Economia

Mercado aprova os nomes da nova equipe econômica de Bolsonaro

Apesar de alguns nomes escolhidos para equipe econômica do futuro governo não terem experiência pública, analistas apostam que economistas são adeptos da redução de gastos e da austeridade fiscal

Rosana Hessel, Marília Sena*, Hamilton Ferrari
postado em 17/11/2018 07:00
Os escolhidos

Paulo Guedes
Paulo Guedes ; O ;guru; de Jair Bolsonaro na economia é considerado um excelente nome pelo mercado. Apesar de não ter experiência na vida pública, investidores avaliam que ele terá condições de coordenar a agenda de reformas macroeconômicas. Assumirá o Ministério da Economia.

Roberto Campos Neto
Roberto Campos Neto ; Deve dar continuidade ao trabalho de Ilan Goldfajn na Presidência do Banco Central. Com 49 anos, começou a carreira na década de 1990, no Banco Bozano Simonsen. Desde 2010 ocupa a diretoria do Banco Santander. Não tem experiência na vida pública.

Joaquim Levy
Joaquim Levy ; Futuro presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), teve passagens pelo setor privado e pelo público. Comandou o Ministério da Fazenda, no governo Dilma Rousseff, mas não completou 12 meses no posto. É diretor do Banco Mundial.

Mansueto Almeida
Mansueto Almeida ; O atual secretário do Tesouro Nacional continuará no cargo. Ao contrário dos outros, tem larga experiência no setor público e é considerado um grande conhecedor do Orçamento federal. Assumiu a secretaria em abril por indicação do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles.

Assim como o atual presidente Michel Temer, o próximo comandante do Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro, conseguiu agradar o mercado com a escolha da equipe econômica. O novo time encarregado de realizar mudanças estruturais no país em 2019 é visto com confiança pelos investidores, mesmo com a nomeação de pessoas sem experiência na vida pública. A avaliação dos analistas é de que os economistas têm posição favorável à redução dos gastos e à austeridade fiscal, mas a relação com o Congresso Nacional ainda é duvidosa.

A impressão positiva dos investidores é similar à que ocorreu em 2016, quando Temer criou o ;time dos sonhos;. O movimento foi registrado nos mercados, com a queda do dólar e a alta do Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3). (Leia mais na matéria abaixo). Nos últimos dias, foram confirmados Roberto Campos Neto, como futuro presidente do Banco Central (BC), e que Mansueto Almeida, continuará como secretário do Tesouro Nacional.

Segundo Daniel Xavier, economista-chefe da DMI Group, os nomes sugerem continuidade da política econômica atual. ;O BC manterá seu compromisso com as metas inflacionárias e deve aprofundar a concorrência bancária, bem como sua independência formal. Já o ajuste fiscal continuará a ser capitaneado por Mansueto;, afirmou.

Além dos dois, agradam ao mercado os nomes do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, e do próximo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Joaquim Levy. ;Esses economistas garantem à equipe econômica, um perfil alinhado com a agenda preferida pelo mercado. Esses nomes sinalizam que o novo governo já começa com gente que está familiarizada com os detalhes importantes para o funcionamento da economia e dos principais processos que são necessários para ajustar o deficit público e manter a política monetária em estado de eficiência;, defendeu o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Pedro Paulo Silveira.

Para Edward Glossop, economista da Capital Economics para a América Latina, a notícia de que Joaquim Levy será o presidente do BNDES da administração de Bolsonaro manterá a confiança do investidor na agenda de reformas do novo governo. Segundo ele, Levy ganhou reputação de ortodoxo em suas duas passagens pelo governo, entre 2003 e 2006, quando foi secretário do Tesouro Nacional do governo Lula e em 2015, época que assumiu o Ministério da Fazenda. ;O desafio de Levy será melhorar a alocação do crédito no mercado. Isso parece pequeno, mas um movimento positivo do novo governo nessa área pode impulsionar a produtividade do Brasil;, explicou.

Relação política

Mas para aprovar as reformas estruturais, como a da Previdência, a equipe de Bolsonaro precisará manter diálogo com o Congresso e ter articulação para convencimento dos parlamentares. De acordo com analistas, o futuro governo deve ter a grande maioria nas Casas Legislativas, mas a relação dos economistas com os políticos ainda é incerta. Eles defendem que é preciso evitar desgastes, como o ocorrido quando Paulo Guedes disse que era preciso uma ;prensa; para aprovar a reforma.

O discurso gerou reações negativas dos parlamentares. Apesar disso, a equipe de transição defende que o próximo governo tende a ouvir mais os deputados e senadores, respeitando o Poder Legislativo. Para Paulo Calmon, professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), o fato de Bolsonaro ter nomeado uma equipe sem experiência pública faz com que o futuro da atuação política seja incerta.

Mesmo assim, ele avalia que o futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, encarregado de fazer a mediação entre o Planalto e o Congresso, poderá desempenhar um bom papel de articulador. O professor Geraldo Tadeu do Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisa da Democracia (CEBRAD) disse que o perfil da nova equipe tem um viés ideológico muito nítido e isso pode atrapalhar nas negociações políticas. ;Eles vão ter de aprender a dialogar na prática, são pessoas que têm opiniões muito nítidas, isso pode trazer muita dificuldade;, afirmou. O cientista político concorda que Lorenzoni é a pessoa mais preparada do futuro governo para as negociações, mas ressaltou que ainda há limitações. ;Não pela pessoa, mas o que ele é capaz de entregar, não adianta ter bom negociador se ele não está disponível;, explicou.

* Estagiária sob supervisão de Rozane Oliveira

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