Economia

Gigante online, SurveyMonkey adota estratégia ousada para entrar na bolsa

SurveyMonkey, uma das maiores empresas de pesquisa on-line no mundo, adota estratégia ousada para ingressar na bolsa, abrindo mão de recursos. Demanda por papéis surpreendeu

Natalia Viri, Pedro Arbex
postado em 18/10/2018 06:00
Companhia conta com personalidades em seu conselho de diretores, como a tenista Serena Williams e a diretora do Facebook, Sheryl Sandberg

São Paulo ; A SurveyMonkey, uma das maiores empresas de pesquisas on-line do mundo, acaba de entrar para a inglória ; e cada vez mais longa ; lista de companhias de tecnologia que tiveram que abrir mão de dinheiro para chegar à bolsa de valores. Avaliada em US$ 2 bilhões na última rodada de captação privada em 2014, a empresa foi precificada em US$ 1,5 bilhão quando do seu IPO (oferta pública inicial de ações, na tradução da expressão inglesa para o português) na bolsa americana Nasdaq. A explicação é que a demanda foi maior do aquela prevista pelos bancos.

Os papéis da companhia foram vendidos a US$ 12 cada, um pouco acima da faixa proposta de US$ 9 a US$ 11, e a empresa aceitou aumentar em 10% o número de ações ofertadas. Se a SurveyMonkey entregasse um questionário a seus potenciais investidores, provavelmente o resultado seria inconclusivo: ninguém parece ter muita clareza de como precificar o papel. No dia de estreia, no fim de setembro, as ações subiram mais de 40%. De lá para cá, porém, já devolveram toda a alta e voltaram ao patamar de US$ 12.

Para quem busca um negócio resiliente no mundo de alta mortalidade das empresas de tecnologia, a SurveyMonkey, que tem em seu conselho Serena Williams, uma das maiores tenistas da história do esporte, é, de fato, uma sobrevivente. Fundada às vésperas do estouro da bolha das pontocom, ela está viva há quase 20 anos e, apesar de amargar resultados ainda no vermelho, gera caixa.

Em entrevista recente, o presidente da empresa, Zander Lurie, disse que 19% do faturamento se converteu em fluxo de caixa livre nos últimos 12 meses. O voto de confiança da empresa americana de software Salesforce também foi um impulso para a oferta: o braço de venture capital da gigante de CRM (ferramenta de gestão de relacionamento com o cliente) comprou o equivalente a US$ 40 milhões em ações.

No entanto, quem busca um negócio de crescimento exponencial pode achar que a empresa virou um dinossauro. Hoje, a companhia tem 16 milhões de usuários ativos na plataforma, mas apenas 4% (616 mil) são pagantes. As assinaturas responderam por mais de 90% do faturamento de US$ 218 milhões ano passado.

A base de assinantes tem crescido em ritmo lento, para os padrões das empresas de tecnologia. No primeiro semestre deste ano, o total de assinantes da plataforma cresceu apenas 3%. A receita subiu 14% no período, em grande parte devido ao aumento no preço dos planos (cada usuário pagante traz uma receita média mensal de US$ 400).

A SurveyMonkey opera no modelo chamado ;freemium;: a empresa oferece um plano gratuito com limitações para atrair o cliente, que depois pode migrar para pacotes pagos com funcionalidades mais avançadas. Além de permitir criar pesquisas e questionários on-line, a companhia oferece soluções de análise de mercado e uma plataforma chamada enterprise, que é vendida para grandes corporações como Netflix e Johnson & Johnson.

Disputa

Outro ponto de atenção está na concorrência. Quando a SurveyMonkey buscou capital financeiro em 2014, o mercado de pesquisas ainda era pulverizado. O Google tinha lançado suas plataformas de pesquisas, o Forms, assim como muitas outras empresas. Hoje em dia, o Google tem 90% de participação de mercado e a SurveyMonkey, a segunda colocada, responde por 5% do setor, que movimenta US$ 4,1 bilhões globalmente.

Os down rounds ; quando a empresa levanta dinheiro por um valor menor que o da rodada anterior ; normalmente são vistos como um mau sinal, porque diluem os acionistas e mostram que a companhia não conseguiu atender às expectativas.

Eles têm se tornado cada vez mais comuns, na medida em que empresas aceitam que alguns valores de mercado foram muito inflados. Quatro anos atrás, quando a SurveyMonkey fez sua última captação, o setor de startups passava por um boom, que acabou tomando qualquer empresa como potencial unicórnio (empresas que são avaliadas acima de US$ 1 bilhão). Um down round, contudo, nem sempre é sinônimo de fracasso. A Square, empresa de meios de pagamento eletrônico, foi à bolsa em 2015 com valor 50% inferior à sua rodada privada anterior. De lá para cá, os papéis tiveram valorização superior a 10 vezes.

A SurveyMonkey tem entre seus principais investidores a Tiger, que detinha 29% do capital antes do IPO, e a diretora de operações do Facebook Sheryl Sandberg, com 9,9%. Sheryl é viúva de Dave Goldberg, que foi presidente da SurveyMonkey entre 2009 e 2015 e é tido como o responsável por transformá-la de uma pequena startup em empresa global. Sheryl está no conselho de administração, ao lado de Serena Williams.

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