Economia

Alta do trigo faz o preço do pão francês subir nas padarias

Em Brasília, pãozinho francês teve alta de 1,28% em setembro, acima da média nacional. Produto largamente consumido pelos brasileiros depende da farinha importada, que aumentou mais de 25% de janeiro a setembro

Gabriel Ponte*
postado em 25/10/2018 06:00
Pão francês

O pão francês, tradicional alimento consumido pelo brasileiro, está mais caro e a população reclama. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA-15), publicado na terça-feira, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que o grupo de Alimentação e Bebidas avançou 0,44% em relação a setembro. Entre os setores analisados, o de panificados teve avanço de 0,73% no país. No Distrito Federal, porém, o aumento foi ainda maior: 1,28%.

De acordo com César Bergo, professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), a falta de padronização do alimento e a dependência do Brasil da importação de trigo são fatores que explicam o encarecimento do produto. ;A primeira questão é a despadronização dos pães. Não existe uma exigência de que a unidade do alimento pese 100g. Antigamente, o pão francês era vendido na unidade, situação que não acontece hoje, o que torna ainda mais difícil a fiscalização pelo consumidor;, explicou.

;O que a população está sentindo é reflexo do preço do trigo;, diz Bergo. As massas também subiram muito, em consequência do encarecimento do dólar e da cotação internacional do trigo nos últimos meses. O Brasil não é autossuficiente na produção da matéria-prima. Mas, desde o início do ano, sabíamos que o pão francês e a gasolina seriam vilões da inflação (diante do câmbio, oferta internacional e política de preços da Petrobras);, disse.

Segundo dados da Associação Brasileira de Trigo (Abitrigo), o preço da farinha de trigo (em R$/tonelada) teve elevação de 29,25% de janeiro a setembro deste ano. Só em junho, o preço da farinha subiu 14,14%, como efeito da greve dos caminhoneiros, no mês anterior. De acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), o pão francês teve elevação média de 6,37% no país, nos nove primeiros meses do ano. Já o IPCA, índice oficial de inflação, registrou alta de 3,34% no período.

Quem vai no mercado, sente o impacto no bolso na hora de comprar o alimento. Em estabelecimentos comerciais da capital, visitados pelo Correio, o preço do quilo do pão francês varia de R$ 3,99 a R$ 14,89, ou seja, até 275%. ;Antigamente, eu comprava cinco ou seis pães a R$ 2,00. Hoje, está na faixa dos R$ 3,00 e 4,00;, disse a estudante Lívia Paula, 35.

O aposentado João Carlos Neves, 69, diz que procura comprar pão onde o preço é menor. ;Acredito que essa alta vem do preço internacional do trigo e também do câmbio com o dólar. Sou carioca, e o pão é item obrigatório na mesa, principalmente pela tarde;, explicou.

O aposentado José Mariano, 70, reclama do sistema da cobrança por quilo, o que, segundo ele, resulta em um aumento do preço. ;Depois que passaram a vender o pão de acordo com o peso, ficou ruim. Antigamente, era por unidade, mas, durante o primeiro mandato do governo Lula, esse sistema mudou. Pra mim, ficou pior. Eu vou, periodicamente, à padaria, mas procuro variar, consumindo outros produtos que não somente o pão francês;, disse.


  • Tensão externa eleva dólar

    O dólar subiu 1,24%, ontem, e alcançou R$ 3,74 para venda, enquanto a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) recuou 2,62%, para 83.064 pontos. O mercado refletiu o clima de maior nervosismo no exterior, onde as principais bolsas de valores operaram em forte baixa. Em Nova York, o índice Dow Jones recuou 2,41%. A bolsa de empresas de tecnologia Nasdaq caiu 4,45%. Os negócios lá fora foram influenciados pela tensão política gerada pelas suspeitas de atentados terroristas nos Estados Unidos e por publicações de balanços empresariais que desapontaram os investidores.

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