Economia

iFood terá R$ 1,9 bilhão em investimentos até o fim de 2019

Com o aporte, a Movile, controladora do aplicativo de comida, pretende investir em ganhos com inovação e colocar em prática tecnologias como o serviço de voz para fazer pedidos

Paula Pacheco/Estado de Minas
postado em 14/11/2018 06:00
Sede do iFood em Campinas (SP): empresa poderá triplicar dentro de um ano e meio o número de restaurantes, atualmente em 50 mil
São Paulo ; A Movile anunciou ontem que fará até o final de 2019 o investimento de, no mínimo, US$ 500 milhões (cerca de R$ 1,909 bilhão) na sua principal operação, o aplicativo de pedidos de comida iFood. O aporte, feito pelos sócios da Movile ; o fundo Inova Capital, do empresário Jorge Paulo Lehman, e a Naspers, um conglomerado de mídia da África do Sul ;, poderá ser ainda maior. Tudo vai depender de negociações que estão em andamento para atrair mais capital de novos sócios, o que deve ser definido em até dois meses.

Os nomes são mantidos em segredo, mas Fabrício Bloisi, presidente da Movile, falou durante encontro com jornalistas que está conversando com ;grandes players globais para o round ser ainda maior;. Do valor já acertado, US$ 100 milhões já estavam no caixa da companhia e o restante veio de um novo aporte dos investidores.

O investimento bilionário será destinado, prioritariamente, à ampliação da operação do iFood no Brasil, onde foi fundado em 2011. Mas uma parte menor dos recursos (valor não divulgado) será destinada às operações na Colômbia e no México. A estratégia dos gestores da companhia prevê aportes nas áreas de logística, de tecnologia, fusões e aquisições.

Se os planos de Bloisi saírem de fato do papel, o iFood poderá triplicar dentro de um ano e meio o atual número de restaurantes, 50 mil (eram 27 mil há 12 meses), e dobrar o volume de entregadores, hoje ao redor de 120 mil (88% de crescimento em relação a outubro de 2017) apenas na operação brasileira. Com esse plano ambicioso, o executivo espera dar ao aplicativo o status de liderança mundial. ;Queremos construir um líder global a partir do Brasil e mostrar que dá para fazer coisas legais aqui;, disse.

Internacional


O anúncio de ontem, segundo Bloisi, foi até o momento o maior aporte de capital em uma empresa de tecnologia da América Latina. Hoje, o iFood é apontado por seus investidores como a quarta maior operação do gênero no mundo, perdendo para competidores com atuação nos mercados da China, Índia e Estados Unidos. Esses países têm feito parte dos roteiros de viagem dos executivos da Movile, que buscam informação e inspiração para melhorar a operação brasileira.

Além do tamanho populacional, a China chama a atenção do mundo da tecnologia por conta da evolução rápida em seus sistemas de pagamento e no varejo on-line. Os consumidores estão cada vez mais conectados e o cartão de crédito está praticamente aposentado, o que pode apontar alguns caminhos para empresas como o iFood, que pensam na internacionalização de forma consistente.

Com o aporte bilionário, Bloisi acredita que também deverá dobrar o número de cidades atendidas no Brasil ; atualmente são 483, menos de 10% do total de municípios. Mas, além do crescimento acelerado, o presidente da Movile promete melhorar o serviço, reduzindo o tempo de entrega dos pedidos e o valor gasto pelos clientes. Ele acredita ser possível convencer os brasileiros a trocar a cozinha de casa pelo smartphone, mesmo com o problema de queda no poder aquisitivo da população e o elevado nível de desemprego.

O executivo espera ainda melhorar a oferta de serviços para os usuários do aplicativo. Isso deve acontecer conforme avançarem as pesquisas na área de inteligência artificial e permitirá melhorar a oferta de restaurantes de forma mais direcionada, levando em consideração o perfil de quem pede a refeição. O software aprende mais sobre as preferências do consumidor à medida que ele utiliza o serviço e assim pode fazer promoções e sugestões personalizadas. ;Fomos pioneiros em mobile e agora seremos em inteligência artificial;, garante. Para Bloisi, o Brasil ainda é muito carente em pesquisas nessa área, o que precisa ser revisado caso o país queira aumentar a projeção de suas startups no cenário mundial.

Grandes números


No mês passado, o iFood fez cerca de 12 milhões de entregas no Brasil ; 138,8 a cada segundo. Por ano, a empresa tem crescido a uma taxa média de 140%. A GrubHub, maior empresa desse segmento nos Estados Unidos, que vem crescendo cerca de 40% ao ano, divulgou, recentemente, que faz uma média de 416 mil entregas diárias, enquanto que o aplicativo brasileiro está na casa dos 390 mil pedidos atendidos e 9,1 milhões de usuários ativos.

Segundo Bloisi, o aumento da concorrência no mercado nacional não chega a ser motivo de preocupação. O iFood, diz, é 16 vezes maior que o segundo colocado e 20 vezes maior que o número 3. Apesar da aparente tranquilidade, a companhia não pretende descuidar. Tanto é assim que parte dos US$ 500 milhões terá como destino a aquisição de concorrentes, como a que foi feita há cerca de três meses com a compra da Pedido Já. No passado, adquiriu a HelloFood e a RestauranteWeb.

Apesar de todos esses movimentos e planos, Bloisi não fala qual é o valor de mercado do iFood. O que ele garante é que a empresa já passou a fase de ;unicórnio; ; quando uma startup é avaliada acima de US$ 1 bilhão ; desde março do ano passado e a Movile como um todo chegou ao mesmo patamar há quase dois anos. É uma filosofia da Movile não sobrevalorizar esse critério. Em seu material de divulgação e nas conversas com jornalistas, seus executivos costumam dizer que ;sonham muito maior.;

Em entrevista em agosto, Eduardo Henrique, diretor de Novos Negócios e cofundador da Movile, disse ao Correio Braziliense: ;Não falo de valuation ou de abertura de capital. O conceito que eu gosto é de 1 bilhão de usuários felizes. É para isso que trabalhamos, fazemos planos de fusões e aquisições. Não pensamos pequeno. Queremos criar uma empresa global de US$ 15 bilhões, US$ 20 bilhões, US$ 30 bilhões. Esse é o nosso caminho;. Na ocasião, ele lembrou o tamanho do potencial do mercado brasileiro e como a tecnologia poderá ajudar no crescimento. No negócio da alimentação, 95% das encomendas são feitas por telefone e apenas 5% por aplicativos.

Segundo Carlos Moyses, CEO do iFood, há muito espaço para avançar. ;Estamos animados com o potencial do mercado brasileiro. Hoje, da forma que crescemos, não canibalizamos as operações feitas pelo atendimento telefônico pelos próprios restaurantes, mas sim trazemos novos clientes.;

Ao final da apresentação dos dados para um pequeno grupo de jornalistas, Bloisi convidou a todos para o almoço. Mas, apesar de comemorar os números atuais e os planos agressivos de expansão, as refeições não foram pedidas pelo aplicativo. Restou ao executivo lamentar, um tanto acanhado: ;Não pediram o almoço pelo iFood?;.

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