Economia

Paulo Guedes nega intenção de renegociar a dívida pública

Para o futuro ministro da Economia, houve um 'mal entendido' nas declarações do presidente eleito Jair Bolsonaro

Rosana Hessel
postado em 06/11/2018 17:21
Paulo Guedes, economista, futuro ministro da Economia
O futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, descartou qualquer chance de renegociação da dívida pública. Segundo ele, houve um ;mal entendido; nas declarações do presidente eleito Jair Bolsonaro, quando ele tocou no assunto.

[SAIBAMAIS];Falei tantas vezes que os juros são recessivos que o presidente falou em renegociar a dívida pública. Está fora de questão. Não se pensa nisso. Isso não é um problema, a renegociação de dívida. Isso não existe;, afirmou Guedes, nesta terça-feira (6/11), em frente ao Ministério da Fazenda, onde se reuniu pela primeira vez após o resultado das eleições com o titular da pasta, Eduardo Guardia. ;O que existe é outra coisa. É uma preocupação com a dívida. Existe um descontrole sobre os gastos públicos;, acrescentou.

Guedes reforçou que a dívida pública está muito elevada e que o gasto do governo com os juros desse endividamento, de US$ 100 bilhões por ano, ;não é razoável;. ;O grande problema do Brasil nos últimos 30 anos é o descontrole sobre gastos públicos. Quando havia o descontrole de gastos públicos pagos através de emissão de moeda, o país foi para a hiperinflação duas vezes, no governo Sarney e depois no governo Collor. Aí entrou o Plano Real, paramos de emitir moeda, mas passamos a fazer um endividamento em bola de neve. Saímos tomando dívida interna;, explicou ele, acrescentando que a dívida interna hoje chega perto de R$ 4 trilhões. ;Durante a campanha eu falei que tinha uma despesa de juros demasiada. Não é razoável o Brasil gastar US$ 100 bilhões de juros por ano. Isso é se reconstruir uma Europa por ano;, sumarizou.

Na avaliação do futuro ministro, o novo governo vai atacar esse problema da conta de juros elevada, fazendo o que as empresas fazem, vendendo alguns ativos para não deixar a dívida continuar crescendo. ;Quando a Petrobras vendeu algumas subsidiárias e pagou os bancos, passou a valer 10 vezes mais. O país é a mais coisa;, afirmou ele, citando como exemplo de empresas que devem ser privatizada as distribuidoras de energia que estão sem capacidade de investimento, porque geram um ônus importante para as estatais. ;Isso não é bom para os governos federal e estadual e para Eletrobrás;, destacou.

De acordo com o Guedes, as privatizações serão feitas em ;ritmo acelerado; e, na hora que os recursos forem liberados, será possível fazer a reforma fiscal e do estado, com um novo pacto federativo, onde os estados terão uma participação maior no bolo. ;Nosso lema da campanha foi menos Brasília e mais Brasil;, frisou. Segundo ele, não será possível fazer a reforma do estado que o novo governo pretende sem atacar os grandes gastos públicos: os da Previdência e os juros da dívida.

Guedes destacou ainda que o modelo de capitalização da reforma da Previdência nunca esteve de lado, apesar de defender a aprovação da proposta do governo Michel Temer, que está parada no Congresso. ;Esse sempre foi o modelo da proposta. Mas vamos tentar aprovar primeiro o que é possível. O ótimo é inimigo do bom. Se pudermos aprovar o bom agora, tudo bom. Não é a reforma ideal. Tem dezenas de defeitos. É aquele avião velho cheio de bomba dentro;, destacou. Segundo ele, o presidente eleito tem os votos e a classe política tem a capacidade de aprovar ou não. ;Prensa neles. Pede a reforma. É bom para todo mundo. É bom para quem está saindo. É bom para quem está chegando;, resumiu.

Abertura

Além de falar repetidas vezes que a reforma da Previdência é a principal prioridade, Guedes defendeu também uma abertura comercial gradual, mas com uma simplificação tributária ocorrendo antes e, para isso, a unificação dos ministérios da Fazenda, do Planejamento e da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic) para dar lugar ao ministério da Economia, vai nessa direção.

;O ministro não tem superpoderes, pelo contrário. Os ministérios estão juntos para evitar superposição. A Fazenda não pode baixar os impostos se o Mdic não abrir a economia, por exemplo;, disse. ;Ao mesmo tempo, não posso soltar a competição estrangeira dentro do Brasil sem antes simplificar os impostos;, emendou.

Alternância de poder

Guedes afirmou que a alternância de poder no país é positiva, porque o Brasil é uma ;democracia emergente bem sucedida;, pois já passou por um impeachment de direita e de esquerda. ;Estamos em um longo processo de transição. O Brasil é uma democracia emergente. Começou agora a fazer uma transição para a centro-direita, que é importante. Não existe nenhum país saudável que tenha só esquerda no poder. Isso não é bom. A alternância de poder é importante. É uma historia virtuosa;, destacou ele, classificando que a imprensa no país é livre e os poderes independentes. ;Estamos em um momento absolutamente tranquilo;, afirmou.

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