Natalia Viri
postado em 12/11/2018 06:50
São Paulo ; A Estácio, segundo maior grupo de ensino superior do Brasil, bem que fez a lição de casa: as despesas por aluno caíram no terceiro trimestre, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) subiu 26% e a empresa vai pagar aos acionistas dividendo extraordinário de R$ 400 milhões ; o primeiro na história da companhia. No acumulado dos nove primeiros meses do ano, conseguiu converter 63% de seu Ebitda em caixa, um recorde.
Não adiantou. A captação de alunos no ensino presencial despencou 25% de julho a setembro, reduzindo em 10% a base de estudantes dessa modalidade e impôs o maior desafio do setor de educação superior na Bolsa: sem o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), trazer os alunos para a sala de aula vem se provando um desafio cada vez mais hercúleo para as empresas do setor de educação.
Na semana passada, as ações da Estácio chegaram a cair quase dois dígitos. ;Tem um trabalho importante de eficiência e corte de custo que eles vêm entregando lá dentro;, diz um gestor do Leblon. ;O problema é que, com a captação em queda livre, a receita contratada para frente é péssima. Até onde dá para gerar valor numa empresa que encolhe?;
A resposta não é simples. Sem o financiamento estudantil, ;preço; virou o nome do jogo. Enquanto os concorrentes praticam descontos agressivos, a Estácio preferiu focar nas margens. Resultado: o número de alunos ;mensalistas; ; aqueles que pagam a mensalidade cheia, sem o financiamento do Fies ; caiu 24% no último trimestre.
Programa próprio de financiamento está estancando em parte a sangria, mas torna os resultados cada vez mais difíceis de ser lidos até para os analistas que acompanham de perto os negócios da Estácio e o setor da educação. Dos 32,8 mil alunos considerados mensalistas captados pela Estácio, 30 mil vieram do DIS, um programa de desconto nas duas primeiras mensalidades, em que o aluno paga R$ 49 nos dois primeiros meses e o restante é parcelado ao longo do curso.
Mas essa é também uma equação difícil de se resolver. Pelas regras de contabilidade, o valor cheio dessas mensalidades é contabilizado na matrícula, ainda que a conversão em caixa só ocorra bem mais à frente. Com isso, a receita da Estácio subiu 5,5%, mas, pelas contas de analistas, teria caído 4%, se descontadas as matrículas feitas pelo sistema DIS, que, afinal, só serão pagas ao longo dos próximos anos.
As dificuldades não afligem apenas a Estácio. A Ser Educacional divulgou, na semana passada, seus resultados com queda de 8% na captação de alunos presenciais, enquanto a taxa de evasão aumentou. A Kroton também vem apanhando na Bolsa ; no ano, a queda de suas ações está em torno de 40%.
Na empresa comandada por Rodrigo Galindo, a receita está de lado e a geração de caixa vem despencando. A Kroton, líder com folga entre as empresas de ensino superior do Brasil, tem um programa abrangente de financiamento de mensalidades, em que os alunos terminam de pagar depois do curso ; mas, assim como no DIS da Estácio, contabiliza essa receita na frente, fazendo uma provisão para potenciais perdas.
;Se na Estácio, onde há espaço para ganho de eficiência, a situação é difícil, imagine na Kroton que já trabalha direitinho e não tem mais onde cortar custo?;, questiona um gestor. Uma das apostas das gigantes do ensino superior privado é a educação a distância (EAD). Em 2017, segundo dados do Ministério da Educação, quase 1 milhão de pessoas ingressaram nessa modalidade, um recorde. Há uma década, só 4% dos universitários eram adeptos do EAD. Atualmente, o índice está em torno de 20% ; e certamente aumentará muito mais.
As empresas estão de olho no novo segmento. No início de 2019, a Estácio vai oferecer mais de 90 cursos a distância, e suas concorrentes não devem ficar atrás. Com o estímulo do presidente eleito Jair Bolsonaro, que aposta no EAD para combater os gargalos educacionais do país, as instituições de ensino avaliam que esse é um caminho sem volta.