Economia

Neoenergia destinará R$ 10 bilhões contra fraude

Empresa faz acordo com a Nokia para implantar rede inteligente que controla aferição de consumo e pode reduzir os chamados gatos e a adulteração de medidores da conta de luz

Paula Pacheco/Estado de Minas
postado em 17/10/2018 06:00
Subestação de Limeira, da Elektro: as distribuidoras da Neoenergia atendem cerca de 34 milhões de pessoas
São Paulo ;
A imagem do funcionário da empresa distribuidora de energia que passa de casa em casa para fazer a leitura do medidor e depois volta para entregar a conta começa a mudar. No seu lugar, surge a tecnologia que permite tanto o controle do funcionamento das redes quanto a aferição do consumo, residencial ou empresarial.

Na terça-feira, durante a feira de negócios em telecomunicações e tecnologia Futurecom, realizada em São Paulo, a Neoenergia, empresa do setor de energia controlada da espanhola Iberdrola, e a finlandesa Nokia, do setor de telecomunicações e tecnologia, anunciaram a assinatura de um contrato para o desenvolvimento de projeto-piloto na área de atuação de uma de suas empresas, a Elektro, concessionária com atuação no interior de São Paulo.

Participaram do evento o CEO da distribuidora de energia, Giancarlo Souza, e o presidente da Nokia para a América Latina, Osvaldo H. Di Campli. A rede privada de banda larga sem fio 4G LTE (tecnologia móvel de transmissão de dados, na tradução do inglês para o português), fornecida pela subsidiária brasileira da finlandesa Nokia, vai conectar todas as tecnologias de rede e os medidores inteligentes de 75 mil clientes e permitirá gerenciar o uso de energia.

Investimento


Na primeira etapa, o serviço será levado a moradores das cidades paulistas de Atibaia, Bom Jesus dos Perdões e Nazaré Paulista. Para isso, serão investidos R$ 110 milhões. Mas o plano da companhia é chegar a uma cifra bem mais alta. Estão previstos R$ 10 bilhões para a troca de 100% de sua rede nos próximos 12 anos, até 2030. Segundo Heron Fontana, superintendente de Smart Grids da Neoenergia, o projeto deve entrar em uma segunda fase dentro de dois a três anos, até chegar a atender aos 228 municípios que fazem parte da área de atuação da Elektro.

Em paralelo com o projeto paulista, a Neoenergia levará a rede inteligente para regiões onde atua por meio de outras distribuidoras de energia. A data ainda não foi confirmada pela multinacional, mas já está definida a implantação do novo serviço nas cidades de Feira de Santana (BA), Caruaru (PE) e Mossoró (RN). No Brasil, a Neoenergia tem a concessão de quatro distribuidoras, com atuação em 16 estados ; Coelba (BA), Celpe (PE), Cosern (RN) e Elektro (SP e MS) ; e atende cerca de 34 milhões de pessoas ; aproximadamente 20% da população do país. A companhia atua nos segmentos de geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia.

Esse tipo de rede inteligente, explica Fontana, permite a redução das fraudes, como os chamados ;gatos; e a adulteração dos medidores, em até 80%. ;Só não chega a 100%, porque em alguns casos, dependendo da localização, nossos funcionários simplesmente não fazem a leitura do consumo, porque é perigoso e não os expomos a riscos;, diz.

Performance


Giancarlo Souza, CEO da Elektro, acredita que, no longo prazo, conforme crescer a adoção da rede inteligente, será possível ver efeito também na conta de energia dos consumidores, que poderá ter reajustes menores, à medida que a operação traz eficiência ao negócio. No entanto, esse benefício só deverá ser percebido a partir do momento em que mais usuários forem incluídos no programa e a companhia começar a ter ganho de escala. Influencia ainda a melhora da performance da empresa, conforme o furto de energia diminuir.

Fontana acredita que não deverá levar muito tempo até que esse tipo de inovação se expanda pelo país. Segundo o executivo, isso não ocorreu até agora, porque o setor ainda estava atrelado a uma política de universalização dos serviços públicos de energia. A partir de agora, no entanto, ele aposta que a modernização das redes por meio da conversão tecnológica será cada vez mais comum.


Conectividade


Soluções de conectividade como a que permitirá à Neoenergia saber, de dentro de salas de comando do comportamento de consumo de seus clientes e das condições de suas redes de fornecimento de energia em tempo real, também começam a chegar ao agronegócio brasileiro. Empresas, como Nokia, TIM, Case e Jacto estão trabalhando em conjunto para levar a internet ao campo, possibilitar a leitura e interpretação de dados e aumentar a eficiência das propriedades rurais.

Ontem, a TIM anunciou seu segundo contrato no segmento do agronegócio, desta vez com o SLC Agrícola. A operadora passou a fornecer a cobertura 4G à Fazenda Panorama, em Correntina (BA), que também adotou a tecnologia celular da Nokia. Com isso, a propriedade, de 22 mil hectares, voltada ao cultivo de algodão, passa a poder adotar soluções de IoT (internet das coisas, na tradução do inglês para o protuguês), conectando colheitadeiras, tratores, estações meteorológicas e outros tipos de tecnologia relacionadas à agricultura de precisão.

O primeiro contrato desse tipo foi assinado em abril com a Jalles Machado, que atua no setor sucroalcooleiro, em Goiás. Alexandre Dal Forno, responsável pela área de produtos corporativos e IoT da operadora, está à frente da divisão de negócios ;4G TIM no Campo;. Ele explica que, por enquanto, esse tipo de solução atende a demanda de grandes propriedades rurais, já que as coberturas dessa tecnologia são grandes, de no mínimo 22 mil hectares. Com o serviço, a SLC Agrícola passa a conectar 23 máquinas agrícolas e 10 coletores de dados.

Para Dal Forno, a expansão dessa frente de negócio está atrelada ao trabalho em conjunto com outros fornecedores do agronegócio. ;É uma forma de termos informações sobre novas oportunidades em um espaço de tempo muito menor;, completa.


Ação integrada


Durante a Futurecom, esses parceiros montaram um estande que reúne as diferentes possibilidades de conexão da internet das coisas no campo. A Case, fabricante de equipamentos agrícolas, tem atualmente modelos de tratores que fazem o monitoramento da atividade do equipamento.

Com o 4G no campo, esses dados podem ser acompanhados em tempo real pelo dono da propriedade rural por meio da análise de telemetria, explica Gerson Filippini Filho, especialista em marketing de produtos da companhia. A fabricante pode até dar assistência técnica à distância, acessando os dados do trator, por exemplo, enquanto o motorista trabalha no meio de uma grande plantação de soja. ;Isso permite que as máquinas sejam usadas por mais tempo, sem o desperdício com manobras desnecessárias no dia a dia ou o tempo que elas ficam paradas para reparo ou manutenção;, diz.

A Jacto, fabricante de equipamentos usados para a pulverização no campo, também tem investido na conectividade. Hoje, a empresa já tem em sua linha de produção pulverizadores com tecnologia para leitura e análise de dados, que mostram a eficiência de uma aplicação de defensivos agrícolas, por exemplo. Mas, a partir do ano que vem 100% de suas máquinas contarão com a tecnologia de telemetria, segundo Gleyson Cortez Perosa, especialista em AP Sênior.

Para que essas tecnologias se comuniquem, as propriedades rurais têm de investir na cobertura de 4G e na antena que fará a captação e transmissão de dados. A partir daí, dados coletados durante o trabalho de vários pulverizadores podem ser transmitidos uns para os outros para evitar que a aplicação de um produto seja feita em duplicidade. Isso representa economia de tempo e de dinheiro.

Esse tipo de solução, segundo Renato Bueno, executivo de marketing da Nokia, tende a crescer e a contar cada vez mais com tecnologias conectadas. ;Com 4G, é possível integrar todo tipo de dado, como informações meteorológicas que poderão apontar o melhor momento para a aplicação de um produto, para semear ou para colher. O agronegócio responde por 25% do Produto Interno Bruto brasileiro (PIB, o conjunto da produção de bems e serviços do país). É inegável o potencial;, lembra.

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