Economia

Quais são os melhores investimentos durante a transição entre governos?

Bolsa de Valores e dólar vão caminhar de acordo com o desenrolar das decisões do presidente eleito. Se futuro governo encampar de vez a reforma da Previdência, Ibovespa pode subir mais de 40% até o fim de 2019 e dólar, cair para até R$ 3,40

Gabriel Ponte*
postado em 03/11/2018 08:00

Depois de dois meses de campanha eleitoral e forte volatilidade na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) e no mercado de câmbio, os investidores tentam mapear o que serão os próximos meses e como as decisões do presidente eleito Jair Bolsonaro poderão afetar os ativos financeiros. De início, o escolhido pelas urnas não era o preferido dos donos do dinheiro ; a torcida era para Geraldo Alckmin, do PSDB ;, mas, aos poucos, o capitão reformado caiu nas graças dos investidores ao anunciar o economista Paulo Guedes, com formação na Escola de Chicago, berço do liberalismo, como chefe da equipe econômica do futuro governo.

Apesar de o discurso entoado até agora pelo presidente eleito seguir na direção esperada pelo mercado, a preocupação continua no radar. O vaivém nas declarações sobre a reforma da Previdência e as controvérsias em torno da possível recriação da CPMF, o imposto sobre transações financeiras, deixam todos em estado de alerta. Não sem razão, pois qualquer decisão fora do roteiro traçado até aqui pode resultar em perdas inesperadas.

A despeito da desconfiança, até agora, os donos do dinheiro têm dado um voto de confiança a Bolsonaro. Tanto que a bolsa paulista registrou grande valorização durante a campanha. Entre 15 de agosto e 28 de outubro, período que abarcou o início e o fim da disputa pelo Palácio do Planalto, o Ibovespa, índice que mede a lucratividade das ações mais negociadas no pregão paulista, computou valorização de 11,2%, superando os 80 mil pontos. No mesmo período, o dólar recuou 6,9%. Em setembro, quando eram maiores as incertezas em relação ao desfecho do processo eleitoral, a moeda norte-americana havia atingido R$ 4,19, o maior valor nominal desde a criação do Plano Real, em 1994.

Para os especialistas, se o governo de Bolsonaro conseguir levar adiante uma agenda reformista, começando por mudanças na Previdência Social, o dólar poderá recuar para um nível entre R$ 3,40 e R$ 3,50. Já o Ibovespa caminhará até os 125 mil pontos, o que, se confirmado, resultará em uma alta de 41% em relação ao fechamento da última quinta-feira, quando o indicador cravou os 88.419 pontos. Com a queda do dólar e a alta da Bolsa, viria a retomada do crescimento econômico. O Produto Interno Bruto (PIB) poderia avançar 3% ao ano, em média.

Infográfico com dicas para quem deseja investir

Ventos externos

O desempenho da Bolsa e do dólar, no entanto, não depende apenas das questões internas, avisam os especialistas. O quadro internacional está cheio de incertezas, sobretudo na maior economia do planeta, os Estados Unidos, onde as taxas de juros estão em alta e podem afetar o fluxo de recursos para nações emergentes como o Brasil. Também na Europa o clima não é dos melhores, devido aos graves problemas enfrentados pela Itália, que não consegue crescer e está com um grande deficit nas contas públicas, e ao conturbado processo de saída do Reino Unido da União Europeia. Outro ponto de preocupação é a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, os principais parceiros do Brasil.

Sendo assim, é preciso ficar muito atento. Um olho deve mirar o mercado interno. O outro, o exterior. Para Pablo Spyer, diretor de operações da Mirae Asset, a disputa eleitoral contribuiu para interromper o avanço da economia no país, mantendo-a travada até a definição das urnas. Mas não é só. ;O cenário exterior está conturbado. Lá fora, temos a expectativa de alta de juros dos Estados Unidos. O investidor também deve ficar ligado nas eleições para o Congresso norte-americano, que ocorrem na próxima terça-feira. Há possibilidade de a composição parlamentar resultar em dificuldades para o presidente Donald Trump, que, hoje, tem uma base sólida na Câmara e no Senado;, ressalta.

Na Europa, observa Spyer, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mário Draghi, sinaliza que mantém preocupações com a inflação, o que pode implicar juros mais altos na Zona do Euro. Por tudo isso, ele recomenda prudência aos investidores nos últimos dois meses de 2018. ;O momento é de cautela. Além da política local, temos realizações de lucros nas bolsas no exterior ; ontem, as ações das empresas de tecnologia derreteram em Nova York ;, o que demanda muita calma;, ressalta o analista. ;O cenário exterior é sofisticado e complexo. É preciso atenção de todos;, frisa.

Orientação

Outra questão importante: os investidores devem definir bem o que querem. Na Bolsa, é preciso escolher bem as empresas nas quais se vai investir. Para isso, é importante estar bem orientado por um profissional reconhecido. Há detalhes que só aqueles que acompanham o dia a dia das negociações conhecem. Isso quer dizer que o mercado de ações não é para aventuras. Os passos a serem dados devem estar embasados em informações seguras.

As empresas estatais, por exemplo, surfaram, nos dois meses de campanha eleitoral, em uma onda de otimismo, mas que deve arrefecer no momento. Segundo o consultor de investimentos Carlos Henrique Oliveira, é melhor esperar a definição da equipe econômica do governo Bolsonaro para saber em que direção irá o setor público. Sabe-se que Paulo Guedes comandará um superministério da Economia. Mas quem ficará no Banco Central? A torcida do mercado é para que o comando da instituição continue com Ilan Goldfajn, que deu forte contribuição para o controle da inflação e para a queda da taxa básica de juros ao menor nível da história, de 6,50% ao ano.

As ações preferenciais (PN) da Petrobras, que, em 15 de agosto, custavam R$ 19,05, saltaram para R$ 27,60 às vésperas do segundo turno das eleições, ou seja, tiveram valorização de 44%. As preferenciais da Eletrobras apontaram ganhos ainda maiores, de 47%, passando de R$ 17,68 para R$ 26. No caso das ações do Banco do Brasil, houve incremento de 31,3%, com os preços pulando de R$ 32,30 para R$ 42,42.

"O momento é de cautela. Além da política local, temos realizações de lucros nas bolsas no exterior, o que demanda muita calma;
Pablo Spyer, diretor de operações da Mirae Asset

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