Economia

Grupo francês fecha a compra da Cimentos Planalto

Cimenteira com sede no Distrito Federal teve 65% do capital vendido por US$ 33 milhões, o equivalente a R$ 1,29 bilhão. Empresa sofre com a retração do mercado de construção civil a partir da recessão dos anos de 2015 e 2016

Marília Sena*
postado em 06/10/2018 07:00
Companhia é a segunda do setor a anunciar transferência de controle em menos de um mês. Margem operacional caiu pela metade desde 2013

O grupo francês Vicat anunciou ontem a compra de 65% do capital da brasileira Cimento Planalto (Ciplan), que tem sede no Distrito Federal, por US$ 333 milhões, o equivalente a R$ 1,29 bilhão de reais. De acordo com comunicado divulgado em Paris, a operação acontecerá por meio de um aumento de capital reservado. A Vicat financiará a transação com emissão de títulos de dívida no mercado.

A situação financeira da Ciplan piorou a partir da recessão vivida pelo país no biênio 2015/2016, a maior já enfrentada pelo país. Em 2013, a margem operacional da companhia alcançou 45%, mas caiu a 24% em 2017. Criado em em 1853, o grupo Vicat tem mais de 8 mil funcionários em 11 países. Cerca de 68% do faturamento vem de mercados fora da França. No primeiro semestre, a companhia registrou faturamento de US$ 1,5 bilhão, e o lucro líquido aumentou 47%, alcançando US$ 68 milhões.

Para o vice-presidente do Sindicato da Construção Civil do Distrito Federal ( Sinduscon DF), Dionyzio Klavdianos, a notícia é boa para o mercado de cimento, embora a empresa perca a autonomia no Brasil. De acordo com ele, ;é natural; que isso comece a acontecer com as cimenteiras brasileiras, devido à queda do lucro no mercado da construção.

A Ciplan é a segunda empresa produtora de cimento que anuncia a venda, em menos de um mês. No início de setembro, a Brennand, que também estava sofrendo com a crise de consumo do Brasil ; e endividada ; informou a transferência de duas fábricas (50% da empresa) por US$ 700 milhões para o grupo alemão Buzzi Unicom.

No Brasil, o consumo de cimentos enfrenta retração de 26% desde o início da crise. Até o fim deste ano, a expectativa é de que a queda seja de mais 2%. De 72 milhões de toneladas em 2014, o consumo deverá fechar em torno de 52 milhões de toneladas este ano.

Segundo a assessoria da Ciplan, um comunidado sobre a venda está sendo elaborado com a Vicat para ser divulgado na segunda-feira. Mas o grupo francês publicou, em seu site, uma nota positiva sobre o acordo entre as empresas. ;Com essa aquisição, a Vicat persegue sua estratégia de crescimento externo e diversificação geográfica, por meio da incursão em um novo mercado emergente que se beneficia de fortes perspectivas de crescimento;, diz a nota.

Oportunidade


De acordo com o vice-presidente da Sinduscon DF, a Ciplan trabalha em um mercado de fornecimento de concreto que é deficitário, e a compra pela empresa francesa é uma oportunidade de voltar a operar em crescimento. ;Para a economia do DF, isso vai ser excelente, esse mercado vai gerar empregos.; Segundo ele, o preço do insumo não deve ficar muito diferente para os compradores, mas ;a concorrência no mercado deve aumentar;.

Sobre o pronunciamento da cimenteira Vitec, a análise de Dionyzio Klavdianos foi positiva. ;As empresas estrangeiras veem potencial no mercado de construção brasileiro. Isso é um sinal positivo para o levantamento da economia do país, que sofreu uma forte recessão;, explicou.

O último resultado do Produto Interno Bruto (PIB), publicado em 31 de agosto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que o setor da construção civil apresentou queda de 1,1% no período de abril a junho em relação aos três meses anteriores. Foi o 17; trimestre seguido no vermelho. Com isso, a taxa de ocupação no setor recuou 2,5%.

Em nota, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) informou que o investimento no setor caiu 1,8% no período. O cenário, na opinião do presidente da entidade, José Carlos Martins, não deve mudar até o fim do ano, pois o segmento ;carece de investimentos públicos e a insegurança jurídica causada pela instabilidade política, que afasta os investidores privados;.

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