Economia

Ladeira abaixo, dólar atinge a menor cotação desde 25 de maio

De olho nas eleições, investidores ampliam as apostas em vitória de Bolsonaro para a Presidência. Ele é considerado mais favorável ao mercado. Estrangeiros ampliam o aporte de recursos para o Brasil. Juros nos EUA seguram o desempenho da B3

Gabriel Ponte*
postado em 18/10/2018 06:00
Moeda norte-americana encerrou os negócios de ontem no menor nível desde maio último. Tendência, segundo analistas, é de novas quedas

O dólar continuou ontem ladeira abaixo, puxado pela boa recepção das declarações do candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL), de que manterá o Banco Central independente para definir a taxa básica de juros (Selic), além de assegurar um câmbio flutuante. A moeda norte-americana foi negociada a R$ 3,683 para venda, com baixa de 1,02%. Foi a menor cotação desde 25 de maio último.

Já o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), encerrou o dia com leve alta de 0,05%, aos 85.764 pontos, fortemente influenciado pelo Federal Reserve (Fed), o BC dos Estados Unidos que, em nota, sinalizou que continuará a aumentar, de forma gradual, os juros da economia norte-americana, a fim de manter o equilíbrio doméstico. Uma nova elevação dos juros, que estão fixados entre 2% e 2,25% ao ano, ainda é prevista para dezembro deste ano.

Na avaliação de Álvaro Bandeira, economista-chefe da Modal Mais, as recentes declarações de Bolsonaro eram esperadas. ;Boa parte da eleição de Bolsonaro já está precificada. Agora, para os investidores, somente isso não resolve. O mercado passou a se indagar sobre outras questões. Como ele vai formar a equipe? Qual será sua base de apoio no Congresso? Quais serão as medidas prioritárias? Acredito que o mercado ainda tem algo para precificar a curto prazo, mas seguirá analisando a longo prazo, pensando a partir de janeiro de 2019;, disse.

Bandeira destacou que, em relação à moeda americana, há uma grande expectativa de entrada de recursos estrangeiros no Brasil. ;Ontem, por exemplo, tivemos uma captação feita pela JBS no exterior, e isso mexeu com a divisa;, constatou. Frente a uma cesta de 24 divisas emergentes, o dólar teve dia misto, valorizando-se em relação a 14 delas. Na contramão, o real foi a segunda moeda que mais avançou ante a divisa dos EUA, ficando atrás apenas da lira turca.

Renan Silva, economista da BlueMetrix Ativos, atribuiu a queda do dólar ao quadro eleitoral. ;A verdade é que o dólar se descolou do cenário internacional e ficou no radar do discurso de Bolsonaro, reforçando a confiança do investidor na reta fina da disputa pelo Palácio do Planalto;, afirmou. Para ele, o comportamento comedido do Ibovespa decorreu do posicionamento do Fed e da queda das ações de empresas estatais. ;O mercado viveu um dia mais pesado. Percebi, por exemplo, maior realização de lucros e redução de exposição ao risco. O quadro externo, com a ata do Fed, também influenciou;, ponderou.

Ainda de acordo com o economista, a queda do barril de petróleo Brent (-1,67%) também sinalizou uma estagnação no mercado doméstico, impactando as ações da Petrobras. ;As ações preferenciais da Petrobras caíram 1,05%. No entanto, a grande baixa do dia foi marcada pelas ações preferenciais da Eletrobras, com queda de 5,38%. A situação repercute a decisão do Senado, que vetou a privatização de distribuidoras administradas pela estatal;, frisou.

Segundo César Bergo, professor da Universidade de Brasília (UnB), o teor do comunicado do Fed deve ser encarado a longo prazo sob a perspectiva dos mercados emergentes. ;É um comportamento lógico a valorização do dólar no mundo inteiro. No entanto, vejo que, no momento, os emergentes estão tendo uma oportunidade de investimento a partir de um cenário econômico melhor;, justificou. Ele argumentou ainda que a política de aumento gradual de juros nos EUA é previsível, o que endossa uma antecipação dos passos dos investidores.

*Estagiário sob supervisão de Odail Figueiredo

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