Agência Estado
postado em 04/11/2018 16:48
Empresas norte-americanas dizem estar compensando os efeitos da escalada de tarifas comerciais para a China com aumento de preços ou mudanças em suas cadeias de fornecimento, mas elas alertam investidores que o cenário pode piorar no ano que vem.
Tarifas diminuíram o transporte de madeira e grãos, elevaram o custo de itens que vão de cabides para roupas a materiais pesados, além de terem comprimido margens para fabricantes de chips e ferramentas, entre outros impactos. Esses efeitos foram descritos em números e comentários de 75% das companhias da S 500 que divulgaram resultados ao mercado.
"O efeito negativo está espalhado", diz Binky Chadha, estrategista-chefe de ações Estados Unidos e Global do Deutsche Bank. Ainda assim, ele acrescenta, o impacto até o momento é modesto.
As preocupações com tarifas ocorrem em meio a sinais de desaceleração no crescimento dos lucros e vendas. Ganhos estão moderados e a performance é desigual. Analistas e economistas alertam para crescimento dos lucros ainda mais lento no próximo ano.
Em média, o lucro por ação das companhias do S 500 no terceiro trimestre está no caminho para crescer 27,1% na comparação com o mesmo período de 2017, marcando o terceiro trimestre seguido de ganhos acima de 25%, conforme dados da empresa de informações financeiras Refinitiv. Analistas acreditam que ao menos um terço desse ganho trimestral vem do corte de impostos, efeito que não deve se repetir no ano que vem.
As receitas das empresas do S 500 devem crescer 8%, ainda acima do normal para os últimos anos, mas mais lento que o ritmo dos últimos três trimestres.
Olhando para frente, analistas e economistas destacam que o crescimento da economia global desacelerou, particularmente na Europa e na China. "Provavelmente, parte disso é devido à imposição de tarifas e à guerra comercial", diz Chadha. "Mas parte disso já ocorreria de toda forma", acrescenta.
Companhias estão lidando com tarifas comerciais impostas à China, assim como com a imposição sobre as importações de aço, alumínio, madeira e outros.
Executivos e analistas mencionaram as tarifas e termos como "comércio chinês" ou "guerra comercial" cerca de 600 vezes em teleconferências de resultados de cerca de 130 das empresas do S 500, conforme levantamento do The Wall Street Journal por meio de transcrições retiradas do Factiva. Os termos foram usados ao menos seis vezes por ao menos um quarto das empresas.
Se as tarifas saltarem para 25% sobre as cerca de US$ 200 milhões de importações chinesas que hoje enfrentam tarifa de 10%, conforme ameaça o governo do presidente Donald Trump, isso poderia reduzir o crescimento das empresas do S 500 em 2 a 3 pontos porcentuais.
Algumas companhias já afirmam que as tarifas têm gerado redução na demanda por produtos enviados para a China a partir dos Estados Unidos. De acordo com a empresa de madeira, Weyerhaeuser Co, as exportações para a China caíram com a tarifa de 5% imposta em setembro, apesar da sólida atividade de construção no país.
A gigante do transporte férreo Union Pacific Corp. disse que o aumento sazonal no transporte de grãos não se materializou, em parte pelas tarifas chinesas.
A Caterpillar Inc. Afirmou que as vendas sofreram, e que suas operações de manufaturados em ambos os países reduziram a necessidade de exportação. Ainda assim, custos estão no piso da projeção feita pela companhia de cerca de US$ 100 milhões a R$ 200 milhões. No segundo semestre deste ano.
A fornecedora de uniformes Cintas Corp. Afirmou que está pagando mais por cabides de roupas por causa das tarifas, enquanto outros impactos têm sido limitados. "É algo que está começando a se proliferar", disse o diretor Financeiro J. Michael Hansen a investidores em setembro.
A Micron Tecnologia, empresa que vende espaço de armazenamento e memória de computador, afirmou que as tarifas podem reduzir sua margem bruta no primeiro trimestre. A mitigação dos danos deve levar tempo, disse o diretor Financeiro David Zinsner a investidores. "Vai levar um ou dois trimestres para que consigamos ver algum benefício", concluiu.
A Stanley Black & Decker Inc. disse que os preços de commodities e o Câmbio estreitaram margens operacionais. Dois terços das importações trazidas da China pela fabricante de ferramentas estão sujeitas a tarifas.
Algumas empresas afirmam que aumentar preços, como muitas companhias fizeram, leva tempo e nem sempre é possível.
A BorgWarner Inc., que vende componentes para fabricantes de carros e caminhões, disse esperar um custo de US$ 20 milhões com as tarifas e a inflação este ano. A empresa diz ter absorvido a totalidade dos custos até o momento. "Não repassados nada", afirmou o presidente Frédéric Lissalde. "Essas discussões levam tempo e estão acontecendo", concluiu. Fonte: Dow Jones Newswires.