Gabriel Ponte*
postado em 17/10/2018 06:00
Após o resultado da pesquisa Ibope para as eleições presidenciais, divulgada na noite de segunda-feira, apontar diferença de 18 pontos percentuais de Jair Bolsonaro (59%), do PSL, em relação a Fernando Haddad (41%), candidato do PT, o mercado financeiro viveu dia positivo ontem. Os investidores estão confiantes de que o capitão reformado vencerá no segundo turno. O dólar encerrou o dia negociado a R$ 3,721. Já o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), teve alta de 2,83%, aos 85.718 pontos. Segundo analistas, o mercado já vê a divisa dos Estados Unidos a R$ 3,50 com Bolsonaro eleito.
O dólar chegou a ser negociado a R$ 3,696, na mínima do dia, valor que não era atingido desde o pregão de 6 de agosto (R$ 3,6928). Segundo Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora, o movimento de ontem sinalizou uma depreciação que poderá ser observada nos próximos pregões antes do segundo turno. ;Saímos, nas últimas semanas, de um dólar negociado a R$ 4,20 para R$ 3,70. Nesse patamar, acho que o mercado vai implementar o suporte de R$ 3,50 até a véspera das eleições;, previu.
Galhardo também destaca as boas perspectivas de investimento no país para o próximo ano. ;Em 2019, a expectativa é de que o investidor estrangeiro volte, com mais intensidade, ao mercado brasileiro. Após as eleições, confirmando-se a vitória de Bolsonaro, o mercado vai apostar tudo. Assim, imagino que poderemos esperar por um momento de bastante valia. Claro que vai ter especulador vindo para aproveitar o lucro, mas essa aferição de uma rentabilidade maior pode ajudar o Ibovespa a bater os 100 mil pontos, tornar o dólar mais barato e fazer com que o risco-país caia;, projetou.
De acordo com Tiago Mori, assessor de investimentos da Eixo Investimentos, o aspecto positivo no pregão se deve a dois fatores: o fato de a pesquisa ter apontado a consolidação de Bolsonaro em primeiro lugar; e a inversão da rejeição entre os dois candidatos. ;No primeiro turno, por exemplo, Haddad tinha uma rejeição menor que a de Bolsonaro;, constatou. De acordo com ele, o movimento no exterior também é favorável. ;Estamos vendo um movimento positivo nos Estados Unidos, após alguns solavancos na semana passada, com a fuga de dólares para ativos mais conservadores.;
O intenso rally ; compra e venda de ações ; observado nas últimas semanas deve arrefecer nos próximos dias, nas previsões de Tiago. ;Acredito que investidores estão adotando uma tendência de mais calma. O mercado costuma precificar boas notícias de forma rápida, sinalizando altas significativas;, complementou.
Nível histórico
O Bank of America Merill Lynch (BAML) divulgou que, em pesquisa realizada com investidores que administravam US$ 646 bilhões, a percepção de 51% dos entrevistados é de que as divisas emergentes estão no menor nível histórico. A situação seria consequência da crise argentina, que recorreu ao Fundo Monetário Internacional (FMI) neste ano, da instabilidade envolvendo a Turquia, além da alta de juros estadunidenses.
Para Ivo Chermont, economista-chefe da Quantitas, o impacto da desvalorização das divisas emergentes pode atingir, em menor escala, o Brasil, caso o país promova reformas na área econômica. ;O Brasil não vai se livrar do resto do mundo, mas acho que podemos ter uma performance melhor do que outros emergentes, se as promessas de campanha de Bolsonaro e Paulo Guedes forem realizadas em um eventual governo. O Brasil não tem força para ir contra um movimento mundial, mas, em comparação a emergentes, sim;, afirmou.
Para Pablo Syper, diretor de operações da Mirae Asset, o investidor passa a ficar, no momento, com um pé no cenário internacional, mantendo, é claro, o outro no radar eleitoral. ;Para mim, nos próximos seis meses, a expectativa é de crescimento global robusto, capitaneado pelos norte-americanos. Agora, quem opera no mercado precisa levar em conta algumas questões: a possibilidade de uma guerra comercial, envolvendo os Estados Unidos e a China; se a inflação norte-americana vai acelerar e, se isso ocorrer, qual será o comportamento dos juros nos EUA;, explicou.
* Estagiário sob supervisão de Rozane Oliveira