Economia

Ações das principais estatais valorizaram durante a campanha eleitoral

A expectativa de investidores é de que a necessidade de equilíbrio nas contas leve o próximo presidente a implementar uma política de privatizações, o que atrai capital para os negócios

Gabriel Ponte*
postado em 19/10/2018 06:00

Eletrobras foi a estatal que apresentou maior destaque no período pesquisado
As ações das principais empresas estatais negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) tiveram forte alta entre 15 de agosto e 17 de outubro, período de campanha eleitoral. A expectativa de investidores é de que a necessidade de equilíbrio nas contas leve o próximo presidente a implementar uma política de privatizações, o que atrai capital para os negócios.

Em levantamento feito pelo Correio, a Eletrobras foi a estatal que apresentou maior destaque no período pesquisado, sendo negociada a R$ 21,20, na última quarta-feira, ante R$ 15,25, um dia antes do início da campanha, com alta de 39%, . Já as ações ordinárias da Petrobras subiram 38,4% neste mesmo intervalo de tempo passando de R$ 21,38 para R$ 29,60.

Outro destaque foi a Cemig, concessionária de energia elétrica de Minas Gerais, cujos papéis preferenciais tiveram um incremento de 34,1%, passando de R$ 7,90 para R$ 10,60. Por fim, o Banco do Brasil, que teve elevação mais moderada: 22,4%. Em 15 de agosto, os ativos ordinários eram negociados a R$ 32,30, enquanto que, em 17 de outubro, a R$ 39,71. No mesmo período, o Ibovespa, principal índice da B3, passou de 77.087 mil pontos para 85.764, com valorização de 11,27%.

Para Carlos Henrique Oliveira, consultor de investimentos, o período é propício para empresas estatais. ;Para a Cemig, que é estadual, os dois candidatos que estão no segundo turno da disputa para governador de Minas Gerais usam o discurso de que a empresa será privatizada, o que enche os olhos de quem investe. Já no caso da Petrobras, os números coincidem com a recente alta do petróleo. Os ativos do produto subiram quase 10% no mesmo período;, resumiu.

Na visão do consultor, entretanto, a recente valorização não se deve repetir no futuro. ;O mercado é muito ágil, já precificando boa parte dos ativos. Daqui para diante, não consigo ver uma forte valorização. Além disso, o cenário internacional volta ao jogo, com a oscilação no mercado americano, refletindo-se aqui dentro. A grande questão é que, apesar do cenário doméstico estar melhor, o internacional, não. No momento, já não apostaria mais nessas estatais pelo fato de que subiram demais nos últimos meses;, alegou.

Segundo Oliveira, o Ibovespa não acompanhou, no mesmo nível, a elevação das estatais pelo peso delas. ;A Vale, por exemplo, influenciou negativamente. Bradesco e ItaúUnibanco subiram, mas não como o Banco do Brasil. Em suma, as estatais com forte alta não tiveram influência tão grande, o que explica um crescimento menor pelo índice;, explicou.

Brasil perde riquezas

De acordo com relatório divulgado ontem pela Credit Suisse, o Brasil lidera o ranking entre países que mais perderam riqueza. De 2017 para 2018, foram cerca de US$ 380 bilhões, causado, principalmente, pela desvalorização cambial. O real acumula, desde outubro de 2017, depreciação de 12,5% frente ao dólar. Ontem, a divisa dos Estados Unidos corrigiu os ajustes de quarta-feira e encerrou o dia cotado a R$ 3,723, em alta de 0,95%. A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) operou em baixa e fechou o pregão em queda de 2,24%, aos 83.847 pontos.

Na reta final do dia, a notícia de que Ilan Goldfajn, atual presidente do Banco Central (BC), deve deixar o cargo em dezembro, contrariando a expectativa de analistas e economistas de que permaneceria no cargo no próximo governo, pressionou dólar para cima e Bolsa para baixo. Para Pablo Spyer, diretor de operações da Mirae Asset, o mercado viveu um fim de dia estressante. ;Ilan vem fazendo um ótimo trabalho no BC, com controle da inflação e juros no menor nível histórico. É óbvio que o mercado gostaria que ele continuasse, mas o Paulo Guedes tem ao alcance, caso Bolsonaro seja eleito, gente de calibre;, afirmou.

Para Sidnei Nehme, diretor da NGO Corretora, o desempenho do pregão foi consequência de conjunturas domésticas e internacionais. ;O mercado refletiu um pouco do desempenho dos Estados Unidos, mas não totalmente. O comportamento da B3 depende muito das perspectivas econômicas. Em um primeiro momento, reagiu à eleição de Bolsonaro, que representa o candidato mais ameno no cenário econômico, precificando o Ibovespa a 85 mil pontos. Agora, para que o índice avance com mais intensidade, a defesa dos programas do candidato serão postos à risca em um cenário de deterioração da economia brasileira;, relatou.

Para analistas, concretizando-se a vitória do capitão reformado, o Ibovespa poderá atingir os 100 mil pontos, o que, segundo Nehme, só tenderá a ocorrer após o cumprimento de vários requisitos. ;Eu vejo movimentos do tipo só depois do primeiro trimestre de 2019, quando os investidores saberão, de forma clara, as ideias do candidato. Tem muitas dúvidas à frente. Dessa forma, o mercado precisa ter, no momento, a sensatez e andar de lado;, afirmou.

Segundo Fernanda Consorte, estrategista de câmbio do Banco Ourinvest, o movimento da moeda norte-americana foi de correção. ;Ontem, o resultado foi motivado mais por uma zeragem de posições. Fora a ata do Federal Open Market Committe (Fomc), não existiram grandes fundamentos. Em suma, o movimento de ontem foi um ajuste do exagero de quarta, sendo uma questão técnica;, detalhou.

* Estagiário sob supervisão de Rozane Oliveira

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