Economia

Empregos que mais sofreram na crise devem brilhar no próximo ano

Setor da construção civil, comércio varejista, serviços e tecnologia são apostas de geração de vagas nos próximos meses. CNC prevê maior efetivação de temporários

Nelson Cilo
postado em 09/11/2018 06:00
Obras prediais devem ser retomadas no primeiro semestre do ano que vem, com abertura de postos de trabalho
São Paulo ;
Durante todo o ano, o empresário catarinense Luciano Hang dividiu seu tempo entre administrar as mais de 100 lojas da rede varejista Havan, dona de um faturamento de R$ 4 bilhões e 15 mil funcionários, e atuar como uma espécie de cabo eleitoral de Jair Bolsonaro (PSL), especialmente em vídeos publicados na internet e nas redes sociais.

Com a eleição definida, Hang afirma que agora tem outras duas missões: contratar e contratar. O empresário promete investir até R$ 500 milhões na expansão de sua empresa, com a abertura de outras 20 megalojas no próximo ano. Até 2022, a meta é ter 200 endereços. ;É hora de tirar os projetos de crescimento da gaveta para que o Brasil volte a crescer e saia da crise em definitivo;, diz. ;Chega de demitir e cortar gastos. Vamos investir, ampliar e contratar como nunca.;

A ofensiva de Hang reflete um movimento crescente no varejo. A Riachuelo e a C, as maiores do segmento de roupas, já confirmam que criarão novas vagas. ;Contratamos aproximadamente 7,5 mil temporários no ano passado e devemos ampliar em 5% esse número em 2019;, informou a Riachuelo. Os novos empregados preencherão, principalmente, vagas para auxiliar de logística, assistente de vendas, auxiliar de estoque e operador de caixa. Na C, os empregos deverão atender à alta da demanda da Black Friday, no fim deste mês, e para o Natal. Parte desse contingente ajudará a compor o quadro de funcionários fixos em 2019.

A Confederação Nacional do Comércio (CNC) projeta que 19% dos trabalhadores que entrarem agora serão efetivados após o fim do ano. Além disso, há um clima mais favorável alimentado pelos números do Ministério do Trabalho e Emprego. De janeiro até outubro deste ano, o Brasil gerou 719.089 vagas com carteira assinada, segundo o MTE. No acumulado em 12 meses, são 459.217 postos. Se mantiver a tendência no encerramento do atual exercício, o país breca uma sequência de três anos de queda ; entre 2015 e 2017, foram perdidos mais de 2,88 milhões de empregos formais, em todos os setores, com exceção da agropecuária.

Assim como o varejo, o mercado da construção promete voltar a ser a locomotiva da geração de vagas em 2019. Como a turbulência econômica fez com que os consumidores adiassem a decisão de comprar um imóvel novo e obrigou as construtoras a adiar lançamentos, os canteiros de obras ficaram escassos. ;O emprego foi afetado, porque percebemos claramente que os projetos foram represados neste ano;, diz Luiz Antonio França, presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc). ;O mercado voltará a crescer forte em 2019, principalmente no primeiro semestre, com a empolgação do mercado com o novo governo;, acrescenta Leonardo Paz, CEO da Imovelweb.

No varejo, a perspectiva de reaquecimento da economia anima empresários a investir em novas lojas e na ampliação das contratações

Na carona do varejo e construção civil, o setor de tecnologia da informação também deve impulsionar a criação de empregos. ;O movimento de contratações, que está há anos aquecido no nosso setor, com certeza está mais intenso agora; diz a professora da FGV Anna Cherubina. Segundo ela, as vagas são expressivas em termos de quantidade e qualidade.

A consultoria Catho, uma das principais em classificados de emprego na internet, endossa a afirmação da professora da FGV. Com base nos dados do Ministério do Trabalho e Emprego, as vagas para profissionais de TI cresceram 22% nos doze meses, com alta média de 6% nos salários. Para o gerente de inteligência da Catho, Fabrício Kuriki, o aumento sinaliza uma tendência crescimento de contratações, principalmente de engenheiros da computação, diretores de sistemas, especialistas em informática e gerentes de TI.

Há vários outros exemplos. A Almaviva do Brasil, uma das principais empresas do segmento de contact center, gestão de relacionamento com os clientes e trade marketing, anunciou a contratação de quase 700 funcionários para sua unidade em Teresina, no Piauí. A ampliação de pessoal é necessária para atender a um grande player de telecomunicação do país, que passa a contar com os serviços da companhia, segundo a empresa.

Projetos

A Zona Franca de Manaus, que observou empresas locais promoverem demissões em massa nos últimos anos, está com mais de 5 mil vagas abertas neste mês, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do Amazonas (Sindmetal). De acordo com o presidente da entidade, Valdemir Santana, no Polo Industrial de Manaus (PIM) as empresas de eletrônicos e as novas fábricas de lâmpadas de LED estão liderando esse movimento.

Na Zona Franca de Manaus, existem hoje 5 mil vagas de emprego abertas, segundo o sindicato dos metalúrgicos

;Uma série de vagas que haviam sido congeladas e projetos que tinham sido colocados na gaveta estão sendo retomados, estimulando novas contratações;, explicou a gerente de recrutamento da Robert Half, Isis Borge, destacando que há uma grande procura por profissionais de vendas, compras, controladoria, marketing e do setor financeiro, em funções como analista de crédito e risco.

A recuperação do emprego também é resultado do crescimento do empreendedorismo, segundo o Sebrae. Um levantamento da entidade constatou que, só em setembro, os pequenos negócios geraram 85,8 mil novos postos de trabalho no mercado, 37% a mais no comparativo do mesmo período levantado no ano passado. É inegável a força dos pequenos negócios para a geração de empregos no Brasil. As pesquisas só confirmam que o micro e o pequeno empresário devem ser prioridade nas políticas públicas, porque somente pelo fortalecimento do empreendedorismo é que o país terá chance de voltar a crescer;, afirma o presidente do Sebrae, Guilherme Afif Domingos.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação