Economia

Inflação deve levar o BC a aumentar a taxa de juros até o fim do ano

IPCA de setembro fecha em 0,48% e leva acumulado em 12 meses para 4,53%, acima do centro da meta estipulada pelo CMN, pela primeira vez em 18 meses. Alta pode antecipar necessidade de o Banco Central elevar a taxa Selic

Hamilton Ferrari, Andressa Paulino*
postado em 06/10/2018 07:00
IPCA de setembro fecha em 0,48% e leva acumulado em 12 meses para 4,53%, acima do centro da meta estipulada pelo CMN, pela primeira vez em 18 meses. Alta pode antecipar necessidade de o Banco Central elevar a taxa Selic
O período de inflação abaixo do centro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4,5%, pode estar com os dias contados. Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, em setembro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) variou 0,48%, num movimento de alta acima do esperado pelo mercado. Com isso, a taxa no acumulado de 12 meses chegou a 4,53%, acima do esperado pelo governo, fazendo com que economistas revisassem para cima as projeções de inflação para 2018 e intensificassem o discurso de que o Banco Central (BC) poderá elevar a taxa Selic ainda este ano.

Os juros estão em 6,5% ao ano, no menor índice da história. Esse patamar, porém, pode mudar, conforme sinalizou o Comitê de Política Monetária (Copom) na última reunião. Com as pressões inflacionárias, causadas, principalmente, pela desvalorização do real e dos preços administrados ; aqueles preestabelecidos em contratos ou definidos pelos governos, como os combustíveis ; a taxa pode voltar a subir ainda neste ano. De acordo com o economista Márcio Milan, analista da Tendência Consultoria, caso haja vitória de partidos considerados populistas, a inflação pode chegar a 5%, e os juros a 8% ao ano ainda em 2018.
IPCA de setembro fecha em 0,48% e leva acumulado em 12 meses para 4,53%, acima do centro da meta estipulada pelo CMN, pela primeira vez em 18 meses. Alta pode antecipar necessidade de o Banco Central elevar a taxa Selic

;Se começarmos a pensar num cenário de um governo que não dê sinais de que continuará com a agenda de reformas, devemos verificar turbulências e pressão cambial mais acentuada, o que traz a inflação para um patamar ainda mais elevado. Como correção, o BC será obrigado a subir os juros;, ressaltou Milan. Enquanto a definição eleitoral não ocorre, a queda do real intensifica a alta do IPCA. No acumulado de 12 meses, o índice ficou, pela primeira vez, acima do centro da meta em 18 meses.

Segundo o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fábio Bentes, a composição da inflação não deve permitir que os preços cedam significativamente, mesmo diante da atividade fraca. O especialista espera que o IPCA fique em 4,6% ao fim de 2018. Ele concorda que, com isso, será necessário a subida da Selic num momento breve. ;A evolução recente dos preços torna, cada vez mais próxima, a interrupção do afrouxamento monetário;, destacou.

A notícia é ruim para a atividade econômica, que não se recuperou mesmo com a Selic em patamar baixo. O Produto Interno Bruto (PIB) do país não conseguiu avanços animadores. O crescimento previsto pelos analistas de mercado se aproxima, cada vez mais, de 1%, o mesmo avanço obtido em 2017. Para o economista-chefe da Spinelli Investimentos, André Perfeito, a alta de juros é prejudicial, mas pode ser inevitável. Ele avalia que, ao término de 2019, a Selic pode ficar entre 8,25% ao ano e 8,5%.

Os mais recentes movimentos de alta da inflação estão associados ao dólar mais caro. A moeda norte-americana passou de R$ 4 em setembro. Além disso, o barril do petróleo (tipo brent) superou a maior cotação histórica, de US$ 80. Com a política da Petrobras de reajustar os preços dos combustíveis conforme o mercado internacional, os valores nas refinarias também estão subindo.

Reclamações


Em setembro, os preços no grupo de transporte subiram 1,69%, frente a agosto, impactados pelo avanço de 4,18% nos combustíveis. A gasolina subiu 3,94%. No mesmo segmento, as passagens aéreas tiveram alta de 16,81%. Para o aposentado Adroaldo Veloso, 64 anos, a gasolina foi um dos itens que mais aumentou em relação aos produtos e serviços consumidos pela família. Gastando mais de R$ 1 mil com o combustível, ele diz que o aumento fez a família rever prioridades. ;Agora nós sempre pensamos duas vezes antes de fazer alguma viagem ou sair de casa aos fins de semana. Até nas compras de mercado, a gente está aproveitando promoções;, acrescentou o aposentado.

O grupo de alimentação e bebidas subiu 0,1% em setembro, na comparação com agosto, interrompendo a sequência de dois meses de queda. A tendência, segundo economistas, é de que os preços nos supermercados continuem subindo, contribuindo ainda mais para que a inflação termine o ano perto ou acima do centro da meta de 4,5%.

* Estagiária sob supervisão de Rozane Oliveira

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