Jornal Correio Braziliense

Economia

O que significa o recorde da bolsa brasileira registrado na quinta-feira?

Principal índice da B3 sobe 1,14% e fecha na máxima histórica de 88.419 pontos após ter alcançado patamar ainda maior durante o pregão. Investidor reage a cenário externo favorável e à confirmação de Sérgio Moro no Ministério da Justiça. Dólar cai

No último pregão da semana antes do feriado, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), renovou a máxima histórica de fechamento, ao alcançar 88.419 pontos, com valorização de 1,14%. No maior nível do dia, o indicador chegou à marca de 89.017 pontos, maior patamar já observado durante um pregão. Foi a quinta alta semanal consecutiva do índice. Segundo analistas, o desempenho positivo refletiu o cenário externo favorável e o anúncio, feito pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, de que o juiz Sérgio Moro, figura central da Operação Lava-Jato, será o novo ministro da Justiça do governo. Com o bom humor do mercado, o dólar encerrou a quinta-feira negociado a R$ 3,695 para venda, com queda de 0,78%.

No exterior, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse ter tido ;uma conversa muito boa; com o presidente da China, Xi Jinping, o que ajudou a afastar os temores de recrudescimento da guerra comercial entre os dois países. Também tiveram influência positiva os balanços trimestrais das empresas que compõem o Ibovespa. O Bradesco, por exemplo, divulgou lucro líquido recorrente de R$ 5,47 bilhões no terceiro trimestre, alta de 13,7% em relação ao mesmo período de 2017. As ações preferenciais do banco ficaram entre as mais negociadas no dia, com alta 5,71%.

Segundo dados da Economatica, o volume médio diário negociado na bolsa paulista neste ano, até 30 de outubro, foi de R$ 10,5 bilhões no mercado à vista ; valor recorde. Houve crescimento de 36,5% em relação a 2017, quando o valor foi de R$ 7,8 bilhões. Em 2002, início da série histórica da Economatica, a média diária de negócios era de R$ 466 milhões.

Espaço aberto

O economista-chefe da Modal Mais, Álvaro Bandeira, destacou o clima positivo no exterior como um dos principais motivos da euforia na bolsa paulista. ;O mercado esteve muito influenciado pelo cenário dos Estados Unidos, cuja economia está aquecida. A fala de Trump, relatando a conversa com Xi Jinping, também teve impacto, porque a área comercial é a principal preocupação do mundo. Já no cenário nacional, os acertos políticos, com a eleição de Bolsonaro, tornam o mercado muito volátil. O que o investidor quer saber é qual será a equipe, quais são as prioridades, a base de apoio, além da celeridade das reformas econômicas;, afirmou.

Na visão de Bandeira, ao atingir a máxima histórica, o Ibovespa abre espaço para novos recordes. ;Eu acho que é positivo, apesar de chamar a atenção para alguma realização de lucro, ou seja, venda de ações para materializar ganhos. Temos um quadro de maior consistência, embora, a curto prazo, seja de muita volatilidade. A tendência primária é de alta e de investidores voltando ao mercado. Isso tudo melhora a precificação do mercado acionário, com dólar mais fraco;, analisou.

Carlos Henrique Oliveira, consultor de investimentos, afirmou que o otimismo vivido ontem se deveu muito às perspectivas da composição da equipe e da transição para o próximo governo. ;Além da confiança trazida por vários fatores, como queda de juros futuros e depreciação do dólar, há a visão do mercado de que Paulo Guedes (futuro ministro da Economia) está fazendo um bom trabalho (na transição). O nome do Sérgio Moro, anunciado ontem, também é um selo de qualidade. O que percebo é que o mercado entrou em ritmo de lua de mel. Existe a sensação de que a transição governamental vai ser muito positiva;, disse. Oliveira ressaltou, porém, que o governo será testado em 2019. ;Isso só vai ser colocado em prova quando Congresso voltar do recesso de 2018;, previu.

Resistência

Para Sidnei Nehme, economista da NGO Corretora, apesar da queda, o dólar ainda esbarra na situação da crise fiscal do país, que o mantém no suporte de R$ 3,70. ;A nota do Banco Central (BC), depois da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na quarta-feira, foi bastante assertiva ao ter uma percepção correta de que a atratividade de países emergentes é menor, hoje, do que no começo do ano. O dólar tem um ponto de resistência e, enquanto tivermos um problema de crise fiscal e não aprovarmos as reformas, teremos desafios;, observou.

De acordo com Nehme, outro fator que pode esfriar o otimismo do mercado local é a atração de investimentos para os EUA com a reforma tributária promovida pelo governo Trump e o aumento previsível dos juros básicos da economia norte-americana pelo Federal Reserve (Fed, o banco central). O economista ainda explica que o comportamento da B3, ontem, deveu-se a fatores pontuais. ;A B3 pode até ir os 90 mil pontos. Você nota que num dia sobe e em outro cai, mas não sabe, exatamente, onde está o norte. Ontem, a divulgação do balanço trimestral do Bradesco animou o mercado, mas não há uma linha de conduta que sustente a Bolsa de forma linear. São fatores pontuais;, comentou.

Apesar da definição eleitoral, Jefferson Laatus, sócio analista do Grupo Laatus, vê um cenário ainda nebuloso no curto e médio prazo. ;O dólar vem trabalhando, há um certo tempo, no suporte dos R$ 3,70, com o mercado bastante sensível e atento a cada novo passo. Ontem, o cenário externo teve influência, principalmente pela Europa, com o euro subindo 1% e pressionando, naturalmente, o dólar para baixo. O petróleo também caiu forte;, relatou. De acordo com Laatus, ao olhar para o cenário doméstico, que está incerto, ;é inevitável considerar para a conjuntura internacional;.

* Estagiário sob supervisão de Odail Figueiredo