Economia

Leilão de blocos do pré-sal rende R$ 6,8 bilhões, segundo estima o governo

Licitação contou com presença de grandes petroleiras estrangeiras. Petrobras levou apenas um lote

Bruno Santa Rita*
postado em 29/09/2018 08:00

Para a Agência Nacional do Petróleo (ANP), sucesso do certame garante que a produção dos campos não será interrompida

O governo arrecadou ontem R$ 6,82 bilhões com a licitação de quatro blocos de exploração de petróleo na área do pré-sal, nas bacias de Campos e de Santos. A expectativa da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), é a de que, ao longo de 35 anos, o pagamento de royalties e participações especiais pelas empresas vencedoras alcance R$ 235 bilhões. Ao todo, 12 empresas concorreram aos lotes oferecidos, incluindo gigantes internacionais do setor, como Chevron, ExxonMobil, Shell, Total e CNOOC.

O diretor-geral da ANP, Décio Oddone, comemorou a atração de investidores privados para a operação da área no Brasil. ;É uma garantia para a população de que, independentemente do que aconteça com qualquer empresa, temos seis operadoras no pré-sal;, observou. Oddone também afirmou que, em caso de nova crise na Petrobras, a presença de outras empresas impediria que o trabalho no pré-sal fosse interrompido.

A Petrobras ficou longe de ser a protagonista do leilão. Diferentemente do que ocorreu em outras licitações, a estatal adquiriu apenas o bloco Sudoeste de Tartaruga Verde (área menos cobiçada pelas empresas), sem concorrência. O consórcio formado por Shell e Chevron levou o bloco Saturno. Já as empresas ExxonMobil e QPI Brasil arremataram o bloco Titã. Por fim, o consórcio formado pela BP, Ecopetrol e CNOOC obteve o bloco Pau-Brasil.

Para o pesquisador e economista Felipe Queiroz, os leilões representam uma ;entrega do pré-sal;. ;É uma política neoliberal seguida pelo governo Temer. Antes, havia uma política de conteúdo local, de desenvolvimento da nossa economia;, criticou. De acordo com Queiroz, a política atual visa atender interesses do capital internacional. No entendimento de Queiroz, se a maior parte do pré-sal fosse explorada pela Petrobras, isso forçaria a cadeia produtiva a evoluir suas tecnologias de extração.

O economista da Universidade de Brasília (UnB) César Bergo acredita que os leilões de áreas de exploração do pré-sal são uma boa saída para o Brasil. ;Com a abertura para outras empresas, conseguimos fazer com que o pré-sal seja explorado. Sem recursos e investimentos, a Petrobras não conseguiria fazer isso;, analisou. ;O pré-sal aparece como uma boa alternativa para o Brasil. Petróleo é chamado de ouro negro por uma razão. Ele é valioso e extraí-lo vai gerar emprego e permitir a elevação do patamar tecnológico do país com os investimentos;, ressaltou.

;Se você tem algo para explorar e não tem dinheiro, é preferível deixar a exploração acontecer e ser dono de uma parcela disso;, argumentou. Ele acredita, porém, que o ideal seria que o próprio Brasil pudesse explorar a área. ;O ideal seria manter a exploração aqui, mas, infelizmente, não é possível;, avaliou. Bergo lembra que se parte do princípio de que a empresa que gastou dinheiro vai trabalhar para manter o lucro pretendido, inclusive a parcela que será destinada ao Brasil.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) emitiu nota em que considerou os leilões como bem-sucedidos. ;A arrecadação de R$ 6,82 bilhões na 5; rodada de Licitações de partilha da Produção e a participação de 12 das principais empresas mundiais do setor de petróleo confirmam o grande potencial do país na produção de óleo;, disse a entidade, em nota.

O especialista em políticas e indústria da CNI, Roberto Wagner Pereira, defendeu a participação da iniciativa privada em todos os setores da economia no Brasil. ;No caso específico, depois da mudança de regra de partilha, isso gerou a possibilidade de empresas de fora participarem dos leilões;, argumentou. Pereira explicou que são vários os ganhos para o país. ;Em primeiro lugar, vamos ganhar com o dinheiro da compra, depois com os investimentos diretos, que são o maquinário, estrutura. Tudo isso prevê mais de R$ 1 bilhão para ser investido nos blocos;, defendeu.

Ele ainda garantiu que a as refinarias terão bastante trabalho com o novo volume de produção que vai vir com a exploração do pré-sal. ;Uma boa parte do nosso petróleo é vendido para fora. Isso deve aumentar a escala de exportação do produto. Para a indústria, isso é um ganho muito grande;, afirmou.

Para Queiroz, há uma pressão muito forte no setor para que os leilões aconteçam. ;É um lobby muito forte. Você tem um bloco de empresas estrangeiras muito grandes que querem pegar esses campos privilegiados. E do outro lado vem a pressão da estatal;, disse. Ele também afirmou que a Petrobras está descapitalizada e isso fortalece a ideia de que as empresas estrangeiras possam trazer investimentos internos para o país.


Cartas na mesa

Bloco - Vencedor - Óleo excedente - Ágio
Saturno - Consórcio Shell (50%) e Chevron (50%) - 70,20% - 300,23%
Titã - Consórcio ExxonMobil (64%) e QPI (36%) - 23,49% - 146,48%
Pau Brasil - Consórcio BP Energy (50%), Ecopetrol (20%), CNOOC Petroleum (20%) - 63,79% - 157,01%
Sudoeste de Tartaruga Verde - Petrobras - 10,01% - Zero

* Estagiário sob supervisão de Odail Figueiredo

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