Bruno Santa Rita*
postado em 27/10/2018 07:00
Os trabalhadores voltaram, em setembro, a ter aumentos reais de salários. Após dois meses sem reajustes acima da inflação, as negociações do mês passado trouxeram reajuste nominal médio de 4%, o maior desde julho de 2017. Com a inflação calculada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) acumulada em 3,6% nos 12 meses anteriores, o aumento real foi de 0,4%. Os dados são do boletim Salariômetro, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômica (Fipe).
Para o professor da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e coordenador do projeto Salariômetro, Hélio Zylberstajn, reajustes elevados obtidos por determinadas categorias ajudaram a puxar para cima a mediana dos aumentos. O acordo fechado pela categoria dos bancários, por exemplo, resultou em correção salarial de 5%. ;É uma das únicas classes que faz negociações em nível nacional de forma unificada. O resultado que eles conseguiram contribui para a média dos demais setores;, ressaltou.
Outro dado que chamou a atenção na pesquisa foi a mediana do vale-refeição mensal, que foi de R$ 454,00 (48% do salário mínimo). De acordo com o professor de economia da Universidade de Brasília César Bergo, a alta representação do auxílio alimentar dentro dos salários mais baixos acontece como uma forma de diminuir o aumento direto da renda, que traria maior gasto com impostos para as empresas e trabalhadores.
;O normal nos acordos é prevalecer os ganhos sociais. Auxílio-creche, alimentação e outros crescem para gerar mais vantagem para o setor, já que não é cobrado imposto sobre esses benefícios;, explicou.
Melhora
Para Bergo, o aumento real é consequência da melhora econômica que começou a se desenhar nos últimos meses. ;O mercado de trabalho está se recuperando. Com isso, vem a valorização do profissional. As empresas estão ávidas por contratar bons profissionais, e é preferível aumentar o salário do que perdê-los para a concorrência, que aumenta à medida que a economia melhora;, analisou.
O professor da UnB citou, como exemplo, o resultado do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), pelo qual setembro teve a maior criação de empregos formais para o mês desde 2013. Foram 137.336 vagas com carteira assinada abertas no mês passado.
O número de acordos salariais, no entanto, sofreu queda, segundo o Salariômetro. De 2017 para setembro deste ano, o número passou de 22.503 para 16.099 ; redução de 28,5%. O total de convenções também diminuiu e passou de 3.320 para 2.340, no mesmo período, com baixa de 29,5%.
Zylberstajn apontou a reforma trabalhista como principal causa para essa redução. Segundo ele, com as novas regras, está mais difícil para os sindicatos terem sucesso nas negociações.
Outro destaque apontado pelo relatório foi que, pelos acordos, 4,4% das contribuições para sindicatos de trabalhadores são pagas total ou parcialmente por empresas.