Agência Estado
postado em 29/10/2018 18:45
Após o dólar cair quase 10% no mês até a sexta-feira antes das eleições, os investidores tiraram a segunda-feira (29/10) para ajustar as cotações e realizar lucros, seguindo a confirmação da vitória de Jair Bolsonaro (PSL). O mercado externo mais adverso ajudou o movimento e a moeda americana bateu máximas na parte da tarde, no mesmo momento que os preços no exterior tiveram piora, por conta da promessa de mais taxas feitas pela Casa Branca em produtos da China comprados pelos Estados Unidos. O dólar à vista fechou o dia em alta de 1,36%, a R$ 3,7022. Foi a maior variação desde o dia 11 de setembro, quando a moeda subiu 1,77%. Lá fora, o dólar teve forte alta no México (%2b3,5%) e também subiu perante outros emergentes, como África do Sul, Turquia e Argentina.
Logo na abertura, o dólar aqui chegou a cair para a mínima do dia, a R$ 3,5828, a menor cotação intraday desde o início de maio, influenciada pelo desmonte de algumas posições compradas no mercado futuro e entrada de fluxo externo, de acordo com operadores. Mas com a vitória de Bolsonaro praticamente incorporada nas cotações nas últimas semanas, a euforia com a confirmação do resultado nas urnas durou pouco e já de manhã a moeda reverteu a queda e passou a subir, com estrangeiros deixando a bolsa e buscando proteção no dólar em meio ao aumento da aversão ao risco no exterior. Mais cedo, duas agências de classificação de risco, Moody;s e Fitch, alertaram para a necessidade de reformas em 2019, sobretudo para o ajuste fiscal.
A analista para mercados emergentes do Commerzbank, You-Na Park, avalia que os investidores podem ter ficado otimistas demais com o cenário para o governo de Bolsonaro e agora pode haver espaço para decepção. Ela prevê uma pausa no rali recente no câmbio no Brasil e acredita que o dólar pode ir a R$ 3,90 nas próximas semanas, em meio a dúvidas sobre a agenda de medidas do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). A moeda só cairia para o nível de R$ 3,20 ao final de 2019 caso o governo consiga aprovar a reforma da Previdência, afirma a analista do Commerzbank, que tem sido uma das que mais acertam internacionalmente sobre as projeções da moeda brasileira. "Os mercados esperam muito de Bolsonaro e agora ele precisa confirmar que vai fazer reformas e que vai apoiar a agenda do economista Paulo Guedes", disse ela. "Vejo o risco de que as expectativas do mercado podem sofrer decepções."
O banco norte-americano Bank of America Merrill Lynch está mais otimista com o curto prazo. A previsão para o dólar ao final de 2018 foi cortada de R$ 3,90 para R$ 3,65 e para o ano que vem de R$ 3,88 para R$ 3,80. Os estrategistas destacam que agora o foco do mercado será na agenda econômica de Bolsonaro e seu futuro ministro Paulo Guedes.