Bruno Santa Rita*
postado em 13/11/2018 19:44
O comércio varejista teve recuo de 1,3% em setembro, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo especialistas, a baixa confiança do consumidor para conseguir crédito e o desemprego são os principais motivos para o desalento no setor. O resultado para esse mês é o pior em 18 anos.
O acumulado dos últimos 12 meses também registra perda de ritmo de vendas. O indicador passou de 3,3% em agosto para 2,8% em setembro. A depressão do setor veio após alta de 2% no mês de agosto. Segundo o economista sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, Fábio Bentes, a expressiva queda fica mais evidente ao se comparar os resultados com o mês anterior. "Em agosto, tivemos o pagamento do PIS/Pasep que aqueceu o comércio", explicou.
No entanto, o pagamento do recurso para os cotistas não foi suficiente para garantir um reaquecimento completo do setor. Além disso, Bentes apontou uma oscilação nas vendas varejistas como um prognóstico para os próximos meses. Por fim, ele acredita que o cenário econômico brasileiro ainda prejudica o setor. "O desemprego e as altas taxas de juros para empréstimos de crédito são fatores que não evoluem de forma satisfatória para fazer com que o comércio engate;, analisou.
A projeção para o ano que vem é positiva, segundo o economista. O crescimento previsto de 2,5% para o Produto Interno Bruto (PIB) e a baixa inflação podem servir de combustível para o consumo. "O varejo deve crescer um pouco mais para o ano que vem. A economia projeta um cenário bem positivo. Além disso, a reforma trabalhista também pode ajudar, na medida que o novo governo consiga destravar investimentos privados", ressaltou.
Já o professor de economia e pesquisador da Unicamp Felipe Queiroz também entende que a reforma trabalhista, no fim das contas, atrapalhou o comércio varejista. "Quando a reforma foi efetuada, disseram que a medida aumentaria o número de contratações. Isso geraria um vigor no mercado, mas o que ocorreu foi a precarização da força de trabalho, o que mascara a condição do desemprego no país. Isso gera desalento para o setor", disse.
O professor ainda explicou que o aumento de renda para a população mais carente é convertida mais facilmente em consumo. "Quando já se tem um salário alto e recebe um aumento, a tendência é poupar ou investir. Para os mais pobres, esse dinheiro vai ser convertido no consumo de itens importantes para a família", citou. Queiroz também criticou a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do teto dos gastos, que congelou os investimentos públicos por 20 anos. Segundo ele, esse congelamento afeta, também, os reajustes que, por sua vez, compromete o poder de compra e consumo das pessoas.
* Estagiário sob supervisão de Roberto Fonseca
* Estagiário sob supervisão de Roberto Fonseca