Economia

Empresas adiam planos para fusões ou compras de ativo

Houve poucas transações de grandes empresas, com retração de 34%

Jaqueline Mendes
postado em 05/10/2018 06:00
Lavoura de eucalipto da Fibria, que protagonizou operação de destaque ao adquirir a Suzano Celulose, formando empresa de R$ 84 bilhões
São Paulo ; Havia tudo para ser um ano de intensa movimentação no mercado de fusões e aquisições. A compra da Fibria pela Suzano Papel e Celulose, que formou uma gigante de R$ 84 bilhões em valor de mercado, a incorporação da Somos Educação pela Kroton, por R$ 4,5 bilhões, e venda da Eletropaulo para a Enel, por R$ 5,5 bilhões, criaram falsa sensação de que 2018 seria o ano das grandes consolidações. Não foi.

De acordo com um estudo realizado pela consultoria Thomson Reuters Deals Intelligence, as fusões e aquisições internas ; feitas entre empresas brasileiras ; acumulam forte queda, com retração de 34% para 2018, somando 142 transações e US$ 18,4 bilhões movimentados. Trata-se do menor patamar em fusões e aquisições internas desde 2006. No geral, considerando-se negócios entre empresas locais e estrangeiras, a queda atingiu 27% quando comparada aos oito primeiros meses de 2017, no período de janeiro a agosto.

;A crise avançou sobre a economia e fez com que as aquisições de grande porte se retraíssem;, diz o economista José Leonelio, gerente de soluções de risco da Thomson Reuters. ;Nem mesmo a forte valorização do dólar frente ao real neste ano, que fez com que as empresas brasileiras ficassem mais baratas, mudou esse cenário.;

Parte dessa retração se explica pelas incertezas geradas pelas eleições na economia brasileira, mas também reflete um movimento quase generalizado no mundo. No terceiro trimestre, houve queda de 38% das fusões e adquisições na região Ásia-Pacífico e de 14% na Europa. ;O mercado asiático, principalmente, tem sido muito afetado pela guerra comercial travada entre Estados Unidos e China;, diz o economista e professor de relações internacional da Fesp-SP, Ivan Campos.

No caso do Brasil, sob qualquer base de comparação, o resultado é negativo. No acumulado do ano até o fim de agosto, as operações de fusões e aquisições de empresas brasileiras por estrangeiras registraram recuo de 11%, totalizando 121 transações, que movimentaram US$ 12,6 bilhões.

Já as operações em que companhias nacionais compraram ou se fundiram a empresas estrangeiras registraram queda de 62% se comparadas aos dois primeiros quadrimestres de 2017, atingindo o menor volume em 15 anos. ;Embora a queda tenha sido acentuada na comparação ano a ano, o Brasil acumula US$ 31 bilhões em operações de fusão e aquisição nos primeiros oito meses deste ano, uma cifra acima da média para o período nos últimos cinco anos, que é de US$ 28 bilhões;, afirmou Leonelio. A média dos últimos 10 anos, no entanto, é de US$ 36,9 bilhões por ano entre janeiro e agosto, indicando enfraquecimento desse processo.

Os cálculos realizados pela Thomson Reuters retratam a relação entre os volumes de fusões e aquisições e os mandatos presidenciais de cada período desde 1995. O momento de maior movimentação ocorreu no último mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De 2008 a 2010, foram contabilizados mais de US$ 300 bilhões em fusões e aquisições envolvendo empresas brasileiras.

A partir do início do primeiro mandato da ex-presidente Dilma Rousseff, os gráficos apontam quedas constantes, partindo de um volume de mais de US$ 70 bilhões em 2011 para menos de US$ 40 bilhões em 2015. Nos dois primeiros anos de gestão do presidente Michel Temer, registrou-se crescimento e, agora, há um novo movimento de queda. ;Os gráficos sugerem que esse mercado, assim como tantos outros, reage aos momentos de estabilidade política no país e também aos momentos de maior incerteza;, disse Leonelio.

Na contramão

Em sentido contrário, o volume movimentado por aquisições de empresas brasileiras por companhias dos Estados Unidos e da Itália cresceu. Liderado pela negociação entre Boeing e Embraer, o volume movimentado em negociações de companhias americanas adquirindo empresas do Brasil cresceu de US$ 1,29 bilhão, nos primeiros oito meses do ano passado, para US$ 4,24 bilhões no mesmo período deste ano, avanço de 229%.

A aquisição de 70% da Eletropaulo pela italiana Enel também foi fator fundamental para puxar para cima as cifras envolvendo aquisições de empresas brasileiras. O volume total de transações entre companhias italianas e brasileiras passou de US$ 184 milhões, no período de janeiro e agosto de 2017, para US$ 3,27 bilhões neste ano, expansão de 1.680%.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação