Economia

Ambiente internacional adverso obrigará presidente a repensar estratégias

Ambiente internacional adverso, agravado pela disputa entre Estados Unidos e China, obrigará novo presidente a repensar estratégia de política comercial e externa. Melhora da produtividade e abertura do país devem entrar em pauta

Rosana Hessel, Hamilton Ferrari
postado em 28/10/2018 05:00
Welber Barral, consultor

O próximo presidente da República precisará reposicionar o Brasil no cenário internacional, mas encontrará um ambiente externo mais adverso do que o atual. Nos últimos anos, enquanto o mundo desenvolvido se recuperava da crise financeira de 2008 e 2009, o país perdeu relevância no debate internacional, mergulhou em uma recessão e ficou mais fechado. Agora, segundo especialistas, para reverter esse quadro, será necessário uma estratégia mais elaborada de políticas comercial e externa, porque a disputa entre os dois maiores destinos de produtos nacionais, China e Estados Unidos, tende a ficar mais intensa, reduzindo o ritmo de expansão atual do planeta.

Logo, o desafio do próximo governante vai muito além da necessidade de arrumar as contas públicas e fazer reformas estruturais. Para ter relevância no mundo, precisará não passar ao largo das tendências e discussões globais. Estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI) apontam desaceleração do crescimento mundial a partir do próximo ano. Projeta alta do Produto Interno Bruto (PIB) mundial este ano de 3,9% e de 3,7% para 2019.

Diante das tensões protecionistas entre China e EUA, o organismo internacional estima desaquecimento continuado no comércio internacional, cuja expansão de 5,2%, em 2017, recuará para 4,2%, em 2018, e para 4%, em 2019. O mundo emergente, do qual o Brasil faz parte, ainda precisará conviver com a redução de liquidez devido ao processo de alta dos juros não apenas os norte-americanos.

Apesar de ser uma das 10 maiores economias do planeta, o Brasil não tem peso no comércio global. Responde por uma fatia muito pequena, de 1,2% das exportações globais. Percentual que pouco tem mudado, devido à baixa competitividade do país e do protecionismo interno. Enquanto isso, os Estados Unidos respondem por 19% e a China, que tinha praticamente a mesma fatia do Brasil há 30 anos, detém 12%. Na opinião de especialistas, a pauta de exportações brasileiras não ajuda, já que é dominada por produtos de baixo valor agregado, como commodities, e a melhora exigiria que o país importasse mais, pois os processos de produção são globalizados.

;O Brasil ainda é muito fechado. Tem tarifas de importação tão altas que só as da Argélia e do Gabão são maiores. Isso é muito ruim para a competitividade da indústria moderna, que precisa importar para se organizar em cadeias globais de produção;, explica o economista Marco Bonomo, do Insper.

O embaixador José Alfredo Graça Lima, conselheiro e Coordenador do Núcleo de Comércio Internacional do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), perito da Organização Mundial do Comércio (OMC), afirma que o Brasil é muito fechado por conta de um declínio acentuado da produtividade da indústria nacional. O diplomata critica políticas industriais que resultaram na concentração de renda de poucos setores e defende um reordenamento de prioridades. ;Esse protecionismo tem que ser revisto por meio de um programa de liberalização. Não estou falando de um choque, mas um programa pensado, gradual, acompanhado eventualmente de uma rede de segurança social, para proteger em parte os trabalhadores deslocados;, afirma.

Além de uma liberalização gradual, Graça Lima defende o avanço em negociação com parceiros estratégicos e o resgate do protagonismo do Brasil na América Latina e no Mercosul. Ele lamenta o abandono do processo de abertura comercial e de liberalização do comércio, iniciado nos anos 1990, com a Alca (Acordo de Livre Comércio das Américas) e a Rodada Doha.

Agenda clara

O consultor Welber Barral também acredita que o país precisará passar por um processo de abertura comercial para deixar de ser um ;player pequeno;. ;Seguramente, o país precisa ter uma agenda mais clara para aumentar sua participação internacional e isso envolve aumentar a competitividade. Ou seja, é benefício para o Brasil;, afirma.

Na avaliação do diplomata e jurista Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda e do Meio Ambiente, o país está correndo um risco de isolamento não apenas na América, como também no mundo, se adotar medidas que indicariam um retrocesso na agenda ambiental. ;O Brasil e o Mercosul negociam há mais de 20 anos um acordo de livre comércio com a União Europeia, que leva essa questão do clima muito a sério. O Brasil não tem o mesmo peso dos EUA. Qualquer sinalização contrária ao Acordo de Paris, que é defendido pelos países da UE, pode significar o fim das negociações e o fechamento de portas da Europa para os produtos brasileiros em definitivo;, alerta.

;Seguramente, o país precisa ter uma agenda mais clara para aumentar sua participação internacional, e isso envolve aumentar a competitividade. Ou seja, é benefício para o Brasil;

Welber Barral, consultor

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