosto, cotado a R$ 3,995, com queda de 0,79%. Na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), os investidores se mostraram otimistas. O Ibovespa, principal índice da B3, encerrou o pregão aos 80 mil pontos, em alta de 1,71%. As ações da Petrobras foram a estrela do dia, depois da confirmação, pela estatal, do fechamento de acordo, com autoridades dos Estados Unidos, para encerrar a investigação no referente à Operação Lava-Jato, a partir do pagamento da multa equivalente a R$ 3,6 bilhões.

Para Renan Silva, economista da BlueMetrix Ativos, o otimismo observado na Bolsa está relacionado às oportunidades conferidas ao investidor. ;Existe a junção de alguns fatores para a explicação desse recente comportamento. No primeiro semestre, a B3 sofreu um forte desconto com a greve dos caminhoneiros e a indecisão em relação à candidatura de Lula, que acabou barrada pela Lei da Ficha Limpa. Com isso, houve depreciação dos preços e as empresas perderam valor. Apesar disso, houve melhora do primeiro para o segundo trimestre, o que resultou em uma boa safra de dividendos, além da taxa Selic estar em um patamar mínimo. É uma janela de oportunidade para quem quer investir no longo prazo;, explicou.

O movimento do dólar se manteve na semana. Na quarta-feira, a moeda norte-americana havia fechado em queda de 1,39%, a R$ 4,026. Entre as 24 principais divisas emergentes, o real foi a segunda moeda que mais se valorizou em relação ao dólar, ficando atrás apenas da Lira Turca. Segundo Silva, o fato de o dólar encerrar o dia abaixo da barreira dos R$ 4 sinaliza uma situação favorável. ;É uma barreira psicológica importante. Isso mostra um mercado mais otimista. É importante a ruptura. Dessa forma, fica bastante diluída a ideia de pânico, sinalizando que as coisas podem estar nos eixos;, relacionou. Ontem, o Bank of America Merrill Lynch (BofA), por meio de nota, analisou que as incertezas eleitorais no país estão menos ;assimétricas;, elevando as recomendações dos bônus brasileiros, que constituem a dívida externa do país.

Na visão de Fernanda Consorte, estrategista de câmbio do Banco Ourinvest, o mercado acompanha, minuciosamente, as últimas pesquisas eleitorais. ;Os investidores têm uma predileção por Bolsonaro, que, segundo eles, teria mais inclinação de fazer reformas necessárias. Dessa forma, olhando nas entrelinhas das pesquisas, dá a entender que o Bolsonaro está mais forte que os números gerais. Eu tenho um pé atrás dessa leitura. Quando olho as pesquisas, não apostaria nessa bonança. Ainda tem uma semana inteira de disputa;, explicou. Para Fernanda, o momento ainda não é de definição. ;Assim, fico receosa. Entendo o movimento do mercado, mas, como estrategista, acho cedo. Eu teria mais cautela;, revelou.

Emergentes

De acordo com Pablo Spyer, diretor de operações da Mirae Asset, a conjuntura atual envolve e favorece alguns emergentes. ;Na conjuntura internacional, globalmente, está bem pior, mas, para os EUA, está ótimo. Ontem, vimos os índices para cima, um bom humor generalizado;, constatou. Na visão de Spyer, o Brasil volta a constituir um mercado de oportunidades. ;Se você acompanha, o câmbio do Brasil é o segundo que mais melhora entre os emergentes. Em suma, é um avião. Temos momentos de altas e baixas. O dólar estava subindo, já que o investidor fugia daqui. Porém, quando sobe muito, a Bolsa fica mais barata, gerando uma nova gama de oportunidades para investidores, que não são especuladores. Esses caras que entram com recursos no país com o dólar caro são investidores de longo prazo. Além disso, observando os dados, os volumes negociados aumentaram. Os números estão bons, e o risco país caiu também;, constatou.

Dados da B3 mostram que, entre os meses de fevereiro e maio, período que envolveu o imbróglio relacionado à prisão do ex-presidente Lula (PT) e a greve dos caminhoneiros, o saldo da movimentação dos investidores estrangeiros ficou negativo em R$ 13,561 bilhões. Já entre os meses de junho e setembro, ficou em R$ 2,758 bilhões, sinalizando uma movimentação maior de compras do que vendas. Isso sinaliza que o investidor estrangeiro está voltando para o país.

* Estagiário sob supervisão de Rozane Oliveira

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