Economia

Se a safra vai bem, concessionárias, varejo e construção civil vão também

Montadoras de veículos, comércio varejista e a construção civil pegam carona no bom desempenho da agricultura e da pecuária. Perspectiva é positiva para os próximos anos

Nelson Cilo
postado em 18/10/2018 06:00
Lavoura de soja: crescimento do setor agropecuário garantiu expansão da economia brasileira em 2017

São Paulo ; O diretor-geral da marca britânica Jaguar Land Rover no Brasil, Divanildo Albuquerque, tem notado que, nos últimos anos, o desempenho das vendas da empresa no interior do país vem mostrando relação direta com o ritmo do agronegócio. Quando a safra vai bem, as concessionárias enchem. Quando surge um sinal amarelo, o movimento cai na mesma proporção.

No acumulado de janeiro a outubro deste ano, a comercialização dos SUVs da Land Rover registrou aumento de 14,7% na comparação com o mesmo período de 2017, segundo balanço da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). No entanto, nos locais onde a agricultura e a pecuária são as principais locomotivas da economia, o acréscimo dos negócios se aproxima da impressionante taxa de 50%. O resultado não é nada mal para uma empresa que cobra de R$ 250 mil a R$ 1 milhão pelos carros da marca.

;Nosso monitoramento no agronegócio identificou que os consumidores buscam não apenas veículos de alta capacidade e desempenho elevado, mas modelos que tenham design diferenciado e tecnologia para melhorar a performance, o conforto e a segurança;, afirmou Albuquerque, ao analisar os números do movimento regional. O executivo comemora a estreia da marca numa das principais feiras do segmento do agronegócio do país, a Expointer, encerrada no último mês no Rio Grande do Sul.

Vendas da Land Rover subiram até 50% em áreas de destaque do agronegócio

O exemplo da Jaguar Land Rover não é um fato isolado, segundo especialistas. Além de aquecer as vendas entre os empresários do campo, o mercado automotivo é beneficiado pela maior quantidade de dinheiro em circulação na economia. ;Para os próximos anos, a perspectiva é ainda mais otimista pelo desenvolvimento natural do agronegócio e da retomada da economia brasileira;, disse Antonio Megale, presidente da Anfavea, que destaca o avanço do segmento de veículos e também o de máquinas agrícolas. ;Se considerarmos as possibilidades de ganhos de produtividade, aumento de área cultivada e avanço da tecnologia, o potencial deste setor para o Brasil é enorme.;

Não é apenas o mercado de veículos que sente os efeitos positivos da riqueza gerada no campo. A safra recorde de 237,7 milhões de toneladas de grãos no país entre 2016 e 2017, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), ajuda a injetar ânimo em setores que estão patinando nos últimos anos, como o comércio e a construção civil.

As construtoras que atuam nas regiões de influência do agronegócio, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal, atribuem parte do dinamismo registrado neste ano à boa produtividade das lavouras e ao aumento da cotação dos grãos no cenário internacional. ;Pode-se perceber que nos locais que têm a atividade agrícola como um dos motores econômicos, há mais confiança das pessoas para contrair crédito e adquirir um imóvel;, disse o presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Luiz França. ;Confiança e emprego são fundamentais para fazer o setor imobiliário crescer;, acrescentou.

Os números do Banco Central (BC) reforçam o vigor da economia nas principais fronteiras agrícolas. O Índice de Atividade Econômica do BC, relativo ao Centro-Oeste, apontou alta de 5,9% em 12 meses. Nesse critério de avaliação, a região é a que apresenta os melhores resultados do país no período. Em seguida, aparecem o Sul (4,4%) e o Nordeste (4,2%). ;Como a agricultura responde por 70% do PIB (Produto Interno Bruto, o conjunto da produção de bens e serviços) de Mato Grosso, outros setores também avançaram;, justificou o vice-presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja), Ricardo Tomczyk.

Bons ventos

Desde o ano passado, a agropecuária tem se apresentado como o setor com melhor performance na economia, enquanto a indústria e as empresas de serviços tiveram recuperação moderada. O Produto Interno Bruto (PIB), pelas contas do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), cresceu 1% em 2017, mas o resultado foi sentido de forma diferente para cada atividade econômica e também entre as diferentes empresas do Brasil.

Com condições climáticas favoráveis, o ano passado foi marcado por uma pujante expansão da safra, o que puxou a expansão de 13% no PIB do setor. É o maior crescimento desde o início da série histórica. Segundo a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca de La Rocque Palis, o grande impulsionador do PIB tem sido o agronegócio. ;A agropecuária tem peso de apenas 5,3% na composição do PIB, mas o setor respondeu por 0,7% do valor adicionado ao PIB, que foi de 0,9%;, explicou.

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